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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Velha Goiabeira



















Quando cheguei
Já te encontrei
Árvore limítrofe
Te conservei
Não te cortei

Teu fruto saboroso comi
(Trabalho teu de muito tempo, refleti)
Com pássaros vários dividi
Pardal, sabiá, sanhaço e bem-te-vi
Dos galhos que iam para a casa ao lado vi
Serem colhidos os teus frutos, até assisti...
"Frutos que vão virar doce", da vizinha ouvi;
Pouco depois, cheiroso aroma senti.

Época dos frutos acabada,
Tua função dadivosa então terminada,
Eis que ouço a voz da tal vizinha, alterada:
Reclama de tuas folhas lá caídas, enfezada...

Aquela que tomou os frutos dos pássaros
— e se deliciou —
Aquela que desfrutou do teu trabalho
— e se regozijou —
Aquela que fez doce do teu fruto
— e se lambuzou —,
Volta-se contra ti, operária silenciosa,
Que nunca se importou
Em ofertar frutos que, sem nada pedir
Em troca, doou.

Perdoa, minha velha goiabeira, perdoa
Perdoa aqueles que nunca te amarão
Esquece, por favor, o insulto que atordoa,
A incoerência, o desamor e a ingratidão.

Querida árvore, mãe de frutos e de Vida,
Perdoa os cegos e insensíveis
— aqueles que não vivem, jazem.
Curvo-me a ti, grata, mãe obreira, mãe querida,
Perdão, mãe-árvore, "eles não sabem o que fazem!”


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Um comentário:

  1. Minha Regina
    Sua sensível homenagem à velha goiabeira, ¨mãe árvore tão dadivosa¨, decerto seria dividida por ela com tantas outras árvores maltratadas e derrubadas por todos os cantos, por aqueles que se julgam humanos...
    Para você, meu amor e meu beijo carinhoso.

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