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SONETOS FRATERNOS III


Pintura a lápis de cor feita  pelo poeta 
António Barroso (Tiago)



(III)
























Continuar
António Barroso (Tiago)

Se "parar é morrer", diz o ditado,
Então, porquê parar o que é tão lindo?
Nossos versos são pétalas caindo,
Carinho que se manda, perfumado.

Quando o poema segue, emoldurado
Na cor da natureza, se exibindo,
É nosso coração que está sentindo
A alegria de o ter imaginado.

Suponhamos até que um verso fosse
Convite para um chá, ou para um doce,
Quem ousava o convite recusar?

Deixemos, pois, seguir a poesia,
Dê-mos largas ao sonho, à fantasia,
Que não pode morrer. Não vamos parar.

Parede / Portugal (15/03/2014)





Continuar...
Regina Coeli

Soneto após soneto, um bem-estar
Num mundo hostil e cheio de mazelas,
Minh’alma abre todas as janelas
E vê sorrir o verso, a se aprontar.

Será que vai de azul, a cor do mar?
Quem sabe tem a força das procelas?
Será que leva a rosa, ou dúzias delas,
Para o parceiro dele se encantar?

Quem sabe doure ao sol, que beija o dia,
Talvez viaje à noite à luz da lua...
Mas que se cubra sempre de poesia,

E que ela una a minha alma à tua
Em momentos de íntima harmonia,
Enquanto, fora, tudo continua...

Rio de Janeiro/RJ, 15 de março de 2014.




Comunhão
António Barroso (Tiago)

E, de hábitos, se faz toda uma vida,
Em passos repetidos, dia a dia,
Que, no fim, elaboram fantasia,
Ou fazem sonhos, de alma adormecida.

Foi tão bom que, de forma consentida,
Nós os dois, por amor à poesia,
Aprovássemos, com tanta euforia,
Dueto que traz a alma embevecida.

Mesmo com pensamentos bem dispersos
Por tão díspares temas, nossos versos
Terão beleza tanta, que suponho

Mesmo que elaborados só por nós
Serão sempre, mas sempre, uma só voz,
E terão, em comum, o mesmo sonho.

Parede / Portugal (16/03/2014)




Tons do sonhar
Regina Coeli

Sonhar é uma canção que embala o ser 
E lhe dá asas pra compor no espaço   
Os tons e os semitons do seu compasso 
Na partitura que ele vai reger.

Sonhar é necessário ao alvorecer
Quando aos pés cumpre escolher o passo
Que muita vez afasta o ser de um abraço
E o faz chorar à luz do anoitecer.

Sonhar é imaginar a harmonia
Regendo a Vida nossa, que é tão bela,
Nas notas divinais da Poesia.

Sonhar é versejar em aquarela
As cores que combinam a parceria
E, então, declamam poemas numa tela.

Rio de Janeiro, 17 de março de 2014.




O sonho
António Barroso (Tiago)

Quem sonha, ao acordar, tem um sorriso
De prazer, por momentos tão felizes,
Na orgia de aventuras, sem deslizes,
Que nascem, e que morrem, sem aviso.

Quando vejo teus versos, de improviso,
Eu procuro encontrar outros matizes
P´ra que o sonho me dê novas raizes
E afaste o pesadelo do indeciso.

E o verso que se faz é uma flor
Que se envia com muito, muito amor,
No seio de tanta musa que ajudou.

São amigos que brincam com o sonho
E que, abordando a rima, em ar risonho,
Mandam sonetos que ele lhes deixou.

Parede / Portugal  (17/03/2014)




Como num sonho...
Regina Coeli

Em pleno dia, à luz do sol a pino,
Eu varro o meu quintal de folhas tantas,
Converso com a vassoura em horas santas
Do meu labor em notas, feito um hino.

Digo a ela: "- De um tempo bem menino
Eu te conheço, e sempre tu me encantas
Quando, serena, o que caiu das plantas
Varres em ato diário e peregrino.

Aqui um pouco... Mais folhinhas lá...
E de repente nada mais existe
Com bom auxílio vindo de uma pá. 

Como num sonho, o que houve ora inexiste,
Mas amanhã a folha cairá
E voltaremos, porque o sonho insiste."

Rio de Janeiro/RJ, 18 de março de 2014. 




A limpeza
António Barroso (Tiago)

Sentei-me à secretária, sonolento,
Abri o computador, gesto banal,
E, de repente, entrei no teu quintal,
Com folhas a cair do pensamento.

Então, seguindo o teu ensinamento,
Também varri as secas, do local,
Segui o teu exemplo, muito igual,
Com pá, vassoura e muito sentimento.

Que esta metáfora é uma lição,
Nasce em quintal, num dia de verão,
E lança, pelo espaço, uma verdade.

Que fique tudo limpo para a festa,
Que se deite fora o que não presta,
Mas nunca se despreze uma amizade.

Parede / Portugal (18/03/2014)




Convite
Regina Coeli

Convido-te a passear no meu quintal
De um cacaueiro e duas goiabeiras,
Lantanas e giboias, estas rasteiras
Ou a pender de vasos no beiral.

A palmeira, de um verde sem igual,
Ao céu se ergue em folhas tão faceiras
Que causa inveja às muitas trepadeiras
Que choram em muros seu ponto final.

Enquanto vemos rosas deslumbrantes,
Conversaremos sobre a amizade,
De como ela nos une, tão distantes,

E vê sumir, em vã proximidade,
Alguém incerto, se um amigo antes,
Hoje não mais que um raio de saudade.

Rio de Janeiro/RJ, 19 de março de 2014




O monte alentejano
António Barroso (Tiago)

Quero retribuir a tua oferta
E pedir-te que passes p'lo meu monte,
Monte alentejano, aonde o horizonte
Está muito mais longe, e a alma se liberta.

Para amigos, a porta é sempre aberta,
E até se pode ouvir, ali defronte,
Algum grilo, a cantar junto da fonte,
E a cabra à sombra, quando o sol aperta.

No meio da charneca há um sobreiro
Vestido de cortiça, é altaneiro,
Um senhor, imponente, ele é alguém.

À sombra deste amigo, e em sossego,
Almoça-se ensopado de borrego,
E o tinto alentejano, sabe bem.

Parede / Portugal (20/03/2014)




Bucolicamente
Regina Coeli

Irei passar contigo nesse monte
Que assiste a tantas dores indigentes,
Mas nos aponta nuvens sorridentes
E ainda nos traz a lua em seu desponte.

É preciso estender meu horizonte
Pra muito além de mim, pra lá das gentes
E então saber de fato o que tu sentes
Ao ver cantar o grilo junto à fonte. 

Teu monte alentejano a observar
As almas nossas ao espaço indo
E mudas, as nossas vozes a calar...

À sombra do sobreiro, nós, sorrindo,
Vamos ninando o sol em seu deitar,
Que a lua, atrás do monte, vai surgindo...

Rio de Janeiro/RJ, 21 de março de 2014.




Imaginação
António Barroso (Tiago)

Amiga, não calculas o que é ver
A seara dourada, sem ter fim,
Com papoulas vermelhas, é jardim
Que reflete o sol, ao entardecer.

À solta, andam galinhas, a correr,
Parece que os patos chamam por mim,
E cheira a rosas, cravos e alecrim,
Há versos que se inventam, sem querer.

Monte de meu avô, pequeno ainda,
Era a coisa mais terna, era a mais linda
Que eu percorria, num correr diário.

Recordação saudosa, e tão antiga,
Que me leva a pedir para uma amiga
Visitar o meu monte imaginário.

Parede / Portugal (22/03/2014)




Lembranças
Regina Coeli

Um monte à minha frente tenho eu
Erguido nos confins de antigamente,
Um tempo que corria sobre a gente
E a gente sobre o monte já correu.

Infância em nós, os dois, alvoreceu,
E em nós pintou lembranças suavemente
Num quadro pendurado em nossa mente
Em parede que agora entardeceu...

Galinhas cacarejam no quintal
De um ontem de papoulas coloridas
E de roupas secando no varal...

Cenas de ti, de mim, enternecidas,
Num filme que já tem o seu final:
Ao pé dos montes, nossas despedidas.

Rio de Janeiro/RJ, 23 de março de 2014.




Costumes
António Barroso (Tiago)

Talvez sejam iguais, de ambos os lados,
Os costumes das terras mais pequenas,
As vidas eram calmas e serenas,
Com vizinhos, amigos bem chegados.

Vinham burros, com cestos, carregados
De peixe conservado em sal apenas,
E, da vila, chamavam p’ra as novenas
Quando os sinos se ouviam compassados.

Perto, a horta regava-se, à tardinha,
Traziam-se umas uvas lá da vinha,
E, ao chegar, sacudia-se a poeira.

Depois dum breve banho refrescante,
Via-se o pôr do sol, lá bem distante,
Por entre as folhas verdes da parreira.

Parede / Portugal (23/03/2014)




Costumes
Regina Coeli

Meu pensamento se enche de passado...
Vejo subindo a rua o leiteiro,
Que na carroça grita o tempo inteiro
Pra vender leite e ter o seu bocado.

O som de uma buzina, entrecortado,
Faz toda a gente, num correr ligeiro,
Rodear o cesto de um gentil "padeiro"
De bicicleta com o pão esperado.

Sagrado pão que de água a boca enchia
Na hora certa saboreado era
Na mesa posta por Mamãe Maria...

Café com leite, quase uma quimera,
Nem sempre leite no café havia...
Fossem rosas faltando à primavera... 

Rio de Janeiro/RJ, 24 de março de 2014.




Recordações
António Barroso (Tiago)

Sonhos, recordações, são fantasia
Que parece passar num filme mudo,
E que traz, à memória, quase tudo
Da nossa juventude, por magia.

Ele era o namorico dum só dia,
Carícias numa pele de veludo,
Uma carta de amor, mas sobretudo,
Uma primeira escrita, em poesia.

As lembranças que, assim, surgem agora,
São pedaços vividos dum outrora,
Supondo ser eterna a mocidade.

O meu tempo secou, de tão maduro,
Já não se fazem contas ao futuro,
E o passado é um sonho de saudade.

Parede / Portugal (25/03/2014)




Acalanto
Regina Coeli

Se o tempo é uma unidade de medida
Dos dias, meses, anos e momentos,
Um outro tempo forja os sentimentos
Da alma neste tempo traduzida.

Se o corpo vai sofrendo à investida
Do tempo, calendário com tormentos,
O outro, sempre andando a passos lentos,
Trabalha a alma, logo percebida.

Recordações são cenas de magia
Que a parte física do ser viveu
Num tempo de frescor e de euforia...

Até o rei sol, que rubro se acendeu,
Faz-se amor. Satisfeito, é poesia
E se põe no que Tiago já escreveu.

Rio de Janeiro/RJ, 26 de março de 2014.




Sou feliz
António Barroso (Tiago)

Dou por mim, muitas vezes, a pensar
Nos moldes que forjaram nosso ser,
Que eu era introvertido, por saber
Do medo de traições ir encontrar.

Mas, algures, se abriu, de par em par,
Janela que me fez compreender
O que há de carinhoso em responder
Aos teus sonetos lindos, de encantar.

E meus versos, andando ao abandono,
Seguem para a Regina que, em seu trono,
Os recebe com sorrisos de verniz.

Depois, manda de volta, uma resposta
Que esta alma tanto espera, aceita e gosta,
E me faz, minha amiga, ser feliz.

Parede / Portugal (26/03/2014)




Que bom é ser feliz!
Regina Coeli

Bem cedo canta e encanta um passarinho
Tão suave em cada nota que me diz,
E eu o imagino um ser muito feliz,
Fazendo o dia alegre já no ninho.

As flores, bem dispostas no raminho,
Sorriem as cores que lhe dão matiz,
Então pergunto à minha cor se fiz
Pintura certa ao pincelar carinho...

A manhã abre a boca em mil bocejos
E o mar me traz teus versos numa hora
De festa e de ternura aos meus desejos.

E ao ver meus próprios versos indo embora,
Sorrio, mando carinhosos beijos
E vou varrer as folhas lá de fora...

Rio de Janeiro/RJ, 27 de março de 2014.




Canteiro em flor
António Barroso (Tiago)

Depois dos afazeres do dia a dia,
E me sento atrás do computador,
Logo vou procurar, com muito ardor,
Notícias da Regina, em poesia.

É mesmo muito grande esta alegria
De ver que os versos trazem o calor
Duma alma que os cultiva, com amor,
E que também se embrenha em fantasia.

A troca de sonetos é tão qu’rida,
Que só se compreende, se vivida
Por quem adora versos com valor.

Assim, minha resposta é p’ra regar
O canteiro onde estás a cultivar
Os poemas que tratas, com amor.

Parede / Portugal (27/03/2014)




Versos em flor
Regina Coeli

Como um tesouro que merece zelo,
Assim é o verso que te envio, Tiago,
Porque bem sei de ti virá o afago
Que me incentiva a melhor fazê-lo.  

Talvez no verso sintas meu apelo
De sermos cisnes a nadar num lago
Em mansidão, com pensamento vago,
E na ilusão de sempre em nós retê-lo.

Seremos tudo o que quisermos ser,
Trocando versos, com calor e Amor,
Sentindo a alma cheia de prazer.

Tua resposta? Para mim é a flor
Ungida e bela no teu bem-querer
Com cheiro de soneto encantador. 

Rio de Janeiro/RJ, 28 de março de 2014.  




Dependência
António Barroso (Tiago)

Mandar e receber, num outro lado,
Nesse mesmo momento, nesse instante,
Aceito que tudo isto é uma constante,
Que é facto repetido e consumado.

Nesta idade, inda fico impressionado
Com este avanço rápido, importante,
Que conseguiu levar tudo adiante
E me deixa, por vezes, desarmado.

Discordo dum sistema que separa
O que é bom do que é mau e, coisa rara,
Sem ter em atenção a nossa voz.

Chamam-lhe "spam"? nome inglês ?
Mas porque não se escreve em português
Com a escolha a ser feita por nós?


Parede / Portugal (28/03/2014)




Os "spams” e as rosas
Regina Coeli

Mensagens, muitas delas maliciosas,
Ficam retidas pra depois se ver
Se brotam espinhos que farão sofrer
Ou se os espinhos acompanham as rosas.

Mensagens vêm tão rápidas e prosas,
Afagos, bálsamos ao meu viver,
Mas se  "truncadas", o final vai ser
Entre os "spams” achá-las bem chorosas.

Eu falo da internet e é o inglês
A língua-mãe que patenteia o avanço
Tecnológico, e nenhum talvez.

Mas o que dói à alma em seu remanso
São rosas "excluídas" em buquês
Que a mão humana deletou com ranço.

Rio de Janeiro/RJ, 30 de março de 2014.




As rosas também choram
António Barroso (Tiago)

Também chora uma rosa, no canteiro
Nunca pelos espinhos que arranjou,
Mas por um grande amor que não chegou
Como água deslizando p’lo ribeiro.

E há lágrimas, na rosa, o dia inteiro,
Se o visor das mensagens não mostrou
O mail que ela aguarda, e que esperou,
Sem que a pétala aviste o mensageiro.

E a flor que, por ser bela, chamam rosa,
Que é, de todo o jardim, a mais formosa,
Aguarda, de olhos postos no além mar.

A mensagem não vem, e ela, tristonha,
Tem lágrimas nos olhos, já não sonha.
Vejam se pode, ou não, rosa chorar.

Parede / Portugal (30/03/2014)




As rosas que choram
Regina Coeli

A rosa qu'inda sonha é tão bela,
Seu sonho, o combustível da ilusão,
Floresce entre a brisa e o furacão
E pinta em suavidade toda ela.

Sonhar uma ilusão, esta ou aquela,
Envolve toda a rosa em sedução,
Que não sonhar no veio da paixão
É renegar a Vida e as cores dela. 

E quando a rosa chora, de tão triste,
Com lágrimas a terra vai molhando,
Vai perfumando à volta o que já existe...

Se chora, é porque anseia o dia quando
O sonho em que acredita e nele insiste
Verá o mundo em rosas se enflorando.

Rio de Janeiro/RJ, 31 de março de 2014.




Pomba branca
António Barroso (Tiago)

Há uma pomba branca junto à rosa,
Cansada, mas feliz, duma viagem,
Traz, no bico, um soneto, uma mensagem
Que chega da Regina, carinhosa.

E eu digo à pomba branca, que é mimosa
Como a flor que se mostra, na paisagem,
Carregando esses versos, co’a coragem
De deusa feita musa, tão formosa.

Com carinho, peguei na fantasia,
Junto ao peito, pulsou a poesia
Com o som dos acordes dum concerto.

E, ao ler esse soneto de encantar,
Apenas sei dizer ? ou perguntar ?
Como podes, de longe, estar tão perto?

Parede / Portugal (31/03/2014)




Rainhas, as rosas
Regina Coeli

Perfume do Brasil pra Portugal
Seguiu em rosas rubras sobre o mar
E seu maior desejo era espalhar
O belo olor da Vida, sem igual.

Rosas vermelhas, chama universal,
Um mimo pra emoção apreciar
E ao coração bater, querer entrar
Numa visão que toca o irreal.

Nas rosas brancas, belas, perfumadas,
Repousa a cor que um bem à alma faz
E se derrama em pétalas torneadas.

E a pomba branca, que tão pura traz
Mensagem de carinho em asas aladas,
Leva-te rosas de infinita Paz.

Rio de Janeiro/RJ, 01 de abril de 2014.




                                                (Abril de 2014)

  


















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