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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

SONS DE SAUDADE

 

Inesquecível Arte de Sonia Pallone


Fico surda aos sons de fora

Só escuto o som de um violão 

Que vem chorar seus acordes

Bem rente ao meu coração

Trespassando o meu presente

Com cordas de solidão...

 

Brotam meigas sensações

Que embotam os meus sentidos

E eu me transformo em passado

Só com alma, sem ouvidos

Explodo em muitas canções

E em suspiros já vertidos...

 

E o pensamento se agita

Busca em cada melodia

O Amor em seu esplendor

Na serenata de um dia

Que dormia no passado

E de cá não mais se ouvia...

 

O pensar tem suas asas

Que voam no relembrar

Trazem junto o violino

E o seu choro... só a chorar

Convidando os sons do piano

Pras suas teclas... teclar...

 

E eu me perco nas lembranças

Que guardam tanto de mim

Eu recordo tons e sons

Mudos, chegados ao fim

E lágrimas me despertam

Pro momento de onde eu vim...

 

No dedilhar de um violão

Eu embarquei de verdade

Nas notas em dó mais ré,

Mi, fá, sol, si, sem idade,

E mais uma que aqui está...

... O lá... chorando saudade...

 

Abro outra vez os sentidos

Escuto um som bem mavioso

É o sabiá-laranjeira

Pousado num galho, airoso,

A gorjear  hinos de amor

À vida e ao hoje, mimoso!

 

Se no passado me enrosco

E me enlevo docemente

Na canção, no tom, na nota...

... Lá está a alma da gente

Em forma de partitura

Que o sabiá lê... sabiamente!


Cartas de alforria

Escritos de Regina Coeli





domingo, 28 de janeiro de 2024

Margarida... Guida... Guidíssima...

 

                                                (Pintura de Guida - Ano 2001)


Conheci-te, Margarida

Flor tão linda e delicada

Dia a dia mais querida

A mãe da minha cunhada 


Voz suave e sempre amiga

Palavras de puro alento

E um conforto à moda antiga

Que conforta o pensamento 


Passei a chamá-la Guida

Meiga forma de tratar

Aquela que, Margarida,

Chegou para embelezar.


Com mãos de Terceira Idade,

Pintou um quadro pra mim

Florido em tons de amizade

Guida-Flor no meu jardim


Um quadro à contemplação

Faz a mente libertada

Faz vibrar o coração 

A cada cor revelada  


Na parede colorida

As florinhas amorosas

Imaginaram a Flor-Guida

Numa braçada de rosas


O tempo passou, Querida

Mamãe da minha cunhada

E há uma saudade sentida

Da rosa tão perfumada


Feliz o que tem lembranças

Pra mitigar sua sede

Nas cores, nos tons, nas nuanças 

De um quadro numa parede.


(Obrigada por sua doce companhia.

Amor e carinho eternos.)

28-01-2024


 







sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

"A GELEIA DO CELIO"








“A geleia do Celio”


O que se vê no mercado,
até bem apresentado
numa cuidada embalagem,
é só pra passar no pão,
comer com bolo ou não.
Por favor, sua atenção
para ouvir esta passagem...


Trata-se de uma geleia,
mas você não tem ideia
da iguaria divinal
que o Sr. Celio cozeu:
amoras ele colheu
de um pé no terreno seu
numa alegria total,


para em seguida juntar
açúcar mascavo e dar,
já no fogo, em tempo certo,
o ponto ideal da textura
da massa escura e tão pura,
verdadeira gostosura
de aroma doce e liberto.


Geleia sem conservantes
encantou muitos instantes
à nossa mesa presente.
Degustada com carinho,
devagar, devagarzinho,
sagrou as mãos do vizinho
nas porções que deu à gente.


Foi um gesto tão amigo
que pensei aqui comigo:
“Que gentil esse senhor,
fez a muitos terno agrado;
do agrado, interiorizado,
vem sorriso escancarado
e isso, pra mim, é “Amor”.


Ritter, Vega, Linea e Olé
são marcas fortes até,
mantendo um modelo velho...
Geleia de amora boa
traz alegria à pessoa,
por isso o estômago entoa:
Viva "A Geleia do Celio"!


(uma homenagem de Regina Coeli
 -09-02-2020) 


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

CARRINHO DE MÃO

Regina Coeli


Imagem de Carolyn Blish



Em menina meus sonhos abundavam
E Cinderela até queria ser;
Nas ilusões crianças mergulhavam
Para criar histórias de prazer. 

Menina-moça, anseios vicejavam
No azul do céu por sobre o meu querer;
Por entre estrelas líricas bailavam
Raios de um sol ansioso pra me ver. 

Quem sabe, um dia, um príncipe chegasse
E em carruagem bonita me levasse
Fazendo rir meu triste coração?...

Adormeci, e o príncipe não veio.
Quem chegou foi somente um sapo feio
Saltando de um carrinho...  ah... de mão!



 

sexta-feira, 1 de junho de 2018

CONTRAÍDAS FACES

Regina Coeli





















O mesmo céu, a mesma imensidão
de vapores e mistérios
sobre mentes múltiplas
de passos trôpegos no chão. 
Há os que olham, no entanto,
buscando absorver estrelas
e incrustá-las em mágicos poemas
do mais inebriante encanto.  
Um mesmo chão e pés diversos.
Verdades quase malditas
caem de nervosas bocas,
cuspindo os deslocados versos. 
Mundo de horror às flores.
A mentira gargalha
e em noite de lua cheia
zomba de esbofeteadas dores. 
Mas os dias passarão.
Sôfrega à mão do vento,
a epiderme dos sonhos
agasalhará o coração.

  

sábado, 28 de outubro de 2017

PELA VIDA!


Pela Vida, mistério que ainda não decifrei,
viverei para andar,
                                              olhar,
ver,
                                falar,
                                                                     sentir,

      Amar


Se for pelo andar,
Eu andarei pra lá e pra cá,
No meio da rua, eu dançarei
À cata de flores e dos bem-te-vis,
Dos pardais, sabiás e colibris.
Buscarei das matas os verdores,
Tomarei banho nos rios e regatos
E sublimarei todas as dores. 

Se for pelo olhar,
Eu olharei e  buscarei ver
Além do que a imagem me mostrar.
Penetrarei os quintais e o arvoredo.
Espiarei a água que brota nos mananciais.
Escalarei os rochedos com o olhar
E com os olhos cheinhos de vida, olharei 
cada coisa como se fosse meu último olhar.

Se for pelo falar,
 Que eu fale baixinho
Aos grandes e aos pequenininhos.
Que eu transmita sons de carinho
Em palavras boas e decantadas no tempo,
Qual vinho no êxtase de um momento
Em que ergamos taças ou copos para festejar. 

Se for pelo sentir,
Que eu sinta com prazer e pelo risco de perder.
Que eu me entregue em carência e me deixe levar.
Que eu busque a plenitude em qualquer sentimento
E viva cada instante em todo o seu pulsar.

Se for para Amar,
Que eu ame Tudo, sem pesar tamanho e valor,
Coisas, bichos, gente, atitudes, idade, sexo ou cor.
Que eu ame e esparrame Amor em tudo o que eu tocar,
Porque é isso que a Vida deu a mim para eu doar.

Mas se eu tiver que perder,
Não culpo a Vida, porque sinto que ela tudo me dá.
E nas minhas andanças cheias de esperança
Quer por terra, por ar ou por mar,
Sinto, vejo, olho e amo a Vida como pano de fundo,
Não como vilã dos males do mundo:
A Vida é nascer, florescer, melhorar, prosperar...
morrer;

O mais é o que se sente,  o que está no entender.

Para entender, é preciso fechar os olhos e VER.
Um ver que transcende o concreto e a razão,
Que quebre a couraça do tempo, 
Que vença a lassidão dos momentos
E beba do Amor que emana da fonte do coração. 

Vida, Vida, mãe-plena da minha lida!


Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O TIGRE DA MAMÃE



Desenho feito com a mão esquerda por minha mãe, Maria da Piedade, que era destra antes
 de sofrer um AVC-acidente vascular cerebral) 
Arte amiga de Cleide Canton


Guardei o teu caderno aqui comigo
Na estante das lembranças pessoais;
Das páginas, vibrante tu me sais
Fazendo do passado o meu abrigo.

Conter o pranto, não, eu não consigo,
Que as lágrimas resumem mais e mais
O aplauso para alguém que foi capaz
De renascer de um lápis, um amigo! 

Um AVC deixou-te sem falar;
Paralisada a tua mão direita,
A mão esquerda erguias para o ar

E com ela vibraste, satisfeita, 
Ao desenhar um tigre a nos olhar 
E a nos mostrar como a Vida é perfeita.

(Que orgulho eu tenho de ti, mamãe querida!)