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terça-feira, 1 de novembro de 2016

LEVEZA




O que fui, não mais eu sou
Num hoje que temperou
O eterno vaivém do mar
A quem contei meus desejos,
A quem entreguei mil beijos
Nas ondas dos realejos
Musicando o meu cantar. 

Os pesos que carreguei
Na terra sem prumo e lei,
Hoje não carrego mais,
Que é Tempo de ser feliz
Num passo ainda aprendiz
Seguindo o sábio que diz
Que a Vida recende a Paz.

Se lágrimas eu calei
E outras tantas derramei
Querendo apenas amar,
Eu amei, mas tanto, tanto,
Que de amar ainda me encanto
E faço desse meu canto
Arrimo pra me escorar.

Dos meus sonhos tão puídos
Fiz versos agradecidos
Regados a fantasia,
E a realidade matreira,
Que se finge verdadeira,
Deixei-a de lado, à beira
Dos barrancos de agonia. 

Braços livremente abertos,
Sentidos mais que despertos
Pra abraçar o que vier,
No mar navego serena
Em minha nau tão pequena,
Ouvindo a brisa tão plena
Segredar-me o que quiser.  

O peso que me pesou
Foi o que me resgatou 
Neste final de viver:
Aprendendo a suportar,
Meu troféu é caminhar
Olhando o céu e o luar
Rumo a um novo alvorecer...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
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domingo, 25 de setembro de 2016

O QUE BUSCO? - II -


(imagem da internet)


O QUE BUSCO?
II

Buscar da noite os frescores,
quisera muito buscar
os senões dos dissabores
na refrescância do ar

Por trás das sombras busquei
reencantar minha esperança
tonta na fuga da lei
que a minha mão não alcança

O que buscar afinal
se os olhos de tão fechados
ignoraram o real
resistindo, ensimesmados?

Buscar o quê, num escuro
só de luzes costumeiras?
Quem sabe, depois do muro,
morem águas traiçoeiras?

Buscar... busquei... buscaria
uma nota pra canção,
uma rima à poesia
alimento ao coração...

Busca em busca volitei
nas asas brancas da noite
buscando desmascarei
a minha dor, meu açoite

No choro vi temperança
e na busca enalteci
a lágrima da bonança
que no silêncio verti

Toda busca tem sua glória;
com cicatrizes na alma
escreve-se uma história
na dor que dói, mas se acalma

Solfejo as notas do vento
buscando inscrever em mim
a busca no pensamento
de uma só flor ser jardim 

A noite, indelével abrigo,
eu a irei sempre buscar.
Sempre à noite estou comigo
buscando-me, a procurar...



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O QUE BUSCO?




(imagem da internet)



O QUE BUSCO?
I

Busco muito, mas um nada
frente ao tanto que busquei;
busco o final de uma estrada
cujo início já pisei

Busquei ontem, busco agora
o que ainda não achei
num minuto e numa hora
quando em mim me extraviei

Eu sou busca e buscarei
no tom da noite e no dia
a escrava que alforriei
buscando a minha alforria

Na busca do que busquei
não tem ouro nem tem prata,
não tem desmando da lei
e nem mentira ou bravata

Buscando a busca, busquei
entender-me mais na Vida;
foi buscando que encontrei
chegada sendo partida

Busquei o som indizível
na ternura de um olhar,
quis buscar o que é sensível
e que está a nos buscar

Perdi-me no meu buscar;
por tanto buscar perdi,
mas no tempo em seu passar
busquei, passei e entendi 

Se a busca é o meu saciar,
mais e mais eu buscarei
buscando o mais pleno amar 
pra amar o que não amei

Busquei a flor que sonhei
tanto a amei com meu carinho
que quando em mim a plantei
flori meu próprio caminho

O peito cheio de flores,
caminho e busco chegar
à noite com seus frescores, 
que o sol já vem me buscar!

domingo, 3 de julho de 2016

CANTOS E ENCANTOS




Se há encanto no canto
E se o canto se encanta
De o seu canto encantar,
Então que eu cante o canto
E que o encanto que eu cante
Seja só para te encantar.

E se por encanto o meu canto,
em desencanto, 
ficar mudo num canto
sem cantar nem encantar,
que eu cante e recante
os meus mais sentidos cantos  
para o desencanto desencantar.

Quando se canta
e se quer sempre cantar
o canto não emudece,
não desencanta.
Quanto mais se canta,
mais se quer cantar,
porque a Vida sem canto
não vale a pena se levar!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_______


sexta-feira, 1 de julho de 2016

A MINHA ROSA - Regina Coeli / A TUA ROSA - Giovanni B. Finetti



















AMINHA ROSA 
            Regina Coeli

  

Uma rosa assim tão bela
Imaginei na janela
Numa noite de luar
Com o céu cheio de lume
No ar um doce perfume
E um casal a namorar.

Construí minha ilusão
Esquecida de que o chão
Pra rosa desabrochar
Precisava ser cuidado
E o mato ser arrancado
Pra ela poder vingar...

E que pra ser mais cheirosa
A minha flor, minha rosa,
Viria de mãos gentis
Que me presenteassem a flor
Com fita e laço de amor
Do jeito que eu sempre quis...

Nada disso aconteceu
Acho até que a flor morreu
Ainda pequenininha,
Não tendo cuidado e água,
Quem sabe cheia de mágoa
Murchou por viver sozinha.

Não sabes quanta emoção
Receber da tua mão
Essa gentileza em flor
Que me deixa tão feliz
No rubro do seu matiz,
Minha preferida cor.

Vens com ares de quimera
Numa nova primavera
E eu te dou o meu sorriso
Esculpido com paixão
Nas dores do coração
Que dão-me hoje o paraíso.

Se trazes a mim a rosa,
Pondo um fim à espera ansiosa
De eu me sentir flor amada,
É pra ti o meu desejo
De dar na tua boca um beijo
E ser tua namorada.
  








A


TUA ROSA
Giovanni B. Finetti





Esperei por este dia
pra ser tua companhia
e te ofertar uma rosa
com um requintado olor
das mãos de um sonhador
que te tem por preciosa.

Cultivei-te no meu chão
com ardor e com paixão
não te querendo sozinha
e esta flor que hoje te dou
é amor que desabrochou,
ó rosa, ó rosa tão minha!
  
À maciez do teu verso
entrego o meu universo
naquilo que sei rimar
e a uma rosa uma outra rosa
vai juntar-se perfumosa
banhando em perfume o ar.

Numa outra primavera
sonhei a minha quimera
de ser o teu beija-flor,
eu voava na lembrança
e aterrissava a esperança
de seres a minha flor.
  
A rima é um doce jardim
e te ter perto de mim
é encher de cor meu viver;
por isso, ó rosa das rosas,
as letras farei vistosas
pra o belo te oferecer.
  
És rainha concebida
na poesia da vida
do que já foram teus ais,
mas em nova primavera
será verdade a quimera
de rimar amor com paz.

No sonho, doce ilusão,
tocaste meu coração
com cordas de fantasia
e hoje esta rosa de amor
leva aos lábios de outra flor
o meu beijo em poesia.


quinta-feira, 9 de junho de 2016

E POR FALAR EM SAUDADE...




Há em mim um vazio inexplicável
Um sem rumo acomodado.
Estando, sinto-me indo;
Tocando, percebo algo intocável.

Há em mim o silêncio da surpresa,
Um acerto desacertado, 
Um sorriso tristemente debochado,
A certeza de minha incerteza.

Brota em mim, sem tempo nem idade,
O sumo dos desvalidos,
A interrogação ensimesmada
Do que sempre respondeu: Saudade!

Sai de mim o choro dos aflitos,
Dos que por marolas tomaram
As ondas, pra levar meus gritos,
Que em ecos aos meus ouvidos voltaram. 

Falta em mim o aceno da partida,
A mão parada, encantada pela dor,
Congelou no ar arrependida,
Acenando, sem aceno, todo o seu amor.

Sobra em mim a tortura da espera, 
A brasa quente que devora
Os sonhos, todos eles uma quimera
Desfeita em pó hora após hora.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________


quarta-feira, 1 de junho de 2016

NOSSAS MÃOS - Cleide Canton & Regina Coeli


Sensível Arte de Cleide Canton


















MINHAS MÃOS
Cleide Canton

Eu as contemplo unidas numa prece,
vincadas pelo tempo em seu furor,
vibrando mais que nunca pelo amor
oculto nos escombros que as aquece.

Eu as deixo no sono que enriquece
seus feitos sem as garras do temor,
buscando ainda a febre, com vigor,
no impulso do fazer que as enobrece.

Duas mãos, desgastadas mas benditas,
esquecidas na cena das desditas,
só plantando sementes de harmonia.

Minhas mãos, neste canto as enalteço
por valores que têm e não tem preço,
por tanto que fizeram e eu não via.

São Carlos, SP, Br, 12/07/2015
18:30 horas




MINHAS MÃOS
Regina Coeli 

Trazê-las com carinho junto ao peito,
Beijá-las, contemplá-las com amor,
Deitá-las sobre pétalas de flor
No altar da gratidão e do respeito 

Por tanto! Tanto! Tanto no tempo feito,
E muito! E sempre feito com labor,
Ainda que o fazer ignore a dor
Que cala rumo à obra sem defeito... 

Ó mãos, inestimáveis bens da vida,
Juntas, dois remos a buscar o cais
Para ancorar até a despedida,

Ergo-as aos Céus, com elas fui capaz
De sublimar a ação mais atrevida
Ou de afagar no coração meus ais.

Rio de Janeiro/RJ, 15 de julho de 2015.



A INVISÍVEL PARCERIA DAS MÃOS
Regina Coeli 

Canhota ou destra, a mão cria
tons de amor e simpatia
desde um afago envolvente
a um gesto gentil e belo
como a erigir um castelo
nas cercanias da mente. 

Muitas vezes brande a mão,
uma ou outra, pela ação
pacientemente gestada
nos minutos e nas horas
de correções e demoras
até o fim da jornada. 

Na visão entristecida
de um aceno na partida 
ou um adeus ganhando flor,
uma das duas mãos se estende,
e o resto do corpo prende
soluços sentindo dor.  

Sagradas mãos... Instrumentos
que nos permitem momentos
do mais precioso construir,
quando uma realização
enternece o coração
e faz a boca sorrir...  

No labor de cada dia
de tristeza ou de alegria,
as mãos agem silenciosas,
se entendem perfeitamente,
dão-se tão completamente
como as pétalas nas rosas! 

Essa parceria santa
é maravilha que encanta,
mas muita gente não vê...
Perceber as duas mãos,
entre acertos e desvãos,
nos ensina, e a gente crê.  

Em comunhão consentida,
cada mão dá sua partida
no seu tempo e em seu lugar;
uma vai, a outra também;
se uma volta, a outra vem,
sublime é participar!  

Não há mão mais importante,
as duas são ouro diante
da tarefa de fazer...
Se uma delas age mais,
sabe ela não ser capaz
de, sem auxílio, vencer. 

Uma faz, a outra ajuda;
de vez em quando a ordem muda
 e a que fez... passa a ajudar.
E se uma estiver à frente,
a outra planta a semente
que, em flor, as vai perfumar...   

Quando uma das mãos adoece,
a outra mão faz sua prece
para que a doente se cure.
E chora... Sim, a mão chora!
Triste e calada ela ora
para que a doença não dure...      

Esquerda... direita... Remos
são essas mãos que nós temos,
chamando-nos a remar...
No labor do dia a dia,
remam as mãos sintonia
vencendo as ondas do mar... 

Minhas mãos... compridos dedos...
parceiras dos meus segredos
em formato de poesia;
rodas que me movimentam,
pincéis que em mim sacramentam
querer pintar com magia. 

Rio de Janeiro/RJ, 31 de julho de 2015.



domingo, 15 de maio de 2016

TEMPESTADE


The Tempest-Pintura de Lissa Bockrath




















Não serão as sombras do passado
A me aterrorizar pelo resto dos dias:
Prenúncio de tempestade,
Desejo íntimo de calmaria!

Vou-me assombrar com o que me fascina:
Raios cortando os céus sem piedade,
Trovões e relâmpagos ricocheteando,
Sensação de liberdade!

Que os estupores da natureza me horrorizem
Se as dores de ontem eu reviver:
Banho na chuva que cai com pressa,
Vontade de renascer!

Quero estrondar no rugido dos trovões
E faiscar nos raios a explodir.
Quero me escudar, para desafogar;
Desaparecer, para então ressurgir.

Choro com os olhos da chuva,
Cintilo com relâmpagos e raios para exorcizar.
Desanco os males com os trovões a vociferar,
Poupo-me das dores
Para em alegrias me gastar.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
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