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"MARIAS DE TODAS AS FLORES"


























Capa: Arte de Ilka Vieira
Edição e Arte Geral: Drica Del Nero




PREFÁCIO I

"Marias de Todas as Flores"

No regaço de Maria, uma flor pra todo o dia. Flor de amor, de fé e dor, mas todas flores benditas, rendas de amor infinitas,  jardim tecendo sua flor. Nas mãos de cada Maria, Maria da noite e do dia, do fogão, do altar ao céu, há sempre um fervor na oração pros sonhos ficados ao léu.   
Podia ser Maria Cleide, mas é Cleide Maria, minha amiga e parceira, que me honra neste enlace, esculpindo do verso a face, sorrindo em Poesia.

Quem sabe o valor de um parceiro, de um querido garimpeiro, ao cantar em sintonia, sabe também que a alma, envolta em calma ou euforia, debulha-se toda em dueto, desfolha sua margarida e voa com o seu parceiro, tornado seu amuleto.
Parceiro é vida, é choro, é folia; É garganta se abrindo ao vento na celebração de um momento sublime em paz e harmonia.

Em "Marias de Todas as Flores", abraço-me a Cleide Canton, querendo ajustar meu tom em fraterna sintonia. Se na vida barcos ao mar, revivendo suas viagens, seus medos e suas coragens, desejos no ar ancorados...
... neste e-book suave de aromas perfumando nossos dias, regamos com amor e lágrimas as flores que jardinamos  no encontro de nossas "Marias".

Regina Coeli Rebelo Rocha
Rio de Janeiro/RJ-Novembro de 2009




PREFÁCIO II

"Marias de Todas as Flores"
  
Abrem-se, vestidas de festa, todas as flores em cores, saudando Marias.
Marias de todas as fadas, de todos os céus, de todas as luas...
Marias-de-Amor dizendo o que são como se nada fossem.
Marias beijando estrelas mesmo sabendo que amanheceu.
Marias mesclando a dor com ternura, sorrindo com faceira meiguice, plantando palavras que ecoam nos corações puros, brincando de ciranda na longa valsa da vida...

Poderia ser Maria Regina ou Regina Maria.
Mas é simplesmente Regina, na magnificência do seu significado.
Rainha-Mulher que se despe de orgulhos quando tece seus versos, quando abraça seus meios e enaltece seus fins.
Rainha-Mulher que vai além do que lê, desvendando o que ficou por ser dito, entrelaçando idéias coesas, dignificando uma parceria que resulta nesta melodia intensa, mas despretensiosa.

“Marias de Todas as Flores” é o fruto deste encontro de almas sem confronto algum, ditado por sentimentos enraizados na constante busca da beleza.

Cleide Canton
São Paulo/SP-Novembro de 2009.




MARIA DAS FLORES
Cleide Canton

Onde guardas as rosas perfumadas
os cravos, os jasmins, as margaridas,
as palmas, as orquídeas delicadas
violetas entre folhas escondidas?

Onde guardas sorrisos inocentes
encantos a dourar o teu viver?
Fechados nas gavetas inclementes
das dores que não podes esquecer?

Onde guardas os sonhos que viveram
dançando nos teus dias? Já morreram?
Ou dormem em alcovas flutuantes?...

Maria, és a Maria dos amantes,
madona nos altares flamejantes
dos crédulos que ainda não sofreram.

SP, 14/05/2009
 10:30 horas



MARIA DAS FLORES
Regina Coeli

Guardo perfume no sorrir da rosa,
Em fragrante poesia ao coração,
E no afagar-me, em cor, por cada mão
Que recita oração em verso e prosa.

Guardo risos em chuva copiosa,
Esbanjando inocência ou traição,
E sonhos num futuro puro e são,
Cevados na manhã esplendorosa.

Mas se eu guardar carícias e amores
Torneados em relíquias de marfim
No meu jardim de pecadoras flores...

... Serei Maria, e minha flor, meu fim,
Despetalada em todos os fulgores;
Então me ajoelho e peço aos céus... por mim!

Rio de Janeiro (RJ), 14 de maio de 2009.




CORAÇÃO VAGABUNDO
Regina Coeli

Meu coração, um barco em mar revolto
Nas águas inconstantes do meu peito,
A cada novo dia vê, desfeito,
O sonho de fixar um rumo solto...

Meu coração, em brumas hoje envolto,
Respira ar poluído e rarefeito
E faz o barco ansiar de um rio o leito,
Pra navegar sereno e desenvolto...

Mas, coração, se mar ou rio, és
Tu que te empurras, barco, a fomentar
Tuas tempestades muitas, ao invés

De escolher manso e cálido pulsar...
Expões teu casco à fúria das marés,
E, em alto mar, naufragas-te em amar...

Rio de Janeiro (RJ), 18 de dezembro de 2008.



CORAÇÃO DE MULHER
Cleide Canton

Pulsa em mim coração hospitaleiro
sempre a ter um lugar de puro afeto
a quem vem para ser o predileto
e se mostra sincero, verdadeiro.

Num verão de calor fica repleto,
num inverno a despir-se é o derradeiro,
num outono a cantar é o seresteiro,
primavera outra vez ele é secreto.

Vive alerta, sofrida experiência,
transgressor, apesar dessa vivência,
chora e ri, madrugada ou sol a pino.

Coração de mulher nunca desiste
nem deixa de bater quando está triste.
Anda solto, liberto e peregrino.

Em SP, 25/12/2008
19:30 horas




CERZINDO VERSOS
Cleide Canton

Voando nas alturas rompem asas
daqueles que procuram pelos sonhos,
e quando não alcançam, quão tristonhos
são martírios dançando sobre brasas.

Morre a chama, aventura malfadada,
morre o sopro, ilusão que se perdeu...
E eu pergunto: Onde foi que se escondeu
a beleza que um dia foi sonhada?

De que valem as asas remendadas
se até mesmo a vontade soçobrou
nos descuidos das minhas madrugadas?

Mas os versos, amigos de jornada,
vão surgindo no tempo que restou
desse tudo que agora é quase nada.

SP, 28/01/2009
21:40 horas





RENOVANDO  RIMAS
Regina Coeli

Se as asas se romperam nas alturas,
Debulhando ilusões por sobre o chão,
Os sonhos, de pirraça, viverão
Porque é deles que brotam as ternuras...

Que morram labaredas e quenturas
Daquilo que chegou como paixão...
Mas a chama que atiça... morra, não,
Porque ela vem clarear sendas escuras.

Sejamos águias de asas renovadas,
Vencida a dor de se arrancar a frio
As penas feias, mortas e quebradas!

E os versos, bocejando o seu estio,
Voam em rimas vivas suas geadas,
Acalentando o coração vazio!

Rio de Janeiro (RJ), 29 de janeiro de 2009.




EQUÍVOCOS
Cleide Canton

Eterna saga, vanguardas oscilantes
e, como dantes, a voz  se faz perdida.
Em despedida, tropeçam os amantes
no diamante da lágrima  retida.

Ligeiro, o tempo se vinga e a agonia,
à luz do dia, derrota a lucidez.
Não foi a vez...Venceu a covardia
em maioria, sem chance de um talvez.

É sempre assim, a história mal contada,
embolorada, se perde no rascunho
do próprio punho que dele se perdeu.

A dor do luto, no auge, amordaçada,
do tudo ou nada recusa o testemunho
que agora cunho, sem fé, num céu de breu.

SP,21/03/2009
16:00 horas



DOS EQUÍVOCOS
Regina Coeli

A voz oscila e tranca na garganta
Leveza santa num sentir inteiro
Como embusteiro solo para a planta
Que alguém desplanta ao viço do canteiro.

E num certeiro golpe a dor, que tanta!,
Vem e alquebranta o sonho alvissareiro
Num cheiro embolorado em cinza manta
Que espanta um já bem  triste sol festeiro.

Se um candeeiro irradia pouca luz
E bem reduz o brilho do que brilha
Inda estribilha o som  de quem seduz!

O que traduz o lume em fé andarilha
É suportar, na trilha, a própria cruz
Por certo engano que conduz e humilha.

Rio de Janeiro (RJ), 23 de março de 2009.




SOLITÁRIAS ROSAS
Regina Coeli

São duas rosas sozinhas
Invejando as andorinhas
Que se juntam pra espalhar
Pios cheinhos de amor
Acordando cada flor
Nos canteiros a sonhar...

Tão sozinhas as duas rosas
Lindas, belas e formosas
Cada uma veste um pranto
A lhe cobrir o perfume
Cheirando a tanto queixume
Em ondas de desencanto...

Sozinhas rosas, e belas,
Morando em duas janelas
Escancaradas ao sol
Bebem das gotas das chuvas
Se em parreirais são duas uvas
Amargando no arrebol...

Quem sabe rosas sozinhas
São como estas dores minhas
Ansiando ombro pra chorar...
Duas rosas separadas
São pétalas mal-amadas
Tristeza a despetalar...

Andorinha alvissareira
Voe na tarde brejeira
E me faça este favor
Apanhe a rosa de lá
E junte à rosa de cá
Pra elas viverem de amor...

Que juntinhas num vasinho,
Olhando-se com carinho
Ou num canteiro ao luar
Vendo as estrelas piscando,
Em pétalas se tocando,
Despetalem-se em amar!

Rio de Janeiro (RJ), 19 de março de 2009.



UNIDAS, QUEM ME DERA
Cleide Canton

Quem me dera, como as rosas
que em duo nascem, garbosas,
debaixo do sol ardente,
unir presente e passado
no mesmo viver sonhado
em terras de pouca gente.

Pudessem, os sentimentos,
dançar ao canto dos ventos
como fossem passarinhos
que ao arrebol da inocência,
às chuvas pedem clemência,
escondidos em seus ninhos.

Tal como as rosas unidas
num vaso, agora escondidas,
distantes dos temporais,
talvez minh'alma hibernada
encontre nesta invernada,
sonhos perdidos iguais.

Quem dera fosse verdade
que não houvesse a saudade
gritando dentro do peito.
Que como as rosas se abrindo,
os dois amores sorrindo
gozassem do mesmo preito.

Nos galhos, fazendo festa,
ao som da doce seresta
na roseira a balouçar,
rosas e amores unidos,
depois dos males vencidos,
são estrelas ao luar.

Tecem rimas, mostram cores,
espargindo seus olores
em louvor e gratidão.
Das duas rosas perfeitas,
pouco importa se desfeitas,
restou o amor em botão.

SP, 03/05/2009
12:50 horas



SE TE CALAS
Cleide Canton

Se te calas, a angústia me devora
em tal hora, no avesso da memória,
sem a glória da paz que não aflora
de um agora sem alma e sem vitória.

Se te calas, o medo me domina
nesta sina que ri ao meu abraço,
do fracasso que a vida descortina
qual rotina no riso de um palhaço.

Se te calas, o amor então padece
nesta prece que canto num lamento,
vão tormento que fere e embrutece.

Se te calas, me calo e abandono
este trono por ti outrora bento.
Juramento... Magia de um outono.

SP,17/02/2009
10:40 horas



SE ME CALO...
Regina Coeli

Se me calo, a tua ausência me devora
Calando em mim sons doces que são teus
Roubados da bagagem num adeus
A sonhos em pedaços vida afora...

Se me calo, o minuto gasta a hora
E impõe triste penar aos dias meus
Tão sós de ti, de mim, mas não de um deus
Vestido de esperança neste agora...

Se me calo, de mim me perderei
No silêncio angustiante de uma espera
Num reino que ficou sem o seu rei...

Se me calo, somente uma quimera
Ou palhaço sem graça eu serei,
Mostrando a dor que dói e desespera!

Rio de Janeiro (RJ), 20 de fevereiro de 2009.



AUTO DOS COMPADECIDOS
Cleide Canton

Não deites essas lágrimas nos veios
por onde já jorraram fantasias,
se puras se fizeram alquimias
no fim equidistante dos seus meios.

Não sejas o farol longe de guias
nem lume a alvoroçar os meus permeios.
Jamais aplacarás os meus anseios
na trégua que permito às alegrias.

Navego sobre mares sem segredos,
gadanhos a romper todos os medos
que cruzam os caminhos para o bem.

Guardados e seguros meus enredos,
bem longe desses teus olhares ledos
que logram respeitar o meu amém.

SP, 22/04/2009
16:00 horas



AUTO COMPADECIDO
Regina Coeli

A quem sugeres ser compadecido,
Quem verte lágrimas de amor por ti
Ou quem, por desamor, de si se ri
Confusa em tempo, vindo ou já partido?

Quem sente um bem-querer, mas não-querido,
Zomba do engano, chora e não sorri;
Sem luzes e sem guias eu te vi
Fugindo de sentir o teu sentido...

Condenas ao naufrágio a alegria,
Atrás de um navegar buscando a Luz,
Dizendo amém em crença muda e pia...

Assim vais carregando a tua cruz,
Alheia à mão silente e em agonia
Que à tua, em meu juntar, eu já supus!

Rio de Janeiro (RJ), 25 de abril de 2009.



(IN)DEFINIÇÕES
Regina Coeli

Tivesse eu de Cecília o transitório
Pra não querer do amor uma resposta
Num jogo sem jogada e sem proposta,
Prece pagã diante do oratório...

Tivesse eu de Clarice o ilusório
Do Amor, matéria-prima de quem gosta,
Ser muito mais do que uma leve aposta
Em que o ganhar já é contraditório...

Tivesse eu de Florbela a dura sina
De ser o cadafalso que fascina
No quanto mais sofrer, um mais querer...

Mas se o que esboço é simples entrever
Das cores desenhando o amanhecer,
Terei como adjetivo só... Regina!

Rio de Janeiro (RJ), 04 de setembro de 2009.



DEFINIÇÕES
Cleide Canton

Nos versos que desenhas tens a cor
de luzes que se fazem florescentes.
Acordam estes meus, antes dormentes
no berço da esperança, sem calor.

De pronto surgem frases ao sabor
dos ventos que assobiam negligentes,
entrando pelas frestas, vãos clementes
aos sonhos que renascem do torpor.

Importa o que de ti se faz constante
no canto que transborda, suscitante
de tantos outros versos cristalinos.

Herdaste de outras almas magistrais
a verve que as levou aos imortais
caminhos que selaram seus destinos.

SP, 26-11-2009



JORNAL DE ONTEM
Cleide Canton

Sobre a mesa,
o que foi manuseado em demasia.
Mal dobrado,
esconde a notícia da última página.
Mais um fato que se tornou banal
após as sensações do momento.
Mais um amor, que se dizia eterno,
encampado pelo vento.

E segues, cabisbaixo,
por novos caminhos, rumo ao desconhecido.
O meu olhar te acompanha, enternecido,
até que nem mais tua sombra
deixe vestígios.

Perdido em outros abraços,
encantado com a visão do novo,
tu ouves apenas a voz rouca e sensual
de paixões vestidas de lua,
embriagado por cantigas das sereias
que instigam as tuas buscas.

E te entregas, pleno,
ao perfume dos desejos primaveris
no auge dos teus outonos,
tingindo de carmim
as bocas cansadas de beijos ensaiados,
em corpos sedentos de abraços.

Conheço bem essa estrada
que leva, simplesmente, ao nada.
Permito que sigas...
Página virada!
Apenas te acompanha
a prece que murmuro,
pedindo ao Mestre que te guie
 e à vida que te ensine.

Não há mais calor
no peito que te acolheu,
no ombro que amparou as tuas derrotas,
nas mãos que curaram tuas feridas,
no lábios que secaram tuas lágrimas.
Terás mesmo que aprender sozinho.

Tomara que o teu jornal de amanhã
te faça vibrar
como vibraste nas nossas manchetes!
Tomara que permaneças notícia
nas páginas de rosto,
sem deixar pelo caminho
as lágrimas doridas
que tantos já derramaram por ti.
Tomara!

SP, 16/09/2008
10:40 horas



JORNAL DE EMBRULHO
Regina Coeli

Sou jornal renegado e já vencido.
Componho-me de páginas viradas
Por alguém que as tornou indelicadas
Por uso impróprio e mesmo indevido...

Tive valor, mas fui logo esquecido!
Trocado por notícias renovadas,
Que vendiam mentiras debochadas,
Por vezes fui dobrado e nem lido...

Noticiei cem venturas, mil tristezas...
Bem pouco distraí a quem me lia,
Porquanto só havia incertezas...

E agora, preterido e em agonia,
Vivo jogado em cantos, adeus mesas!
Só me resta embrulhar quinquilharia!

Rio de Janeiro (RJ), 15 de dezembro de 2008.



GARATUJAS
Cleide Canton

Desdenho dessas telas diamantes
que teces com pincéis em nostalgia,
no rubro que transborda em euforia,
valsando sobre nuvens vacilantes.

Garatujas de parca fantasia,
sem detalhes, em cores contrastantes,
nascidas de lamentos mendicantes
em vozes que não buscam estesia.

Liberto de tais vícios, com certeza,
as linhas surgirão na realeza
que outrora já se viu em teu cantar.

Retalhos que se cosem, em dourado,
farão tempo presente o teu passado.
E luzes brotarão do teu olhar.

SP, 30/06/2009
12:40 horas



RASCUNHO
Regina Coeli

Isso que escrevo é só um arremedo
De uma obra-prima que esperei fazer
Do mosto sepultado no meu ser
De parreirais vergados pelo medo.

Como pincéis que guardam um segredo,
Tintas vacilam tons em seu descrer...
Será amanhecer ou anoitecer
Nas cores que vicejam meu degredo?...

As telas descortinam desencanto
Nas páginas viradas e sem cor,
Nas letras tão sem forma e já em pranto...

Pudesse eu te dizer: "Vem, meu amor!
Segura a minha mão com teu encanto...
Passa-me a limpo, agora... por favor!...

Rio de Janeiro (RJ), 04 de julho de 2009.



REFLORIR EM MELODIA
Regina Coeli

Te deixo percorrer os meus caminhos,
Atravessar-me o hirto descampado
E mergulhar teus sons por todo o lado
Dos meus silêncios doidos e sozinhos...

Te deixo embebedar-me com teus vinhos
Que me incendeiam num prazer alado,
Servindo em taças de um cristal forjado
No forno dos senões e descaminhos...

Te deixo ser meu dono, meu algoz
A conduzir-me para onde for,
Seguindo simplesmente a tua voz...

Tu és pra mim o meigo tom do Amor,
Ó Música, a ressoar entre meus nós
Um êxtase, em canção, que me abre em flor!

Rio de Janeiro (RJ), 11 de julho de 2009.



ENCONTRO EM SINTONIA
Cleide Canton

São meus silêncios frutos de pensares,
notas vagas em pautas destemidas
como as flores das telas coloridas,
jogadas sem razão nos meus altares.

E me rendo ao ouvir os teus cantares,
ave presa sem rotas definidas,
buscando meus porquês nas outras vidas,
refém destas ondas dos teus mares.

Encanto que me prende, me fascina,
esboço de outro rumo dominante
na voz que me sugere e me domina.

Entrego-me ao torpor deste momento,
mulher enfim, vencida, eterna amante...
Das lágrimas, então, eu me aposento.

SP, 19/10/2009
19:40 horas



FANTASIA
Cleide Canton

Se te fazes senhor do meu apreço,
se ofertas sem penhor teu ombro amigo,
mansamente há de entrar o que mereço
pela porta, na noite que bendigo.

Bem o sei que sonhar tem o seu preço,
que viver por viver já não consigo.
Mas se ousas auscultar o meu avesso
verás o bem maior qu'inda persigo.

Se a chama do desejo acende ainda,
se é bela a minha sempre fantasia,
a febre a me prender será benvinda.
Pecado bem maior é a covardia!

A trama do passado se fez finda,
nas noites que teceram harmonia.
E a taça do prazer reluz e brinda
ao toque desta nossa sintonia.

Sem luz todas as cores são profanas,
perdidas em falácias dormideiras.
À luz acordam vozes suburbanas
tranquilas, livres, soltas, verdadeiras.

Razões já não nos faltam. Soberanas,
desfilam sem pudor, erguem bandeiras,
enquanto as ovações já doidivanas
se perdem como nuvens passageiras.

SP, 22/09/2009
21:00 horas



FANTASIA
Regina Coeli

Ah, se te posso demonstrar apreço
E te falar bem rente ao coração,
Não importa sequer meu endereço,
Pois não é nele que eu habito, não...

Moro em sonhos despidos de adereço
A me elevar além do que consigo,
E se é um sonho que me jaz no avesso,
É o meu direito, se tu estás comigo.

Desejo é o Amor que clama ainda
Por brasa de candente fantasia;
É luz que põe o brilho na berlinda
E acende nos sentidos galhardia.

Se a trama se desfez e agora é finda,
Levada por bondosa ventania,
A brisa há de afagar de tão bem-vinda,
Ressoando acordes-luz em sinfonia...

Na escuridão de lágrimas profanas,
Tateiam mil verdades tão certeiras,
Que choram as gargalhadas desumanas
Vestidas de emboscadas embusteiras...

Razões explodem no hoje, soberanas,
Agitam-se no ar como bandeiras...
Cuidar que não se rasguem, doidivanas,
Ou atiradas sejam... às fogueiras!

Rio de Janeiro (RJ), 18 de outubro de 2009.



CANTEIROS
Regina Coeli

Repouso o meu olhar nas meigas flores,
Resplandecendo amor diante de mim;
Do mundo, que tristeza, triste fim
Sem a beleza, em tons, dos seus olores!...

Elas me olham, e eu lhes sorvo as cores
E as tempero em perfume de jasmim...
E viro flor, no meu canteiro, assim
Cheirosa e colorida para amores...

Serão as flores fadas amorosas
Com seu condão de mágica poesia
A borrifar essências olorosas?...

Encantos passam, pura fantasia,
E nos canteiros de plantadas rosas,
Eu colho este abandono que me guia...

Rio de Janeiro, 07 se setembro de 2009.



JARDIM
Cleide Canton

Em harmonia plena dançam flores,
tecendo as fantasias perfumadas,
enquanto minhas mãos já calejadas
procuram, no podar, os meus amores.

São tantos entre tantos dissabores,
escondidos nas ramas das floradas
que calam, nestas minhas madrugadas,
e gritam no refrão dos cantadores.

Despidos da saudade passageira,
recolhem-se na imagem feiticeira
da lua que debruça no meu chão.

E torno a esse jardim sem nostalgia.
Devolvo ao meu olhar toda a alegria
e deixo só você no coração.

SP, 31/10/2009
1:30 horas



NOSSOS VERSOS
Cleide Canton

Os versos que fizeste, a mim somente,
brotaram como flores no meu canto,
secaram os arremedos do meu pranto
por ti que te mostraste tão ausente.

Se existe recomeço nesta história
de amor quase a temer a covardia.
é certo que será passado, um dia,
distante e empoeirado na memória.

Os versos que fizeste eu até creio,
que de escutá-los tanto eu me convença,
que sempre sentirei a tua presença
distante destas sombras que bloqueio.

E assim será por tempo indefinido,
enquanto houver um verso repartido
em sonhos que teimamos reviver.

Saudosa, chorarei essa lembrança,
até que me abandone a esperança
e a morte ponha fim ao meu sofrer.

Então tu saberás que as minhas flores
ofertei nos meus versos aos amores
que tentaram levar-me a te esquecer.

São apenas espelhos da saudade
qu'inda hoje se encolhem na vaidade
que cala o meu desejo de viver.

SP, 11/09/2009
2:35 horas



NOSSOS VERSOS
Regina Coeli

Nos versos que te faço, eu me refaço
E acendo em mim a chama que reclama
Brotar lírio na lama de quem ama
E adoça o descompasso num abraço...

No pântano das dores eu vi cores
E fulgor na aquarela que a janela
Me escancarava e bela numa tela
Emoldurava amores e os seus sabores...

Fiz-me de mim pintor do meu amor,
Pintando-te, meu rei, no que te dei
E com prazer cantei e perfumei
No verso com olor da minha flor...

E assim, rimando glória com memória,
Escrevo nova estória em minha história,
Voz da libido em sonho revivido...

Bate a saudade em hora que demora
E tristemente chora noite afora
A dor de não vivido o que é querido...

Te imortalizo ao verso em meu reverso,
Caminhando o perverso do diverso
De achar de mim, fugido, um jamais tido...

Cai minha rima ao chão na solidão
E chora o coração ao ver tua mão
Cantar pra outro alguém
(que não sou eu!)
o teu querer.

Rio de Janeiro (RJ), 19 de outubro de 2009.



ESPELHO MEU
Cleide Canton

Mulher feita, ou quase, como queiras,
debruçada em teus sonhos, fantasias,
foste em busca de perfeitas sintonias
com o mundo de alegrias passageiras.

Abraçada ao que achavas verdadeiro,
entre estrelas desfilavas confiante.
Não julgavas que o vôo, a cada instante,
fosse apenas um apelo feiticeiro.

E valsavas... Cada passo entrelaçado
entre as nuvens dos desejos escondidos,
eram contos por magias guarnecidos,
mas dormentes 'inda hoje, no passado.

Acordaste! Vês agora que a verdade
perambula, oscilante, em teus clamores,
que não fazem mais sentido nos amores
resguardados pelos laços da saudade.


Responde,
espelho meu:
Onde foi
que meu sonho
se escondeu?

SP, 23/08/2009
23:10 horas



ESPELHO
Regina Coeli

O refletir de imagens deslumbrantes
Não parecia perceber as horas
Que se apressavam a encontrar agoras
E não mais riam risos como dantes...

E no esplendor a lua em seu passeio
Distribuía brilho às estrelinhas
E ouvia queixas tristes e sozinhas
Vindas de um infeliz chamado anseio...

Na mente das lembranças revividas
Cores valsavam em palco desarmado
Num fosco tom de imagens do passado
Sintonizando antigas despedidas...

 Acorda! Vês agora o que é a verdade?
Ignoraste o que o aço refletia...
Que a cada dia mais se despedia
O olor da flor perdida em mocidade...

Atende o meu pedido,
espelho meu:
reflete,
uma vez mais,
o que fui eu!

Rio de Janeiro (RJ), 21 de outubro de 2009.



AINDA SOU FLOR!
Regina Coeli

Ainda que sem pétalas, sou flor!
Cheiro a perfume que exalei um dia,
Inebriando a minha fantasia
De enfeitar o jardim do meu amor.

Se pétalas perdi no meu ardor
De colorir o que, sem cor, eu via,
Sei que a flor tem seu tempo de magia
E, como o sol, tem hora de se pôr...

Nasci botão, sou flor e, sem retarde,
Sinto meu colorido esmaecer
Como um amanhecer que jaz na tarde

E morre ao encontrar o anoitecer...
Não tenho que fazer da morte alarde,
Pois o que nasce acaba por morrer!

Rio de Janeiro (RJ), 07 de janeiro de 2009.



SEMPRE FLOR
Cleide Canton

Sem pétalas despenca a velha flor
(final que a Lei Maior estabelece).
Sementes vão vingar ao sol que aquece
guardando o seu perfume e a mesma cor.

E cobre-se o jardim de tanto amor
se a chama de quem cuida não fenece
que em cada amanhecer surge uma prece
louvando a onipotência do Senhor.

Sou flor do meu jardim, bem resguardada
da poda que não houve, sou cuidada,
por mãos que não recusam atenções.

E quando eu for levada pelo vento,
talvez se cumpra, pleno, o meu intento,
gravando este perfume em corações.

SP, 14/02/2009
01:30 horas



MARIA, MARIA... E AS FLORES...
Cleide Canton

Marias tantas, flores recolhidas
em almas solfejantes de momentos
explodem em mutantes pensamentos
na pena que desliza às escondidas.

Marias vem à tona em mil lamentos
pudicas, sedutoras, decaídas,
de flores todas elas guarnecidas
em sorrisos que mostram sofrimentos.

Marias, mais que fadas, feiticeiras,
encolhem-se nas faces rezadeiras
dos poucos que conhecem seu viver.

Maria, és a Maria dos enredos
que agora não esconde mais segredos
nas falas que disseste sem querer...

SP, 05/06/2009
20:30 horas



MARIA, MARIA... E AS FLORES...
Regina Coeli

Quem foi que desprezou os teus primores
E te apartou dos risos tão felizes;
Quem foi que embaralhou os teus matizes
Nas dores que ofuscaram tuas cores?

Onde é que estão teus cheiros sedutores
A perturbar acertos e deslizes...
Como fazer brotar das cicatrizes
Tua beleza em delicadas flores?...

Maria, a fêmea mártir das donzelas
Ou pecadora em flerte dos amantes
Nos quartos tão sem portas e janelas...

Maria, as flores pintam teus instantes
Em versos enfeitados de aquarelas
Num hoje que sublima aqueles antes...

Rio de Janeiro (RJ), 23 de outubro de 2009.



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