
Aqui estou, meu mar, pra caminhar as tuas ondas
de desejos ancorados. E as tuas espumas doces
de alfenim arrebentando nas areias sequiosas de ti...
Chego para me dar às águas de um jardim
de deliciosas pétalas, em marolas
que derramas graciosamente sobre mim...
... Ou de impetuosos movimentos teus a
estraçalhar pobres e cansadas canoas
que se entregam a ti para morrerem felizes...
Aqui estou, meu mar. E deposito em ti
o que restou de mim após ter perdido o passo
em terras cheias de buracos e emboscadas...
Trago-te um corpo fremente de emoção
e um espírito serenado nas cantigas
vigilantes das tuas instáveis marés.
Como um passarinho,
pousei no ir-e-vir do sol
e no caminhar cuidadoso da lua.
Percebi e me aquietei.
Semeei-me e colhi a minha flor.
De suas cores me enfeitei.
E hoje,
coração aberto
e meu sonho desperto,
entrego-me a ti,
meu mar,
pra que me ames
macia
ou
vorazmente.
Do jeito
que esperei.
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli