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BelArte de Ilka Vieira |
Abrir as comportas,
deixar jorrar as emoções...
Ressentir dores quase mortas...
Desafios para os corações.
Do nascer a um tempo incerto,
tanto que se contorce a lida.
Só se faz o que é dito certo,
adia-se o que é de fato a Vida.
Reclusa alma, emparedada,
sorrisos inseguros e débeis
revestem a face desfolhada
por mágoas e pesos indeléveis.
Se preciso despontar, aqui estou;
não serei o sol, mas darei calor.
Se preciso a sede matar, aqui estou;
não serei a chuva, mas choverei amor.
Se nada fui ou fui nada até agora,
se vacilei e falhei em meus momentos,
eis-me aqui, com o verso que revigora
e forja em êxtase todos os meus sentimentos.
O que semeei e não vingou
deixo no ontem, apaziguado;
hoje, afago o tudo que restou,
pelas mãos cansadas acarinhado.
Sou o que me disponho a ser,
liberta de receitas e grilhões.
É chegado o tempo de envolver,
de vestir de seda esfarrapadas ilusões.
No meu palco, nova etapa vai ser encenada.
Abram-se as cortinas, eis-me pura e intensa,
única personagem de uma peça inacabada
que se enche de Poesia para ser mais densa.
Na plateia, apenas o meu outro eu, silencioso.
Aquele que esperou, que se guardou,
e que transforma o velho pranto queixoso
em aplausos úmidos de prazer, descortinados
para um novo tempo que chegou.
Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
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