Web Statistics

domingo, 23 de novembro de 2014

EXERCÍCIO POÉTICO: Florbela Espanca (Portugal) & Regina Coeli (Brasil)


























TORTURA
Florbela Espanca 

Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento,
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…  

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!… 

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!  

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!
 

(Florbela Espanca -  Livro de Mágoas)




FLOR BELA
Regina Coeli

Da terra sempre vem do coração
A flor que é puramente verdadeira,
Que se abre à luz do sol, completa e inteira,
Depois passando ao pó de uma ilusão. 

Cantada em tom de verso e de canção,
A flor vive o seu tempo na floreira
Ou num jardim, qual rosa na roseira
Junto do espinho em santa comunhão. 

Teus versos podem ser os girassóis
Pendendo diante de olhos à janela
Que os leem e se sentem menos sós... 

No Tempo o verso triste e altivo sela
Teu nome, refrigério aos nossos nós,
Perfume da Poesia, tu, Florbela! 

(Rio de Janeiro, 20-02-2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário