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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

DUETO: José Geraldo Martinez & Regina Coeli


Bela Arte de Simone Czeresnia



















UMA FOLHA SECA !
José Geraldo Martinez

Uma folha ao vento quisera ser
de um frondoso Jequitibá.
Deixaria o vento me levar...
por sobre meu recanto e depois
no infinito que Deus quisesse,
onde ninguém se
importaria com uma costumeira ventania,
senão os meninos com suas pipas
no céu que avermelharia !
Poeira na estrada...
caminho de boiada.
Passaria nas janelas, beijaria as cortinas
e roçaria as verdes campinas...
Uma pequenina folha seca !
Cruzaria rios e cercas,
subindo por sobre o mar em rodamoinho,
voando com os passarinhos em alegria...
Poderia ser, ao som de Ade Schubert, Ave Maria !
Por vezes, deixando o rio me levar
e até à encosta me entregar.
Esperar o sol me secar  e voar , voar...voar !
Chegar no outono do Central Park,
depois , aos gramados ingleses.
Em qualquer lugar da Suécia.
Viajar o mundo pequenino,
bolinha azul perdida no espaço...
Às ruínas da antiga Grécia !
Um breve repouso sobre as
pontes pequeninas na Holanda,
em Bruges, na Bélgica .
Brincaria nas savanas africanas ,
subiria as escadas romanas,
ao infinito que Deus quisesse...
O mais longe que pudesse !
Uma pequenina folha seca
de um frondoso Jequitibá...
Até um dia voltar
por sobre o céu oceânico ...
Ao chão, suave, pousar na terra
de qualquer roceiro
e tornar-me adubo orgânico !
Ajudar brotar a vida em meu
derradeiro descanso, ao morno
banho de sol...
em baixo de um Jequitibá,
em meio a um grande campo
de girassol !
Uma folha ao vento quisera ser...
Sem nada em comum e que todos a levassem, com bem querer,
aos sonhos de qualquer um...




UMA FOLHA SECA !
Regina Coeli Rebelo Rocha

Folha qualquer sou eu...
Seca, despencada, caída
no chão, pisada e pelo vento varrida...
Folha do galho expulsa, largada
Função chegada ao fim, terminada
Folha quase morta, serei eu?...

Folha qualquer sou eu...

Ciclo acabado, perdi o rumo
Na rua, no lixo, quase sumo
O que faço, perdi meu passo!
Sou folha solta, sem laço
Folha quase morta, serei eu?

Folha qualquer sou eu

No chão acabei, não voei
Quis subir, falhei...
Tentei, não consegui
Cansada, finalmente adormeci...
Folha quase morta, serei eu?

Dormindo... sonhei

Sonhei que eu era uma folha tal
Seca, mas uma folha muito especial
Lá do alto de um frondoso jequitibá
Uma folha com vontade de voar
Voar, voar livre, sem lei... E... voei!

Voando, voando em alturas altas

Apreciando todos os lugares
Cruzando ares e azulados mares
Atravessando prados e campinas
Avistando flores ainda meninas
Eu era uma folha argonauta!

Eu era uma pequenina folha livre

Libertando voos tão sonhados
Voando sem tempos marcados
Brincando com os passarinhos
novatos, ainda em seus ninhos...

Eu era uma folha-viajante

Sem malas ou bagagens
Eu era uma folha-coragem
Segura na cauda do vento
Sem lenço, sem documento...

Eu era uma folha feliz

deslizando sobre os rios
que mais pareciam colchas em fios
fiados com raios de sol e à luz do luar
convidando uma folha pra deitar...

Até que cheguei a um campo

de girassóis... tão cheio
coroando todos os guardados anseios
de uma alma-folha sonhadora
de prazeres do ar, catadora...

Plantado imponente no meio das flores

Ele, meu supremo prazer...
Um pé de jequitibá?! Não havia de ser!...
Aos seus pés eu ia cair...
Folha seca, úmida de vida, pronta pra dormir...

Então, folha seca e caída que eu era

acordada fui pela vassoura de um gari
que nem sabia que eu estava ali...
Não sabia do meu sonho nem de mim...

Não me ouviu chorar baixinho

suplicando por um cantinho
por um derradeiro lenitivo balsâmico:
qualquer pedacinho na terra
pra virar adubo orgânico...

Pela rua fui varrida, sofrendo ...

Fui-me rasgando e desaparecendo
Pedaços de mim se espalhando
Memórias pelo chão iam ficando
 Sonho acabando, chorei...
Finalmente...
...
... acabei!

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