Web Statistics

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Sonhando Um Novo Natal


Sobre a mesa a toalha branca
simboliza a doce Paz
que só com Amor se alavanca,
fazendo o que não se faz. 

Por sobre a toalha o pão,
um símbolo para o mundo,
completa satisfação
a um desejo, o mais profundo: 

banir de vez a torpeza
com gosto de humilhação
de tanto pobre sem mesa
e tanta mesa sem pão. 

Também sobre a mesa o vinho,
um copo d'água, que seja,
pra festejar o caminho
à verdade benfazeja, 

que é ter a essência do Cristo
no pulsar de cada veia,
ser irmão de um irmão, benquisto 
no chão de qualquer aldeia. 

Seria tão bom, seria...
... Ver o mundo aos Céus voltado
em acordes de harmonia
ecoando por todo lado.  

Sonho a aura do Natal 
perfumando cada dia
em que o Bem convença o mal
de que o Bem Paz irradia; 

e, sobre a mesa, a iguaria
no mais sublime sabor:
nos corações a poesia
do mundo cheirando a flor. 

...

Um Natal de Paz e Amor para todos e para os seus familiares.

Com o exercício da Fraternidade, façamos um 2014 

feliz e próspero.

Tenhamos a Amizade como um bem de valor

incalculável, construído e cuidado a cada minuto,

a cada palavra, a cada gesto, a cada reação,

a cada desejo, a cada pensamento...

... sempre com carinho. E tudo será melhor.


Abraços fraternos de Regina Coeli, 
agradecida e honrada por sua presença neste sagrado espaço,
bem como por sua atenção àquilo que escrevo,
belamente ornado em Imagens com a Arte, as Cores e o Talento da
minha querida amiga ILKA VIEIRA.

           

Rio de Janeiro/RJ, 25 de dezembro de 2013.






sábado, 21 de dezembro de 2013

Porta Fechada


Mudei de rota e fui perdendo o passo;
Mostrou-se lasso o meu querer de tudo;
Sem conteúdo o tom do meu abraço
Tornou-se um traço num desenho mudo.

E fui vivendo apenas no compasso
De um olhar baço em meu sofrer agudo
Tão pontiagudo a estraçalhar meu laço,
Roto pedaço com o qual me iludo...

O que fazer, se a noite é tão escura,
Se a vida é dura e o vento geme triste
E se inexiste um bem pra essa cura?...

É obscura a luz que ainda existe,
Pois te fingiste cheio de ternura
Na doce jura a mim... quando partiste.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Saudade


Tu foste embora, meu amor, eu creio...
Ou vais chegar um dia para mim...
A Vida não é todo um pranto assim
A verter lágrimas em vão anseio...

Se perco o sol, da solidão o seio
Eu busco e faço dela o meu festim,
Forrando-me sozinha em bom cetim
Enquanto espero aquele que não veio...

Na lentidão que só me crucifica,
O desfilar sem pressa das estrelas
Num apaga-acende que ninguém explica...

Saudosas dores, dói-me muito tê-las!
Mas se "saudade é amor que insiste e fica",
Melhor senti-las doendo a emudecê-las!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Vida Minha


Quero-te no esplendor da fresca madrugada 
Sentir de ti o amor aceso em mim vibrando
Como se fora o fim de um ciclo se fechando,
Mas já surgindo a flor ungida e perfumada.

Quero-te à beira-mar como onda encapelada
Rugindo os teus lençóis em cios, espumando
Em águas para o sol, sorrindo a um novo quando
Que chega com prazer na flor desvirginada. 

Quero-te num sentir maior do que o sentir
Sendo pra ti refém, amante dos teus dias,
Fechada em tua prisão, mas livre pra partir.

Quero-te, Vida-Mãe, e além das cercanias 
Da Terra, mar e céu, tu estás, doce elixir 
Que amo e bebo no olhar, enquanto me vicias!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Coração Vagabundo


Meu coração, um barco em mar revolto
Nas águas inconstantes do meu peito
A cada novo dia vê desfeito
O sonho de fixar um rumo solto.

Meu coração, em brumas hoje envolto,
Respira ar poluído e rarefeito
E faz o barco ansiar de um rio o leito
Pra navegar sereno e desenvolto.

Mas, coração, se mar ou rio, és
Tu que te empurras, barco, a fomentar
Tuas tempestades muitas, ao invés

De escolher manso e cálido pulsar...
Expões teu casco à fúria das marés
E em alto mar naufragas-te em amar...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Quando?




Quem sabe, em bela sala, eu a cismar
No acolchoado macio dos sofás
Ouvindo o crepitar do fogo em ais
Lambendo em chamas todo um esperar...

Um amor que conjugou o verbo dar
E feneceu nas cinzas de um jamais;
Vencido em suas mágoas lá de trás,
Esquivou-se a um futuro em seu raiar...

Não cabe nem à porta meio aberta
Nem à sacada fria da mudez
Testemunharem triste descoberta:

Pudesse eu te esperar a cada vez
Numa choupana rude, sem coberta
Amando eternamente... sem talvez!...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________



sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Prece ao Sabiá


A aurora chega e traz lindo sabiá,
Envolto na florida primavera,
E o seu cantar é vívida quimera
Que se torna verdade frente o olhar.

São sons angelicais que vêm de lá...
Espalham-se por cá... Ah, quem me dera
Alçar a voz além dessa tapera,
Que é a minha garganta em dó, sem fá... 

Que tragas, ó sabiá da laranjeira, 
O fulgor do laranja do teu peito, 
Pra colorir de Amor a vida inteira...

E quando eu descansar no triste leito,
À espera de uma aurora alvissareira,
Vem junto, ó sabiá, só do teu jeito...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
____

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Voando


Leva-me embora, doce passarinho,
Pra eu passear as minhas desventuras
E as consolar no topo das ternuras
Em que balança, leve, esse teu ninho.

Nas tuas asas, cheias de carinho,
Eu beberei do verde das culturas,
Dos mares que amolecem terras duras
Onde pisei em passo tão sozinho.

Verei o sol cuspindo amor ardente
Nas labaredas fúlgidas e belas
Por sobre as serras, sobre toda a gente...

E nos jardins as flores mais singelas
Acenarão pra nós alegremente
E eu sorrirei na cor de todas elas...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Ausência


Não há de ser banal qualquer espera
Daquele que se quer, e que não vem;
A dor da ausência dói em todo alguém
E, por amor, cansada diz: - "Tolera!”... 

Se alguma voz, por muda, dilacera
E traz-te um pranto à falta do teu bem,
Ai, dói profunda ausência em mim também
E a sinto como escárnio de quimera...

Minutos que machucam como açoites...
E as horas vão ficando tão sombrias...
E os olhos acham nada nos pernoites... 

Ah, se eu pudesse... triste não serias...
Dava-te a solidão das minhas noites
Pra beijar a saudade dos teus dias!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________



Meu Imaginário


Queria ter uma alma doce e bela
Tal qual a alma de um gentil poeta 
Que tece o verso em luz por si discreta,
Mas que ilumina, plena, em torno dela... 

Queria ouvir a chuva em aquarela,
E cada nuvem, instável e irrequieta,
A derramar no mar a dor do poeta
Que soluçou pra lua da janela!   

... Florir palavras, reflorir o amor
E ser capaz de as almas encantar,
Pintando em verso o que nem tinha cor... 

E no amanhã, a morte a me levar,
Pudesse ouvir de alguém fiel louvor 
De ser poesia o que eu ousei cantar!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_______

Quero


Quero, sim, que me dês o teu amor
Assim manso... na ardência do teu beijo...
Bem suave... no tom certo de uma flor
Que ao sol se mostra plena de desejo...

Quero, sim, me iludir nesse torpor,
Me embriagar de ti sem qualquer pejo;
Calar o ontem, seja como for,
Vestindo as emoções que tanto almejo...

Banhado em lágrimas será o olhar
Que te darei no meu sonhar inteiro
Como a lembrar aquele amor primeiro...

Das minhas águas formarei um mar...
Serás um barco em mim a navegar;
E a solidão, intruso passageiro...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Lantana


(texto oferecido ao querido poeta e amigo Elio Mollo,
de A Era do Espírito)

Repare dessas flores a beleza!
Um mimo de ternura num buquê 
Bonito, sem porém e sem porquê,
Arranjo pela mão da Natureza... 

Elas revelam só delicadeza,
Carícias para mim e pra você,
Se a gente sente... mais do que se vê,
Vestindo o olhar de amor e sutileza.   

Perfume pouco. E a tez não é sedosa,
Mas caprichosamente junta cores
De tons e sobretons encantadores! 

Mãe-Natureza, tens-me aqui tão prosa
Bebendo da lantana os Teus primores, 
A Tua essência, e até esqueci a rosa...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_______



A Cada Despertar



Eu sinto a brisa alegre do meu dia
Cantando suavemente pra alegrar
As cores nos jardins a bocejar
Beleza tão sublime que extasia...

A mão do sol me vem e acaricia
Minha tristeza muda a soluçar
A lágrima que turva o meu olhar
E esconde o bem-te-vi que me sorria...

Vou ao ontem, apanho lá um sorriso
E o faço cor de prata à luz da lua
Em brilho a iluminar o irmão da rua...

Empresta-me tua flauta, que eu preciso,
Meu lindo sabiá da laranjeira,
Pra musicar de amor minh’alma inteira.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Dama da Noite


Copos enfumaçados de tristeza   
E garrafas vazias por inteiro
Revelam a saudade sobre a mesa
Embriagada de restos no cinzeiro.

As lembranças viajam com a fumaça
Afogando meus ais em cada trago... 
Quisera eu não ter sido uma devassa
Que amou mais o dinheiro que um afago!

Por muitas mãos passei, todas distantes,
Mas guardo apenas duas na memória,  
Que despertaram em mim gozos amantes...

Despedi-me em adeus frio e sem glória
De amar o amor em cálidos instantes,
Procurando esquecer a minha história...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________________





O Amor Que Eu Imagino


Lindo, lindo é o amor que eu imagino
Tão puro como são os passarinhos
Que habilidosos fazem dos seus ninhos
Notas de vida construindo um hino.

É colorido o amor que eu imagino;
Chuva a cair nas flores dos caminhos
Tão mansamente presas nos raminhos,
Mas que se entregam ao sol em desatino.

O amor que eu imagino é como o mar,
Enorme em águas a avançar voraz
Pra se encontrar com a areia, e espraiar...

O amor que eu imagino é muito mais;
No chão um par de pés o céu a olhar
E de abraçar estrelas ser capaz!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Assim...


Podem passar os dias sem brilhar.
Podem as noites sonegar perfume.
Eu viverei apenas do teu lume,
E, sempre, em mim teu cheiro há de ficar. 

Saiam jangadas cedo para o mar,
Mãos em adeus libertas de ciúme,
Voltem vazias as redes do azedume
De nenhum peixe pego pra contar... 

Na areia a te esperar, ó meu amor,
Eu já não sei se voltas para mim,
E o que me chega é esta imensa dor... 

Terra vazia, rosa sem jardim,
O mar... uma jangada a decompor...
E a morte a decompor-te em mim... assim... 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________

Cantiga Triste


Àquele alguém que amei, eu dediquei
Meu bem maior, eu sei melhor agora,
Quando a saudade invade e a alma chora,
O que ofertei foi muito, e eu apostei...

Mais eu tivesse, e em mim quisesse, a lei
Do coração, razão que me enamora,
Permitiria vir, sem ir embora,
Meu doce amor, a flor que em mim plantei...

A flor que enchi de sol, e no arrebol
Reguei seu chão de mim... E então morreu
Minha ilusão, canção de um rouxinol...

Hoje sou só, meu sonho em pó sou eu,
Tão desamado e guiado por um sol
Que águas sorveu e em mágoas me escondeu.  

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
________

A Descoberto


Encastelada em sonhos, eu sonhei. 
No corredor da minha fantasia,
Tão grande o mar, a mim não negaria
Só uma onda, eu súdita e ele um rei. 

Foi tanto, tanto tempo que esperei...
Dia após dia, o sol vinha e partia.
A lua pelas noites se perdia.
Até que, finalmente, me cansei.  

Quem sabe a dor da espera vá matando
A fome de quem vive de esperar
E mate na raiz um novo quando... 

Não será! Se hoje o mar no seu ondear
Já não me vê na areia o esperando,
Suave rio tomou o seu lugar. 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
___________

   

Dor de Amor


Talvez o Tempo te revele o quanto
Me aperta o peito, em entristecer intenso,
Cruel saudade quando em ti eu penso
E dela eu faça o meu maior encanto... 

Talvez não possas compreender o tanto
De um grande amor se revelar infenso, 
Quedar-se em pranto, mas sem ter um lenço...
Vibrar feliz, mas bocejar quebranto... 

Será, Meu Deus, a me lembrar Camões,
Que a minha dor me crucifica e eleva?
Se o meu chorar faz-me abrandar senões, 

Floresça o amor que a minha sina ceva,
Banhado em lágrimas e até ilusões,
Aleia em flor que a te encontrar me leva! 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
______________

Liberdade


Cai a noite e lá fora, na senzala,
O silêncio vazio comemora 
Os que foram, contentes mundo afora,
Viver sua alegria e sua fala.

Aquela voz que, proibida, cala
Razões sobre o seu hoje e o seu outrora,
É como alguém que cansa e vai embora,
Deixado a esperar na ante-sala.

Há tons de liberdade nesta Vida:
As asas conseguidas pra voar
Nem sempre levam a qualquer lugar...

... E, em mim, algemas fazem-me querida
Nesta minha alforria concebida 
Pra eu ser feliz, escrava só de amar!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_______

Sonho Triste


E vinhas vindo, amor apaixonado,
Nas mãos dois lírios de real brancura,
Um branco de beleza e formosura
Todo de paz e de emoção tomado.

E vinhas vindo, amor iluminado,
Nas mãos a dádiva talvez mais pura 
Do chão a comover-nos de ternura
Na flor bonita e sem nenhum pecado. 

Enfim chegaste, amor, por mim passando
A levar lírios que julguei por meus,
Nem mesmo o seu perfume me deixando...

Assim sumiste do meu sonho, em adeus
De mim levando as flores, e eu murchando
Em mim por entre os restos meus e teus.

Cartasde alforria
Escritos de Regina Coeli
_______

Teatro de Nós Dois


Num palco de ilusões subimos nós
Atores em papéis complementares
Com pés postos no chão e alma nos ares
Vibrando um vão sorrir em cada voz. 

Comédia pra afrouxar valentes nós
Que apertam em tristezas e pesares,
Eu rio e tu, risonho, a me fitares
Em atos que revelam estarmos sós... 

Fazemo-nos mais próximos e amantes,
Dos risos brotam lágrimas flagrantes
Do tudo o que eu te digo e do que dizes. 

Ao término os aplausos retumbantes
Saúdam nossas máscaras felizes
Que caem em sangradas cicatrizes!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
________


Busca


Sempre eu te procurava aqui e ali...
Em tudo eu buscava te encontrar,
Nos pássaros garbosos a voar,
Do triste sabiá ao bem-te-vi...

Por cá, por lá, seguia a te buscar...
Sob o sol, seu calor a me cobrir...
Andei na chuva, aonde mais eu ir?...
Eu muito te buscava, sem te achar...

Acompanhei o mar num ir-e-vir...
Pensei que fosses nuvem a sumir...
E eu só, a procurar, sem encontrar...

Fechando os olhos, pude ver a ti!
Estavas, Deus, tão perto, e não te vi!
Sempre estiveste em mim... a me buscar!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
______




Cão Sarnento


Por tão escorraçada dos lugares
Dos corações expulsa a pontapés
Me afoguei nas enchentes e  marés
 Dos prantos meus formando tantos mares... 

Mandei as gentes todas pelos ares,
Tão cheia estava em meio aos rapapés 
Que insistiam em saber — "... e tu, quem és?"
— Quem sabe eu seja aquilo que pensares...

Senti-me longo tempo como um cão
Sarnento e tristemente maltratado
Pelas ruas perdido e ignorado... 

Mas hoje tenho o pelo bem cuidado,
Penteado pela amiga solidão,
A sarna que invadiu meu coração...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
______



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Flor da Paz


Ao percorrer as ruas do meu eu,
Sinto que o sol se esconde devagar...
Quem sabe eu possa ainda ver brotar
A flor neste meu chão que entardeceu?

O que plantei parece que morreu,
Pois tenho as mãos tristonhas de chorar...
Quem sabe ainda exista algum lugar
Bonito pra eu plantar um sonho meu?

Nas ruas do silêncio, silencio.
Semeio doce aroma de jasmim
No amor fraterno que enche o meu vazio.

E sinto a Paz brotar no meu jardim.
São pétalas que abafam meu sombrio
De bela flor a enfeitar meu fim!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
________

  

Mulher



Mulher, etéreo óleo-sobre-tela,
Pintura em tons seletos de harmonia;
Aplausos ao pintor, na maestria
Do uso do pincel que a faz mais bela!

No corpo, um escultor bem a revela:
Suaves ondulações em simetria;
Sua alma, altar da dor e da alegria,
Embala uma oração doce e singela...

Aroma bom de mato e de pureza...
Um ser de  amor, regado a emoção...
Rainha em meio aos bens da Natureza...

Mulher, tu és a mais sensual canção,
Cantada em poema cheio de beleza,
Pelo poeta, no tom do coração!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_______

Ainda Sou Flor!


Ainda que sem pétalas, sou flor!
Cheiro a perfume que exalei um dia
Inebriando a minha fantasia
De enfeitar o jardim do meu amor.

Se pétalas perdi no meu ardor
De colorir o que, sem cor, eu via,
Sei que a flor tem seu tempo de magia
E, como o sol, tem hora de se pôr...

Nasci botão, sou flor e, sem retarde,
Sinto meu colorido esmaecer
Como um amanhecer que jaz na tarde

E morre ao encontrar o anoitecer...
Não tenho que fazer da morte alarde,
Pois o que nasce acaba por morrer!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Altos e Baixos


Lindas palavras deste aos meus ouvidos
Que a minha alma, ávida de amor,
Saiu de desbotada e triste cor
Levando ao céu meus sonhos coloridos.  

Numa escala em bemóis e sustenidos
Tua canção musicava só ardor 
Até silenciar no desamor
De palavreados débeis quais grunhidos. 

Bem sei que a dúvida é cruel e atroz
Fazendo par constante aqui comigo
Por não saber por que brigamos nós... 

De um nada no caminho que ainda sigo
Irrompe o som macio da tua voz,
Que eu jamais soube um prêmio ou um castigo! 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________


Passeio

Passeia em mim a ânsia de te ver
Sentindo o teu sentir perdido em mim
Vertendo doce essência de jasmim
Querendo-me bem mais que um bem querer...

Beijos passeando à luz do alvorecer
Criando bordadas chances só de sim
Num hoje que segreda por que vim
Te dar além do que querias ter...

Nas sombras a passear felizes risos 
No tilintar dos sinos e dos guizos
Te enchi de amor de plena perdição...

E agora que me sabes da paixão
Zombas deste meu pobre coração
Ao passear em tua boca os meus sorrisos! 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
____________________







Dois Tempos


Se o Tempo fere (ah, fere o Tempo enquanto passa...) 
E pisa os sonhos (tão pisado o que sonhei...), 
Pergunto ao Tempo: — Tempo, diz-me a tua lei 
E o Tempo ri, e passa perto, e nem me abraça...

Voltei no tempo e achei-me rindo numa praça 
Cheia de flor... Juntinho a mim eu me sentei 
Para encontrar o tempo exato em que deixei 
Fugir meu tão bonito sonho e a minha graça... 

Senti brotar em mim bolinhas de sabão 
Tão coloridas como aquelas que eu fazia 
Soprando sonhos por canudo de mamão... 

Olhei pro lado e vi um olhar que me sorria...
Me descalcei do Tempo e os pés pousei no chão;
Corri, virei criança e me abracei ao dia!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________


Tuas Rosas


Estremeço ao esbarrar no verbo amar
Num passado de mim que já passou
E morre tão-somente em quem deixou
Tempo futuro sem se conjugar...

Das quatro asas batidas pra voar
Um par se foi, e ainda não voltou;
Levou a alegria, e o que ficou,
Tão triste, preferiu o chão ao ar...

Fui-me arrastando e a terra fez-se arada
Por meu parzinho de asas desvalidas,
Por minhas lágrimas ficou aguada...

Hoje voei subidas e descidas
Pra te entregar, da terra bem amada,
Estas rosas cuidadas e colhidas.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
________

Fragrância


Amei-te no perfume delicioso
Brotado dos teus versos bem faceiros
Cheirando ao doce tom dos jasmineiros
Floridos num passado esplendoroso. 

Nas rimas evolavas um dengoso
Aroma, e em teus balanços seresteiros
Embalavas-me os sonhos nos canteiros
Do teu poema lindo e tão amoroso. 

Aos poucos teu silêncio foi chegando
E a rima, que cantava e me sorria,
Não tinha mais olor me inebriando. 

Acaso me perdi da fantasia
Ou, aberto o teu frasco a um novo quando,
Deixaste evaporar a poesia? 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________

Volta


Por tantos infortúnios fui tragada
E vi meu pranto se curvando ao chão
Sem mesmo disfarçar a comoção
Ao ter a minha flor do amor pisada. 

Foi duro esse retiro em invernada.
Contive-me diante da emoção
De vir pedir carinho à tua mão
Pra ter, em mim, a fome mitigada. 

Chorei, sofri, carpi, me desolei,
E finalmente ergui-me do que sou
Para fazer valer, do amor, a lei: 

— De todas as tristezas me restou
Uma saudade infinda (só eu sei!)
A me trazer de volta. E aqui estou! 

(Se perto, dói-me a dor de amor por ti;
De longe, muito mais eu a senti...) 

Cartas de alforria 
Escritos de Regina Coeli
______

Intempéries


Como aragem suave me chegaste,
Seduzindo-me a cor em meu matiz,
E ao balançar o meu botão na haste,
Fizeste-me uma planta mais feliz. 

De forma sublimada me roçaste
E tão dengosamente assim te quis,
Vibrei de amor por ti, por mim vibraste,
E estremeci-me, fundo, na raiz. 

Inebriada, envolta  em sentimento,
Amava... eu cada vez te amava mais,
Até que a tua brisa fez-se vento 

Que arrancou-me do chão nos vendavais
A transformarem sonhos no lamento
De, nunca,  rosa eu ser em teus rosais! 

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________

A Guerra em Flor


Usar pincéis para pintar a tela  
Ou dar às mãos o modelar do barro 
É cor do sentimento em aquarela  
Ou o sentir amalgamado em jarro.  

A arte expressa. Vem dizer naquela  
Ou nesta forma o lindo ou o que é bizarro  
Numa explosão do Ser que vem e revela  
Quão belo pode ser um beijo ou um escarro. 

A Cisjordânia fez nascer a flor   
Nas cápsulas de gás, horror e fel    
Jogadas pelo Estado de Israel.  

Por sobre escombros, abençoa o Céu   
A Arte de tornar sublime a dor, 
Pra que não morra ao peito a flor do Amor.  

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________

Melhor Calar


Pra que falar, se surdos são os ouvidos?
Voltada a alma aos últimos delírios,
Não mais se encanta com a cor dos lírios
Que purificam pântanos sofridos... 

Pra que falar, se os tons enaltecidos
Já não colorem a estrada dos martírios?
Por onde andam os sonhos tão empíreos,
Que aos astros se abraçavam, embevecidos? 

Pra que falar, se quase morta a flor
Suspira à noite o dia que não vem,
Negada à claridade a sua cor? 

Melhor calar, pois o silêncio é um bem
Que pode reflorir calado amor
No silencioso chão de um outro alguém!  

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
__________




segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Vacância


Foi minha sina eu desejar a flor
Airosa e bela nos jardins dos dias
De um chão de adubo em ledas fantasias
E ver chegar botão mirrado e sem olor...

Viver nas nuvens, no ar ou onde for;
Arar o chão, mas ter as mãos vazias,
Num revelar de inférteis cercanias
De onde pensei colher a flor do amor...

Admirando o céu, no mar nadando
Nada chegou a mim... nem um talvez...
E hoje não creio mais num novo quando...

Aquela flor é a minha calidez
A vicejar, enquanto completando
Vou o que falta até chegar-me a vez!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
___________



A Solidão de Uma Flor


Ah, solitária flor em alma doada
Às fúlgidas manhãs de sol nascente
E às madrugadas embalando gente
Que toca o sonho em lírica toada... 

Sorriso destoante na braçada

Sufoca um pranto mudo e penitente
No anseio por um fogo incandescente
Pra arder suas pétalas, fazendo-a amada. 

Sôfrega mão se estica pra pegá-la

E ela se entrega, lúdica de amor,
Mas morre seca em desalmada sala. 

O que é a felicidade pra uma flor?

Plena em perfume a quem acariciá-la,
Faz desse olhar o tom da sua cor. 

Cartas de alforria

Escritos de Regina Coeli
_____________

Hino ao (Nosso) Amor


Nos céus azuis e no brilhar de estrelas,
Na serra verde e no caminho em flor;
No mar em águas se espraiando em cor,
Beijando areias te senti sem vê-las. 

Nas emoções (grata alegria é tê-las!),
Tão vivo encanto a despertar o ardor
Como poções a embebedar-te, amor;
Delas fugiste, pra afinal bebê-las. 

A lira de ontem fez brotar, vivaz,
Mágicas notas que cantaram tudo
De um grande amor, mas que não cantam mais.  

Olhando o Tempo, taciturno e mudo,
Dedilho um hino ao meu amor fugaz,
Que soçobrou ante um maior, contudo.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
____________