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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amadeu

























Foram tantos, não sei bem,
Começando por alguém,
Passando por gato e cão,
Codornas e maritaca,
Canários, cavalo e vaca,
Que a conta até empaca
Com tanta recordação...

Se o coração fica triste
E pensa que não resiste,
Vem uma nova emoção!
Saindo da minha infância,
Toda pompa e circunstância
Em toda a sua elegância,
O amor do meu coração!

Um amor que eu não esqueço,
E só de lembrar, padeço,
Diante da dor de amor...
É tão forte isso que eu sinto,
Verdadeiro, pois não minto,
Que esse poema sucinto
Não lhe dá justo valor...

Longe (ainda havia bonde,
Minha vaidade não esconde),
Vivi uma linda história
Com meu amor, o primeiro,
Impávido por inteiro,
Digno rei num chiqueiro,
Sem trono, cetro e sem glória...

O bichinho foi comprado,
E por mim logo adotado
Pra ser como brinquedinho...
Se dinheiro não havia,
E a boneca que eu queria
Era pura fantasia,
Brincasse eu com porquinho!

Vinha da escola correndo
Era muito amor, só vendo,
Pra brincar com meu brinquedo!
O chiqueiro eu lavava,
Com vassoura de piaçava
E o porquinho eu coçava...
Eis aí nosso segredo!
Com ferrinho compridinho,
Coçava o meu amiguinho
Cheinho de amor no olhar...
Inundado de prazer...
Nada mais querendo ter,
Completo dar/receber,
Até no chão desabar!

Quanto mais ele engordava,
Mais porquinho eu amava,
Pois mais havia pra amar...
Um amor apaixonado
Deseja do ser amado
Cada palmo, cada lado,
Um amar ilimitado...

Assim foi com Amadeu,
Quem deu o nome fui eu,
Após intenso pensar...
Mas... ouvi e sei de cor,
Se ele ficasse maior,
E o chiqueiro... bem menor,
Não tinha como ficar...

Meu Amadeu foi vendido
Por não ter compreendido
Que não podia engordar...
Não queria ir embora
Relutou, grunhiu lá fora;
Não sabia que era hora
Do nosso amor acabar...

Nem sabia eu tampouco,
No meu raciocínio louco,
A dor da separação!
Fiquei sem meu porco-amigo...
E a dor vive aqui comigo,
Na estrada que ainda sigo,
Cortando o meu coração...

Amadeu, meu grande amor!
Tu és do jardim a flor,
E ainda me dás perfume!
Se me doem os ouvidos
Dos guinchos de ti, doídos,
Saudade e choro, incontidos,
Da minha história são lume!
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

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