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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mar Adentro



















Aqui estou, meu mar, pra caminhar as tuas ondas
de desejos ancorados. E as tuas espumas doces
de alfenim arrebentando nas areias sequiosas de ti...

Chego para me dar às águas de um jardim
de deliciosas pétalas, em marolas
que derramas graciosamente sobre mim...

... Ou de impetuosos movimentos teus a
estraçalhar pobres e cansadas canoas
que se entregam a ti para morrerem felizes...

Aqui estou, meu mar. E deposito em ti
o que restou de mim após ter perdido o passo
em terras cheias de buracos e emboscadas...

Trago-te um corpo fremente de emoção
e um espírito serenado nas cantigas
vigilantes das tuas instáveis marés.

Como um passarinho,
pousei no ir-e-vir do sol
e no caminhar cuidadoso da lua.

Percebi e me aquietei.
Semeei-me e colhi a minha flor.
De suas cores me enfeitei.

E hoje,
coração aberto
e meu sonho desperto,
entrego-me a ti,

meu mar,

pra que me ames
macia
ou
vorazmente.

Do jeito
que esperei.


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 20 de julho de 2010

Torrentes



















Para se amar candidamente, apenas
Se deixe amar numa explosão macia
De cada lágrima que vem, tardia,
Rolando em gozo nas manhãs serenas...

Ainda que só, a debulhar-se em penas,
Poder sentir boa emoção no dia
É como um ópio que atordoa e esfria
O captar, de um filme, as tristes cenas...

Que se ame o amar na completude imensa
De um sonho vivo sem o horror de algemas
A aprisionar a fé em rota crença...

Deixe-se o amor lavrar a fogo os lemas
Que o fazem belo e, em sua justeza, vença
Ele as marés dos Tempos e dilemas!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 13 de julho de 2010

Passeando o Amor
























Sabes bem quanto eu te amo, sabes bem
Que nem a chuva forte e fria assim
Fará o amor perder sabor em mim
Ou me impedir de estar aqui ou além...

Se o vento gela e faz sofrer alguém,
O meu amor por ti aquece o fim
De eu me sentir a terra do jardim
Que gesta a flor sagrada que ela tem...

Por isso, amor, o tempo é sempre lindo,
Pois o rei sol projeta audaz calor
Pra que se cuide a vida em nós... sorrindo...

A chuva cai e eu sinto a terra em flor...
Eu... Um botão molhado, à luz me abrindo
Pra ser tua rosa, olor em ti, amor!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

domingo, 4 de julho de 2010

Espectro




















À solta, pelo ar eu berro
Livre e leve, apenas sou
Tenho a idade que me quero
Em lugar algum estou

Sou o ontem, quase o agora
Sou o amanhã, tempo algum
Sou o minuto, sou a hora
Sou todos, e sou nenhum

Tenho a face desfolhada
E meu brilho é ofuscado
Venci o inverno e a geada
Deixei o viço de lado

Se fui... não sou... nada sei
Talvez seja o que sobrou
Vivendo herança sem lei
No resto que me abraçou...



Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sábado, 3 de julho de 2010

É Preciso...



















Ver é preciso, muito mais que olhar...
Impreciso é o que fica rente aos olhos...
Que se veja com a alma, sem antolhos,
Para saber exato o que é enxergar...

Abra-se o coração para o sentir...
Aquiete-se a razão por um momento
E emerja, suavemente, o sentimento
De caminhar, melhor que um simples ir...

Que se caminhe... sem o chão tocar!
Voe-se... ao meigo sabor das mansas asas
Guardadas (caracóis em suas casas)
Para, num tempo certo, despertar...

É preciso seguir o Senhor Tempo.
Sereno e sábio, tão perto e distante,
Faz par com a Vida, eterna e sempre amante,
Num terno enlevar, nunca um contratempo!

Mais que viver, faça-se o bem viver!
Busque-se a Natureza em seu pulsar,
Em imagens que bailam pelo ar
Pintando o dia a cada alvorecer.

Mãos unidas, questão de puro siso!
O respeito ao irmão e à própria Vida,
Profundamente olhada e entendida,
São pilares da Paz... e é tão preciso!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli