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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lágrimas de Amor





















Ah, tantos foram os choros
Vertidos e eviscerados,
Saídos por olhos intumescidos,
Nascidos de sentimentos desabrigados...

Quantas dores cáusticas
A apertarem o peito cansado...
São chagas que relutam em fechar
Feridas de um amor achincalhado...

Lágrimas minhas, aliviem os meus queixumes!
Deságüem-me as mágoas neste mar,
Depositário de desejos de amor,
E expiem este sofrer até o seu findar!

Mar, abraça-me e me lava a alma triste!
Salga-te com o líquido da minha paixão,
Sorve o sal deste meu pranto e tempera a ti,
Que todo este desgosto não terá sido em vão...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Velhice Feliz


























Foram tantos os choros na sacada,
Muitos minutos mudos eu contava,
Na solidão da hora que passava,
Eu via acontecer não mais que nada...

E na lágrima triste debulhada,
Tal qual feijão sacado de uma fava,
O sumo da vã espera o chão tocava,
Escorrendo um talvez pra madrugada...

E assim eu vi passarem só dez anos
Em que eu me decorei dos azulejos
Onde se refletiam desenganos...

O tempo prateou os meus desejos...
Enquanto espero a lua, faço planos:
Na sacada, serão dela os meus beijos!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Canoa Furada























Embarquei em ti minha suavidade
Sonhos tímidos, risos ressabiados
Fui remando real felicidade
Pousada em corpo e alma desarmados.

Traçaste o meu percurso em vontade
Eu, sem ação, os remos descansados
Cega aos respingos duros da verdade
Que incomodava em olhos marejados.

Percebi grandes furos no teu casco
Ao me debruçar toda em solidão
E me encharcar nas águas de incertezas.

Pulei de ti, canoa, meu carrasco,
Mas naufraguei na atroz revelação
De ter vencido as minhas correntezas!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Favela



















Que fossem só as luzes espelhadas
A refletirem laivos de magia
Em morros de corcova tão esguia,
Piscando pro chegar das madrugadas...

Que fossem só a lua e suas estradas
A desfilarem olhos de vigia
Por sobre a luta diária que dormia,
Sonhando com auroras deslumbradas...

Que fosse o arvoredo balançando
Folhas sensuais beijadas pelo vento,
Oferecidas, livres, sem comando...

Não é chegado, ainda, o bom momento
Da favela acordar, cantarolando,
Saída do fuzil pro encantamento...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

A Rosa






















Celebra a enxada o alvorecer do dia
E faz a lâmina sorrir seu fio
Cortando ao mato um avançar sombrio
Sobre a mudinha que no chão crescia.

Em movimentos de fiel magia,
As mãos trabalham sobre a terra em cio
A protegê-la de qualquer desvio,
Pra dar à luz a sua bela cria.

Nasce o botão em seu raiar sutil
E em lindas pétalas se faz a flor,
A mais bonita que jamais se viu...

Sob o perfume a borrifar frescor,
Que as mãos se ponham num sentir servil,
Louvando a rosa, a perfeição do Amor!
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cadafalso





















Tanto faz corda como guilhotina,
A voz se inclina à morte da garganta,
Um dia santa em seu dizer que encanta;
No outro, vil planta que age na surdina...

Quem se amofina diante de sua sina
Não vê a fina flor que se levanta
E espanta a erva que, invejosa, canta
Maldade tanta àquela que a fascina...

Sobe ao tablado minha rouca voz,
Calando os prós e os contras ao meu lado
Meu eu tombado por uns simples nós...

A sós no palco, um corpo silenciado
É dissecado por seu frio algoz
Que, num após, é o próprio degolado...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Digressões


















Sou só um raio, e vou buscar um mundo
De farta luz a iluminar-me os passos;
No doce enlevo por fiéis abraços,
Vou ser mais forte no meu eu profundo.

A voz do vento eu hei de ouvir ao fundo
Cantando a vida em seus leais compassos
Fazendo coro a corações devassos
Que habitam, belos, um ser vagabundo.

Que vale a pompa, se a atitude é feia?
Pra que o discurso, se a palavra erra?
Não sente o mar quem fica só na areia...

Fazer silêncio ao desamor que berra
É a Luz do Tempo que o Saber clareia
Aos que não passam cegos pela Terra!

Cartas de Alforria (

Escritos de Regina Coeli)

Acorde Final





















Tu me enlaçaste, e eu fui no teu compasso,
Me conduzias, e eu te acompanhava
Nem mesmo ouvia a valsa que tocava...
Tu eras canção, e belo era o teu passo...

Dei-me a ti, e enlacei-me ao teu abraço
Eu me entreguei ao instante que eu valsava,
Tão curto para tudo o que eu sonhava,
Mas imenso em seu breve e intenso traço...

Sonhei, bailei, vibrei o que eu podia!...
A cada olhar e a cada rodopio,
Tão plena era a alegria que eu sentia!

Fui regato a flertar com meigo rio,
E desagüei-me em águas de agonia
No último som que ouvi com arrepio...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pai...



















Foste pra mim o tom da caminhada
A rima que o poeta fez de ti;
Um nome em dó, ré, mi, fá, sol, lá, si
A música em bemol aqui cantada.

Bocejas com a noite enluarada
E sentes todo o amor que eu vivi
Na brisa que te sopro eu daqui
Na calidez da amiga madrugada.

Me abraço na saudade que ficou,
Preencho a solidão da tua falta
Com lágrimas que escorrem do que sou.

Faço o meu canto olhando a lua alta
Lembro Raymundo, que Drummond citou
Na rima que uma filha embala e exalta!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Meu Pai, Meu Filho!




















Um velho pai, um velho e nada mais,
Alquebrado, vencido e sem juízo,
Ontem e hoje, um homem tão sem siso,
Que não sabe o que fala e o que faz...

Deixar-te, ignorar-te, isso jamais!
Segues comigo pelo chão que eu piso,
São tantas queixas e tão pouco riso
Desde um tempo que trago lá de trás...

Se pode um outro falho coração
Atrever-se, quem sabe, a perdoar,
Eu me perdôo, pai, tanto te amar!

E esse Amor, um jardim em floração,
Perfumará de afetos o empecilho
Que fez de ti, meu pai, meu doce filho!



Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 20 de abril de 2010

Por Amor!


























Ardi em chamas, tanto, tanto, sim!
Como doeu a dor de amar em vão
Fazendo transbordar o coração
De cinzas magoadas em meu fim...

Pensei morrer... Morri de ti, de mim!
Eu não era eu, tu... uma ilusão
Tudo passou.. as coisas passarão
Não restará um só amor, enfim...

Assim pensei... E assim eu me arrastei
Vivendo a morte gélida na dor
De um reino em decadência, e soçobrei...

Mas a Vida chamou-me ao destemor
E voltei a Viver, Viver é Lei!
E ressurgi de mim... só por Amor!...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Sementeira




















Ventos açoitam, um frio insano gela
Os sonhos róseos de uma tez morena
Em tenra casca a emoldurar, pequena,
Caminhos jovens vistos da janela...

Cercas se curvam ao tempo que atropela
Podres moirões em solidão serena,
Enquanto os invasores entram em cena,
Jogando ao chão porteira sem tramela...

E no cair de chuvas copiosas...
E no calor do sol, beijando ardente,
O arame frouxo veste-se de rosas...

E aquele Amor, guardado qual semente,
Germina ao fim de esperas dolorosas
E explode em cores suaves... docemente!

Cartas de Alforria

Escritos de Regina Coeli

Quem é o Palhaço?




















No espelho, uma face sem graça
Na roupa, um arroubo encabulado
Na atitude, uma raça sem raça
No corpo, um requebro isolado
No coração, uma dor de pirraça
Na boca, um sorriso abortado...

Vesti-me de muitas e bem vivas cores
Pintei toda a cara qual um palhaço
Escondi-me das estivas e das dores
Ensaiei pra mim um novo traço
Fiz de mim um boneco sem pudores
Queria dar carinhos e mil abraços!

Pulei, cantei, chorei, dancei e ri
Ri o riso que não sabia comigo
Correndo daqui pra ali
Fazendo troça do meu umbigo
Gritei como o meu bem-te-vi
Brincando, fui meu melhor amigo!

Instantes de leveza e liberdade...
A felicidade me invadiu e nem doeu
Despi pretensas verdades...
Conheci a emoção no apogeu
Saltei da fantasia pra vivida realidade
Olhei-me no espelho e gritei:
O PALHAÇO SOU EU!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

domingo, 18 de abril de 2010

Refúgio





















Chuvosa tarde, a correnteza passa
E lava tudo, e leva o lixo feio,
Amontoado por descaso alheio,
Causando morte, dor, cruel desgraça...

Doce lembrança lá de trás me veio...
Chuva caindo em benfazeja arruaça,
Molhando os campos, irrigando a graça
De quem pediu e realizou um anseio...

E eu na calçada com o meu barquinho,
Que se alegrava na chuva fininha
E ia embora a me deixar sozinha...

Tanta ternura aquele tempo tinha...
Vou pro passado! Fujo ao descaminho,
Pois no barquinho chove bem miudinho...

Cartas de Alforria

Escritos de Regina Coeli

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amadeu

























Foram tantos, não sei bem,
Começando por alguém,
Passando por gato e cão,
Codornas e maritaca,
Canários, cavalo e vaca,
Que a conta até empaca
Com tanta recordação...

Se o coração fica triste
E pensa que não resiste,
Vem uma nova emoção!
Saindo da minha infância,
Toda pompa e circunstância
Em toda a sua elegância,
O amor do meu coração!

Um amor que eu não esqueço,
E só de lembrar, padeço,
Diante da dor de amor...
É tão forte isso que eu sinto,
Verdadeiro, pois não minto,
Que esse poema sucinto
Não lhe dá justo valor...

Longe (ainda havia bonde,
Minha vaidade não esconde),
Vivi uma linda história
Com meu amor, o primeiro,
Impávido por inteiro,
Digno rei num chiqueiro,
Sem trono, cetro e sem glória...

O bichinho foi comprado,
E por mim logo adotado
Pra ser como brinquedinho...
Se dinheiro não havia,
E a boneca que eu queria
Era pura fantasia,
Brincasse eu com porquinho!

Vinha da escola correndo
Era muito amor, só vendo,
Pra brincar com meu brinquedo!
O chiqueiro eu lavava,
Com vassoura de piaçava
E o porquinho eu coçava...
Eis aí nosso segredo!
Com ferrinho compridinho,
Coçava o meu amiguinho
Cheinho de amor no olhar...
Inundado de prazer...
Nada mais querendo ter,
Completo dar/receber,
Até no chão desabar!

Quanto mais ele engordava,
Mais porquinho eu amava,
Pois mais havia pra amar...
Um amor apaixonado
Deseja do ser amado
Cada palmo, cada lado,
Um amar ilimitado...

Assim foi com Amadeu,
Quem deu o nome fui eu,
Após intenso pensar...
Mas... ouvi e sei de cor,
Se ele ficasse maior,
E o chiqueiro... bem menor,
Não tinha como ficar...

Meu Amadeu foi vendido
Por não ter compreendido
Que não podia engordar...
Não queria ir embora
Relutou, grunhiu lá fora;
Não sabia que era hora
Do nosso amor acabar...

Nem sabia eu tampouco,
No meu raciocínio louco,
A dor da separação!
Fiquei sem meu porco-amigo...
E a dor vive aqui comigo,
Na estrada que ainda sigo,
Cortando o meu coração...

Amadeu, meu grande amor!
Tu és do jardim a flor,
E ainda me dás perfume!
Se me doem os ouvidos
Dos guinchos de ti, doídos,
Saudade e choro, incontidos,
Da minha história são lume!
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Desejos
























... São como gotas orvalhando a flor,
Cio da Vida matutina e bela
Espreguiçando uma canção singela
Pro amanhecer alegre e encantador.

... São como flores despontando em cor
Ricas nuanças no esplendor da tela
Mesclando sonhos derramados nela
Com esperanças realizando amor.

... São pensamentos de um viver melhor
Em atitudes, através do bem,
Que o coração as sabe até de cor.

... São como estrada sob os pés de alguém,
Muitas paisagens lindas ao redor;
Cuidado às curvas derrapando um além...


Cartas de alforria

(Escritos de Regina Coeli)

sábado, 10 de abril de 2010

Contando...





















À sombra do cacaueiro
Passaria o dia inteiro
Observando pardais
Imaginando suas casas
E o ruflar de suas asas
Voando voos de Paz...

Num contrito coração
Ao sabor de uma oração
Desfiaria um rosário
Olhando as nuvens no céu
Desenhadas com pincel
Por pintor imaginário...

As folhas secas caindo
Quais sonhos se despedindo
Ou função ao fim chegada
Do que começa, mas finda,
Tragado por um ainda
Que inicia uma jornada...

Sonhos... sonhados aos montes
Brotados de meigas fontes
Sem prazo para acabar
São como gotas de orvalho
Escorrendo sobre o galho
Querendo a rosa beijar...

São regatos num passeio
Peito da Vida em seu seio
Irrigando madrigais
Que cantam rios das águas
Cristalinas, sem mágoas,
Lembranças que o ontem traz...

E o tempo, assim se esgotando
A vida em mim se escoando
Hora engolindo minuto
O sol recolhendo os raios
Protegidos em balaios
Pra no amanhã serem fruto...

A lua vem caprichosa
Pousando o luar na rosa
Em cenário encantador
Não sei o que é mais bonito
Se rosa em halo bendito
Ou lua cheirando a flor...

No cacau grudado ao tronco
Silêncio quebrado em ronco
Ronca em mim uma saudade...
Foste tu meu cacaueiro?
Fui teu cacau por inteiro?
Quem contará a verdade?

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Páginas Viradas






















Vão-se pessoas, dias, meses, horas
Atravessando a linha do horizonte
Pra algum lugar que, tão bonito, aponte
Flores divinas festejando auroras.

Quem sabe os ontens, trôpegos de outroras,
Vislumbrem hojes, belos no desponte
Duma paisagem, vista além de um monte,
Que junte os tempos, todos, em agoras...

Quem sabe o sol, ardendo os seus dourados,
Amorne o frio, e a última quimera
Agite aos céus caprichos delicados...

Quem sabe possa ser final de espera
A sonhos já proscritos e sonhados
Num empoeirado livro meu: "Quisera!"

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Minha Ressurreição





















Saio de mim aos céus voando ao vento
Não tenho passos nem me quero braços;
Que se desfaçam todos os meus laços
E me pertença a força de um momento.

Que eu ressurja da dor e do lamento
Como flor que, escondida nos seus traços,
Desponta, airosa, de seus tons escassos,
A colorir o instante modorrento.

Vibre a lira nas notas da canção;
Fluam em cascata as águas do meu pranto
No peito meu de angústia e solidão.

E que eu me livre desse atroz quebranto
Nas ondas infinitas que farão
Meu despertar no que é sagrado e santo!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dou-me Flores






















Nas mãos vazias de esperar, somente
Há pétalas tristonhas e vencidas
De flores de ontem, ah, entristecidas,
Jazendo no meu colo tristemente.

Não são aquelas que eu, ingenuamente,
Imaginei em cores reacendidas...
Estão murchas por novas despedidas
De um amor-nuvem morto à minha frente...

Ao não colher o amor... tão traiçoeira
É a alegria, pisoteando o anseio
Meu de me perfumar de flor inteira...

Semear-me-ei aroma só no enleio
Da mais ínfima flor que planto à beira
Do coração meu, de ilusões tão cheio!
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

BEM-TE-VI




















Procurei-te na roseira,
Encontrei o beija-flor;
No galho da goiabeira
Vi sabiá cantador.

Olhei, olhei, mas não vi...
Onde andará, afinal,
Aquele que me sorri
Em seu grito matinal?

Rolinhas tricotam mágoas
No pé do meu sapoti;
Canários se esbaldam em águas,
Encantos que eu tenho aqui.

Procuro, mas não te vejo
No peitoril da janela;
Ah, é grande o meu desejo
De te ver cantando nela...

Quem viu meu pequeno amor,
O que acorda a passarada,
Gritando pra ninho e flor
Que é chegada a alvorada?...

Quem viu um ser elegante,
Altivo e mais que bonito
Com olhar desafiante
E desafiando o infinito?...

Onde andará meu amigo,
Ser alado em obra-prima,
Que eu ao Criador bendigo
Por beleza que me anima?

Volta, que estou te esperando!
Vem, que eu não saio daqui,
Te esperando... E já escutando
O teu grito... "bem-te-vi!"

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Num Amanhã





















Se não for hoje, seja num depois,
Mas que aconteça lindo e desejado
E não se evoque, quieto num passado,
O que chegou pra um, em vez de dois...

Já se vão dias, quando o sol se pôs,
Amarelando amor sentenciado
Ao arrebol de um sonho desbotado
Que só pedia cor num simples "sois!"

Pois que há de ser na face de um cristal
O reluzir da alma, altiva e bela,
Num despertar criança e virginal...

... Se há flores, lindas, hoje na janela,
Ontem tão feias, secas sem igual,
A chuva deu amor nas águas dela...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 6 de abril de 2010

Pássaro sem Som





















O Amor voltou... em penas descaídas,
Qual fora um pássaro voltando ao ninho,
Cansado do seu voo tão sozinho
Por ares de sombrias investidas...

Trouxe no peito hipócritas feridas,
Sangradas no vazio burburinho,
E ouviu triste violino em seu caminho
A chorar notas roucas e doídas...

E aquelas notas, tão angustiadas,
Saudades eram, as do amor ausente,
Dando-lhe adeus em lágrimas choradas...

O Amor voltou, mas jaz indiferente
O que ficou... com asas alquebradas...
Perdeu o som o pássaro carente...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boneca

























Ganhei de minha mãe uma boneca
Num tempo que me acena lá de trás
Risonha, com uma cara de sapeca
Corpinho bem comprido... E muito mais.

Companheirinha até numa soneca
Estar com ela nunca era demais
E a roupinha de minha filha "Neca"
Coloria o que não esqueço jamais...

... Sim, lindo vestidinho de bolinha
Tive eu, que com amor se transformou
Pra vestir a querida bonequinha...

E as sobras que mamãe aproveitava
Foram aquelas que ela costurou
Na boneca de pano que eu ninava...
Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli


domingo, 4 de abril de 2010

Vida Não-Vivida
























No coração da vida não-vivida,
Vão-se desfiando as contas do rosário;
São falas com sabor de corolário
Audíveis em mudez bem percebida.

O não-viver a face recolhida
Envolta em fino véu do seu calvário;
O duelo entre o que é bom e o que é precário,
Sentença de chegada ou de partida.

Amor etéreo... Um ver, mas não pegar...
É o pobre coração apaixonado
Amando só, não tendo o bem ao lado...

Ah, o amor, tantas vezes apartado;
Um não viver, apenas um sonhar...
Dor que soluça o próprio soluçar!


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vassoura


Cantar o mar, poesia imorredoura,
Já o cantaram ilustres menestréis
Ao sabor encantado das marés
Em rima que o deus sol bronzeia e doura.

Poeta em tom menor, canto a vassoura,
Que investe sobre o lixo aos nossos pés
Com piaçavas valentes e cruéis,
Limpando, alegre, até o que nos agoura.

Elevo a nota e louvo a sua história
No esforço de deixar bem limpo o chão,
Seguindo a mão que a faz chegar à glória.

Só não pudeste, agora saberão,
Fazer-me limpa, livre na memória,

Do lixo que sujou meu coração...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli



Um Canto à Nobreza



Nobreza é bem que se tem,
Refinando o passo em Vida;
Não é pra qualquer alguém —
É na Alma concebida.
É bom trato em atitudes,
É flor que flora no olhar,
Ainda que sejam rudes
As mãos no seu cultivar.

Nobreza é senhora dama
Que se porta em fidalguia,
É voz amorável que ama
Descaso que sentencia;
É Amizade cuidada
Como rosa no jardim,
Vicejando ao ser regada
Por você, também por mim;
É um ver bem mais à frente,
É voar com os pés no chão;
Chorar silenciosamente,
Consolando o coração,
Calando, sem revidar,
Ao insulto desalmado,
Que acaba, por acabar,
Arquivado no passado.

Nobreza não são comendas
Nem títulos conseguidos,
Quem sabe, por encomendas,
Até mesmo estatuídos;
Nobreza não é concreta,
Não se compra no mercado;
É humildade secreta,
Finesse em tom perolado.

Nobreza é um quê interior
Pelo Tempo amaciado;
Sorriso maior que a dor,
É Gente/Flor lado a lado;
Nobreza é sábia alquimia
Decantada no lagar;
São letras em poesia
Chegando pra embriagar;
E no escrever elegante,
Vestindo o verso em brocado,
Linda metáfora cante
O Certo sobre o errado;
Lua e sol , nobre esplendor,
Franqueiam sua luz ao mundo
No Respeito, encantador,
Que emana de um deus profundo.

Nobreza é brisa que passa,
Trazendo Amor pela mão;
Meiga, altiva e sem trapaça
Sobre aqueles que o não são;
Não é grito na enseada
De sentimentos vulgares;
É palavra fundeada
Na Razão aberta aos mares.
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli