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SOLFEJANDO SONETOS


Capa: Inesquecível Arte de Ilka Vieira
Edição: Del Nero Bookstore/Novembro de 2008






























APRESENTAÇÃO

Poesia é a expressão do Amor... que às vezes nem se percebe existir.

Poesia é a expressão lírica, e somente lírica, entre seres que se encontram.

A Poesia permite um encontro sublime e etéreo, solfejado em versos, dourado em rimas e destroçado em afagos que não se ousa trocar...

         (Wana Antony, 
               Médica e Poetisa)   







PREFÁCIO I -  ILKA VIEIRA


Sobre o Soneto...


Não há como ensinar a fazer poesia; o poeta descobre-se poeta por ele mesmo.
Já o sonetista deve-se um rigoroso estudo além da inspiração.
Para saber compor um soneto, é preciso ser sonetista.
Para sentir um soneto, basta ser poeta.

Na elaboração de um soneto, forma de poesia praticada na Itália no século XIII, a idéia percorre apenas 14 versos, guardando para o final algo quase inesperado e surpreendente....
Os versos, cadenciados qual uma canção, dançam liricamente ao sabor do ritmo, enquanto as rimas se permitem aveludar arestas sonoras... 





Sobre os Duetos...
  

Há quem se encontre pela vida, traduzindo casualidade...
Penso que somente a perspicácia da vida leva, na escuridão e pelas mãos, um ser ao encontro do outro, num testemunho de sua plena sintonia de lágrimas, gritos, sorrisos e abraços sentidos, sem o compartilhar da matéria presente.
É preciso mergulhar juntos nos sentimentos, retornar juntos à superfície, mas se dar ao direito de ser e enxergar diferenças que reproduzam versos insolúveis.

Solfejando Sonetos reúne solfejos ternos e, ao mesmo  tempo, vibrantes, cumpliciando emoções e sentires que se dobram à técnica sem perder encanto e docilidade.

A sintonia de Regina Coeli e Humberto Rodrigues Neto minimiza qualquer crítica a esse trabalho de nítida grandeza.

Por isso, convido aquele que se faz leitor a assistir, a sentir e a se permitir sonhar nesse encontro propiciado pela vida, que se despe de casualidade.

Ilka Vieira
Rio de Janeiro/Outubro de 2008.




PREFÁCIO II - JJOTA OLIVEIRA GONÇALVES


Soneto


Permito-me, sem qualquer sombra de vaidade, dizer que o poeta nasce. Um dia, ele se encontra, (ou reencontra?), consigo mesmo. Esse encontro pode acontecer precocemente(?), ou em meados de sua vida, ou já lá no Epílogo... Em meu caso, sem qualquer nuança da tal vaidade, o homem-comum conheceu o poeta ainda criança-adolescente... E, assim, dedilho a Lira, (que não pedi!), do jeito que sei e... com o Sentimento que tenho!
A Musa? Ah, já nasceu bela e terrível! E, nessa mistura liricamente hedionda – eis que dual! – mostrou-me a Beleza da Vida e a Dor do Existir.  E é sobre essa corda-bamba, sobre esse fio-de-navalha que canto, ou choro... Com o Vento, aprendi a dançar... Com a Chuva, aprendi a chorar... Afinal, sou um homem-comum que é poeta. Mas, antes, sou, simples e, conscientemente, um Ser da Natureza!

Comecei com garatujas poéticas... O poema, a redondilha, a trovinha, a crônica-poética... o soneto! Adolescente, meu soneto tinha a forma, o corpo de 14 versos do soneto. Rebelde, às vezes, tinha rima. Às vezes, não. Um pouco, tinha métrica. Outro pouco, não. É que, por esse tempo, o poeta engatinhava...
Mas, passamos na Linha do Tempo... E a gente vai aprendendo. Vai se definindo... E a Poesia fica séria. E, assim, há uma meia dúzia de anos, “virei” sonetista. Não que não escreva em outros gêneros. Todavia, o soneto, posso dizer: é o meu escrever cotidiano. 

Peguei gosto por ele. E, parece-me: ele por mim. No entanto, quebrei (será?) uma regra antiga – segundo os adeptos da mesma, é claro. É aquela historinha da “inspiração transpirada”... Ou seja: 90% de transpiração contra apenas 10% de inspiração. A ela, prefiro a sábia pérola de André Chénier, quando ensina: “A arte faz versos. Só o coração é poeta.” Assim, sem qualquer nuança de arrogância, afirmo: transpiro 0% para escrever... numa inspiração de 100%! É assim que escrevo. É assim que sou poeta. É assim que sou sonetista. Foi assim que trouxe esta Lira do Astral.

Soneto significa: pequeno som. Mui antiga composição poética. Clássica. Medida. (Ou comedida?) Num ”corpo” de 14 versos, (será o tamanho do corpo do poeta?), o coração compõe... a Alma declama... cirandeiam os Sentimentos...  podem até se incendiarem os Sentidos! Tudo isso – e muito mais! – pode e deve acontecer no “espaço” (exíguo?) de dois quartetos e dois tercetos. Com rimas adequadas e comportadas, obedecendo a uma cesura séria e, digamos, desafiante. A uma métrica rígida, enfim, que nos brinde com um ritmo cadenciado – dentro de uma sonoridade que embala imagens e metáforas para deleite dos ouvidos... mormente da Alma!
Todavia, se há exigências rígidas para esse gênero literário, há também variações no tocante a “quem rima com quem”... digamos assim. Especialmente, no que se refere aos dois tercetos. Há uma variação enorme na forma de “acumpliciar” as rimas – ou seja: rimar os versos.

Bem, sem me alongar mais, sou radical: soneto moderno – que foge às exigências que nasceram com o soneto! – não existe! Sem desmerecer: é, apenas, poema. Ainda que apresente o “formato” de um soneto. Soneto moderno não existe! Assim como não existe a tal de trova livre! Ou é soneto. Ou não é!


J.J. Oliveira Gonçalves/jjotapoet@! – Porto Alegre, 15.10.2008. 14h04min



Duetos

Li (e reli) os duetos.
São belos. São harmônicos. Sentimentais. E emotivos.
Para se duetar, é preciso grande inspiração. Diria: sincera inspiração. Pode-se responder instantaneamente, na hora em que vemos e lemos a peça literária – no caso, o soneto. Ou se pode guardar versos e imagens e, em momento que consideremos adequado, responder. 

Podemos ser cúmplices da temática proposta, ou, diametralmente, contrariá-la. E, aqui, em Solfejando Sonetos, as duas coisas acontecem. Mormente, porque a temática é liricamente amorosa: são o que costumo chamar de caminhos e descaminhos do Amor, da Paixão... 

Encontros... Reencontros... Desencontros... Todavia, seja como e quanto for essa penosa e bela caminhada, ficam as nuanças dos Sentimentos entre chegadas e partidas...
O Amor, ah... O Amor é incompreensível. Mesmo imprevisível. É como uma manhã de Sol que, de repente, vai escurecendo, fica chumbada e... não podemos controlá-la. Nem mesmo explicá-la. Afinal, quem pode explicar o fenômeno amoroso? E, se não podemos explicá-lo, como poderemos controlá-lo? Impossível.

Solfejando Sonetos é belo e poético desde o seu título. Não sei se quem o “achou” foi a poetisa ou o poeta. Ou, se ambos, numa feliz troca de idéias. Seja como for, um “achado” precioso nesse paciencioso garimpo pelo leito do rio das palavras! Solfejar é cantarolar – ou ler – a peça musical escrita, a partitura. E soneto significa pequeno som. Então, ao final e ao cabo, redunda tudo em gostoso e cadenciado ritmo... Numa sonoridade peculiar que nos embala a Alma... Numa musicalidade que nos afaga o Espírito... Numa linguagem poético-musical que somente o coração sabe (e pode) falar... Afinal, não nos garante – sabiamente! – o célebre poeta francês André Chénier que: a arte faz versos mas só o 
coração é poeta?

Pois, em Solfejando Sonetos, vemos, lemos e temos dois corações-poeta criando Poesia, recitando Poesia – tecendo Metáforas ao sabor de pequenos sons encantados... Sons (re) vestidos do ritmo, da sonoridade, da musicalidade, enfim, da Beleza inegável dessa peça literária – tão antiga quanto bela! – que é o soneto. O soneto é uma Arte. Mas só o coração-poeta pode solfejá-lo. Eis que somente o coração-poeta tem efetiva Emoção e Sensibilidade para cantá-lo ou...chorá-lo. E é isso o que acontece neste maravilhoso e envolvente “e-book”.
Parabéns à minha querida Amiga e Poetisa Regina Coeli. Mulher de garra que não teme as contendas que a Vida (ou o Destino?) lhe apresenta. Pessoa humana rica de Sentimentos fraternos e raros. Poetisa de inegável talento e, com certeza, demasiadamente modesta!
Parabéns ao Poeta Humberto Rodrigues Neto – por sua Lira gostosa e romanticamente dedilhada entre 14 versos recheados de pequenos sons ritmados, melodiosos, apaixonados e apaixonantes...
Pela oportunidade que me foi oferecida de escrever estas linhas, reencontro a Beleza diáfana e a cálida Emoção dos versos de Regina Coeli. E encontro um belíssimo e talentoso Poeta que, confesso, não conhecia.
Com certeza, quem ama o Soneto, amará este Solfejando Sonetos!

J.J. Oliveira Gonçalves/JJotaPoet@!
Porto Alegre, 16 de outubro/2008. 10h55min






















ESPERA
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Do que disseste nunca te convenças,
pois que nem sempre dá-se o que supomos;
tem o destino os mais variados tomos
e há sempre enganos nas mais veras crenças.

Enquanto moços, sem quaisquer descrenças,
louras quimeras para nós compomos,
sem suspeitar que toda a vida pomos
nos frágeis laços que as mantêm suspensas!

É então possível que a tua caminhada
termine em vértice na minha estrada,
após vencermos quase iguais barrancos...

Esperar-te-ei, nem que essa longa espera
traga-me apenas a tardia quimera
de um beijo teu nos meus cabelos brancos!




REENCONTRO
Regina Coeli

Busco saber, mas, crê, eu sei um nada
Diante da Vida plena à minha frente,
Aurora a espreguiçar graciosamente
Raios de luz após a madrugada.

Ousei pisar tão firme em rota estrada
E no seu chão, buscando andar bem rente,
Fui percebendo o tanto que se mente,
Fingindo doce a fruta, em si amargada.

São laços que lasseiam o seu abraço
Nas fitas cabisbaixas e sozinhas
Que, do ontem, guardam apenas leve traço...

Tu vens de longe, vens nas entrelinhas,
Cabelos brancos em que a mão eu passo...
Eu sei, te espero nas esperas minhas!






ESCANINHOS DE UM CORAÇÃO
Regina Coeli 

Cheguei a me perder nos teus caminhos,
No emaranhado tinto das tuas vias;
Em tuas veias e artérias tu batias
Sentimentos variados e sozinhos...

Achei que tu seguias descaminhos,
Descaminhando sonhos em folias,
Te aventurando a novas cercanias
Em travessia para outros ninhos...

Achei-te vil, volúvel e imoral,
Coração meu, aberto ao que eu não via,
E perguntei se achavas natural...

Me respondeste: sou a utopia!
Me faço de escaninhos, coisa e tal,
Partículas do Amor, juntas um dia!



CONFIDÊNCIAS DE UM CORAÇÃO
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Não se perca quem ande no meu rumo
e muito menos tu, minha querida;
mas não tentes mudar a minha vida,
nem verticalizar meu torto prumo.

O inclinar-te a uma ação mais atrevida
está nos sentimentos que eu assumo
e nunca na razão, pois não costumo
tomá-la por parâmetro ou medida.

És tu quem forças-me pra te acenar
com os falsos ouropéis de um vão sonhar
os fátuos brilhos de um amor qualquer.
  
Assim, não me é possível compreender
que anseios moram no febril bater
do inquieto coração de uma mulher!






IMPOSSIBILIDADE
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Não vejas mal nos pobres galanteios
que eu te dirijo... Esquece-os. Considera
todos, todinhos, uma vã quimera,
não mais que uma tolice sem rodeios.

Tua mocidade de tal modo altera
meus sentimentos, meus tardios anseios,
que dá-me n´alma uns trágicos receios
de estar vivendo um fim de primavera.

Que ingrata sorte, mísera e covarde,
me faz supor, tão tristemente tarde,
a vida minha e a tua vida juntas!

E tantos males esse amor me há feito
que hoje o que bate dentro do meu peito
é um sino ao dobre de ilusões defuntas!




POSSIBILIDADE 
Regina Coeli 

Não podes me tirar o que me deste!
Teus galanteios vivem dentro em mim,
Vestem-me as emoções, preciso assim,
Inda que apenas isso a mim me reste...  

Se dás a uma quimera triste fim,
Ela será pra mim como uma veste
Ansiosa em colorir de azul celeste
O negrume da estrada de onde eu vim...

É teu meu coração apaixonado,
E tua é a covardia que te invade
Em desprezar a minha mocidade...

Ingrato é quem recusa ser amado,
Se quem te ama quer-te sempre ao lado,
Vem... que o Amor não tem tempo nem idade...





MIGALHAS
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)
Que mais desejas, afinal, que eu faça
pra ter por meu o que de ti não tenho,
se já cansado estou de tanto empenho
de haurir de ti a mais suprema graça?

Há quanto tempo mendigando eu venho
um pouco mais que esta ventura escassa!
Do amor apenas pingos pões-me à taça
que eu sorvo ao jugo de pesado lenho!

Somente a um outro, nas liriais toalhas
da mesa de Eros serves tua paixão,
mesa em que, pródiga, teus bens espalhas!

E ali enjeitado, a farejar o chão,
o meu amor vive a lamber migalhas
que tu lhe atiras qual se fora a um cão!




MIGALHAS
Regina Coeli 

Por tanto amar, ah... quanto o ser se humilha,
E fica à espera do que não lhe vem,
Imaginando ter o que não tem,
Um náufrago buscando ansiada ilha...

A vida lhe parece uma armadilha...
Ao mendigar ter perto um certo alguém,
Não tem quem quer, e fica sem ninguém,
Subjugado a um amor ao qual se encilha... 

Se amor são iguarias sobre toalhas
Que ostentam primorosa refeição, 
Por que só restos vis te caem às malhas?

Somente os enjeitados saberão
O que é amar vivendo de migalhas, 
Pois, como tu, já fui de alguém um cão!





AGORA...
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Agora que o meu sonho está desfeito,
e enfim sepultos os meus ideais;
agora que, ao invés de madrigais,
só haja dobres de réquiens no meu peito;

agora que me foge até o direito
de  imaginar-te em sonhos irreais;
agora que ilusões não me vêm mais
ao coração magoado e insatisfeito;

que eu siga só, o meu árido caminho,
onde da sorte a aguda e acerba foice
ceifou-me as dádivas do teu carinho;

que por ti meu coração não mais baloice:
ah... deixa-me esquecer-te, aqui sozinho,
soprando o pó de um grande amor que foi-se!           




AGORA!
Regina Coeli 

Vem, pega no baú aquelas rimas,
Aquelas que entoavam madrigais,
Sepulta velhos pós dos teus jamais
E canta tudo aquilo que tu estimas.

Descarta para sempre antigas sinas
Que tornam sonhos bons em irreais,
E renova o teu campo de trigais,
Enchendo-os de ilusões ainda meninas.

Vem, desperta o frescor de cada hora
Na magia que invade este presente
Que te oferto sem estudos ou demora...

Toma, é teu o meu verso inconseqüente,
Que faz de mim tão jovem neste agora
Co´a  prata dos cabelos sobre a gente!




RESGATE DAS CORES
Regina Coeli 

Perderam o sentido as aquarelas
Usadas pra pintar só a alegria,
Dos vigorosos traços, sombra fria,
Apenas uns rabiscos sobre as telas.

Foram fechadas portas e janelas...
E do jardim florido, um certo dia,
A murchidão das flores lá jazia,
Pintando o triste fim de todas elas!   

O sol brincou nas nuvens carregadas, 
Perdeu sua luz nos raios que sumiram,
Mas retornou em lágrimas veladas.

E as cores desbotadas ressurgiram
Como num lindo arco-íris, bafejadas
Por meigos pingos d´água... e até sorriram!... 




RESGATE DAS CORES
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Tais aquarelas muita vez descoram
se expostas a um desejo insatisfeito.
Se presas a um anseio contrafeito,
em vez de rir todas as tintas choram!

Janelas fecham-se e jardins desfloram,
vazios de flores no deserto leito, 
qual se chorassem o ideal desfeito
em findas ilusões que se evaporam!

Talvez por força de fatais adágios,
 jamais os tons da cor e da emoção
conservam para sempre iguais estágios.

O sol de um sim reverte a situação:
remove d'alma os mais sombrios presságios,
e em novas cores ri-se o coração!





CIÚME
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Passam-se as horas e afinal não vens
vestir de sol meu tenebral caminho;
só de pensar, em ânsias me espezinho,
que são de outro os teus secretos bens...

Sim, é de outro o teu fugaz carinho,
toda essa ardência que em teu corpo tens,
mas fazes dos meus sonhos teus reféns
pra me obrigares a te amar sozinho.

Irás ao baile, e nele em ti pressinto
os teus enfeites, teus sutis rebuços:
a echarpe, o brinco, o bracelete, o cinto...

Num leito frio caio então de bruços,
quando duas lágrimas no rosto sinto,
rolando mansas sobre os meus soluços!




QUEIXUME
Regina Coeli

Não posso governar as lerdas horas
Que se riem de mim no seu passar;
São elas que me impedem de chegar
Aonde eu quero ir sem mais demoras...

Se te deixas vencer pelos agoras
Que doem ao peito, a poluir-te o ar,
Lembra os ontens, semeados num tatear,
Que hoje explodem nos gozos que tu adoras... 

Enfeito-me de adornos e de cores,
Mas só me sinto bela se eu estiver
Na mira dos teus atos caçadores...

Teus soluços não são pranto qualquer...
Não são como as mudanças nos humores
Dos tantos com quem nunca fui... mulher!






MULHERES...
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Ah... ingênuo coração, perdeste o senso
ao crer nas femininas, vãs promessas,
nesses gemidos suspirados, nessas
frases mentindo-te um amor intenso!

Do coração de uma mulher não penso
que alcançarás o amor em que tropeças;
delas só lágrimas ganhaste, dessas
que escorrem d'alma e vêm morrer num lenço!

Naquela, a esquiva; a hipocrisia nesta,
fecham às naus do teu amor os portos,
onde ora ancoras tua paixão funesta!

Mil ais perdidos, machucados, tortos...
cinza, destroços... Eis aí o que resta
dentro do esquife dos teus sonhos mortos!




HOMENS...
Regina Coeli 

Ah, pobre coração, que bates tanto
A um leve toque, a um suave e meigo olhar,
Quem foi que te levou a palpitar
Suspiros e rubores nalgum canto?

Quem foi aquele que te encheu de encanto,
Que te mostrou da lua o seu luar
Nas noites em que o tempo ousou passar...
... E trocou tua alegria pelo pranto?

Tu ficaste tristonho, coração,
Porque a felicidade foi embora,
Não disse adeus, nem deu satisfação... 

E quando a lua irrompe em alta hora,
Tu pulsas de saudade e de emoção,
Porque ela traz de volta o amor de outrora...







ASAS DO ADEUS
Regina Coeli 

Pássaros vão e voltam pelos ares,
Mudam de galho e fazem novos ninhos,
Voam em bandos, nunca vão sozinhos,
Porquanto a solidão rói seus cantares...

O pássaro constrói diversos lares,
Deixa sementes vivas nos caminhos;
Dos ontens faz brotar os passarinhos
Nos amanhãs sadios dos pomares...

Suas bravas asas brincam com o vento
Quais velas estendidas sobre o mar,
Acenando em adeus num vôo lento... 

Então me apalpo aflita a procurar
As minhas asas, ávidas de alento,
Que hão de bater o adeus do meu findar...




PÁSSARO SÓ
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Assim como essas aves solitárias
viver não logram se não for em bando,
cada um de nós é um pássaro buscando
não ser no vôo da vida alheios párias.

No afã de não ser sós, vamos ruflando
no azul da vida as asas temerárias
buscando, dentre as aves solidárias,
as que vão sós, na imensidão vagando.

Se tu’alma traz da soledade o pó
e igual a mim és tímida avezinha,
causando às demais aves medo e dó...

vem desmanchar tua solidão na minha
e nunca mais hás de voar sozinha,
e nem meu vôo se fará tão só!





MURALHAS
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Esta batalha que contigo travo
para vencer-te em cada gesto esquivo,
é igual à tola pretensão do escravo
de ir contra os ferros que o mantêm cativo.

Todas as setas dos meus versos cravo
sobre as muralhas do teu peito altivo;
cada soneto é um explosivo pravo
que neutralizas dos teus nãos ao crivo.

Nem mesmo os mísseis de inflamadas frases,
ou os petardos de amor foram capazes
de abalar o fortim dos teus sentidos!

E ante rechaços tão cruciais, medonhos,
só resta à infantaria dos meus sonhos
a amarga volta dos que caem vencidos!





MINHAS MURALHAS
Regina Coeli 

Cruéis embates já travei também
Tanto apanhei, bati, rompi, chorei,
Até que eu me impusesse a dura lei
De nunca mais um dia amar alguém!

Hoje, no entanto, quero ir além,
Viver um grande amor, eu bem o sei,
Sentir no peito aquilo que busquei:
De um poeta-coração eu ser refém.

Posso incorrer naquelas velhas falhas
De me deixar vencer pela paixão
E prisioneira ser de tais muralhas...

Mas tua poesia será qual meu chão:
Juntando os restos que de mim espalhas, 
Amar-te-ei nos sonetos que virão!





MORDAÇA
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Sim, na verdade é como sempre dizes,
que não se deve olhar uma esperança
qual se ela fosse nos fazer felizes
e os vendavais trocasse por bonança.

Agora  vejo o quanto fui criança
e quão escravo de infantis deslizes,
correndo atrás de um bem que não se alcança,
já que é vedado o riso aos infelizes!  

Trazer um grito preso na laringe,
ter ante o outro uma apatia de esfinge,
jogar qual trapo o nosso sonho a um canto;

fingir que a mágoa não soluça em mim,
a dor num riso mascarar, enfim,
como se fácil fora sofrer tanto!




MORDAÇA
Regina Coeli 

Não serei eu a ter como inverdade
O bem-estar que nos traz uma esperança...
Nos vendavais o medo nos alcança,
Não fora ela o todo, mas metade... 

Não é questão de ser ou não criança,
O esperar pressupõe felicidade
Que um dia vem, sem tempo ou sem idade,
Carregada nos braços da bonança...      

Tu falas de um amor desesperado,
E sofres sem carícias e carinhos,
Amargando o teu sonho só de um lado...

Abraço-me a momentos tão sozinhos,
Sonhando um amanhã esperançado
Em que venhas pisar os meus caminhos...






DESVARIO
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)
  
Não sei se as tuas colchas são de arminho,
se de cambraia teus lençóis e as fronhas,
se de brocado o edredom do ninho
onde comigo nem de leve sonhas.

Se são de seda, musselina ou linho,
tuas camisolas, sérias ou risonhas...
e ao ventre, aos seios, nem leve adivinho
de que é que seja tudo o mais que ponhas.

E em pensamento, meu amor, consigo
ir ao teu leito... O negligê... Tuas meias...
e abres-me o colo ao me sentir contigo!

E nua... Nua! Toda nua, enleias
teu corpo ao meu! E vens fazer comigo
- meu Deus, que lindo!- tantas coisas feias!




DESVARIO
Regina Coeli 

As colchas que cobriram muitos sonhos
Ostentam seus bordados no passado; 
Sob elas, travesseiros lado a lado,
Compondo enredos ricos ou bisonhos. 

Os lençóis, tantas vezes bem risonhos,
Amassavam-se em juras ao amado;
E quando até o talvez fez-se arranhado,
Passaram-se de hilários a tristonhos... 

Só o pensamento traz um alguém já ido
Na esteira do destino traiçoeiro,
Pra aspirarmos perfume já vertido...

E o mal de amor, que é casto ou pervertido,
Abraça, com saudade, o travesseiro,
E geme o belo... e o feio consentido!





DÉBITOS
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Quando o sol deita nos lençóis do ocaso
e estende a noite sobre os meus martírios,
eu vejo impressos, nesses céus empíreos,
meus ais sem termo, sem final, sem prazo...

Netuno...  Júpiter...  Antares...  Sírius...
que mundos habitei no astral Parnaso?
Se à noite os fito, em dúvidas me arraso
se ali estão astros, ou mortiços círios...

E em tais extremos, chego a concebê-los
quais  níveas plagas de gloriosa palma,
ou negros antros de atros pesadelos!

Que eu entenda, Senhor, com tino e calma,
que os males que branqueiam meus cabelos
são crimes  de  milênios  dentro  d’alma!




DÉBITOS
Regina Coeli 

Cada dia me açoita, sem saber
Que sua luz incomoda os meus escuros,
De onde, na madrugada, eu salto muros
Buscando desvendar o que há de ser...

Imaginar morrer pra renascer...
Trocar pesados ares por mais puros
Que me fizessem resgatar perjuros
Que cometi em cada alvorecer...

E como caminhante destas plagas,
Ré confessa de tantos desprimores,
Peito febril coberto de mil chagas...

... Um dia hei de deitar meus dissabores
Nas dúbias nuvens em que tu divagas
E enfeitar teus cabelos com mil flores!   







EU SEI...
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta) 

Sei que o amor, a minh´alma e tudo mais
te dei do quanto quis ou me pediste,
até a candura dos meus madrigais,
que nunca de outro alguém talvez ouviste!

Neles não sei se alguma vez sentiste
a súplica sincera dos meus ais,
e agora vejo, desolado e triste,
que nunca creste que te amei demais!

Se vias em meu amor um contratempo,
não sei por que esperaste tanto tempo,
pra me dizeres tal somente agora.

Só te desejo, ao ver meu sonho findo,
que nunca sintas o que estou sentindo
no dia em que um outro te mandar embora!




NÃO SEI!...
Regina Coeli 
  
Se foi a mim que deste o quanto dizes,
E, afinal, mora em mim tanta carência;
Se sinto toda minha uma dolência
Invadir-me nos passos infelizes...

Se reclamas de mim ais em matizes
Vestindo súplicas à minha ausência,
Devo aceitar a tua inocência
Em atribuir a mim tantos deslizes?...

Tuas palavras... nunca as escrevi!
Tuas queixas... também eu as queixei!
Tu dóis em mim, e eu dôo tanto em ti...

Achaste o certo; eu não o encontrei...
Se insistes em saber o que vivi,
Segura estou ao te jurar: Não sei!...






DESFECHO
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)
  
Sei que é preciso, deste amor suspeito,
esperar dias hibernais, tristonhos,
e estar consciente de cruciais, medonhos
e atros suplícios a ferir-me o peito!

Sim, é preciso que eu a teu respeito
não borde anseios por demais risonhos,
nem ponha em altos pedestais meus sonhos,
nem sonhe o Éden no teu níveo leito!

Se houver o adeus final de um sonho ardente,
que eu me acostume a não te ver jamais
e viva apenas de um idílio ausente...

Fins de romance... tão comuns e iguais...
a flor-mulher que amamos loucamente,
que um dia nos deixa, e que não volta mais!




DESFECHO
Regina Coeli 

Do que é suspeito a mim me dói o peito
E mais me toca se é questão de Amor,
Um sentimento que por onde for
Traça o caminho do seu próprio jeito.  

Bordar anseios ou negar o feito,
Duas vertentes que deságuam dor,
Não têm em mim um bom acusador,
Pois que seria o meu maior defeito!

Romances vêm e vão-se de repente,
Passeiam corações, ah!... vagabundos... 
... Que sonham dar amor a toda a gente!

Quando há adeus, o Amor chora ais profundos:
"—Vim pela porta aberta à minha frente
E saio, entristecido, pelos fundos!"






RABISCOS
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Citar-te as que amei bem ou que amei mal,
é ler-te o livro que o meu fado escreve,
com temas fortes ou de enredo leve...
romances sem princípio, nem final...

E nesse livro, num repente breve,
também te inscreverias, afinal,
na personagem da mulher fatal
que o meu desejo a pretender se atreve.

Mas há entre nós alguém que a sorte há posto
a inibir-me os assédios que refugas,
e a quem dizes amar, pra meu desgosto...

Meus olhos secas, porém não enxugas
as lágrimas que escorrem destas rugas,
que hoje vês rabiscadas no meu rosto!




RABISCO
Regina Coeli
  
Quisera rotular como benditas
As páginas que falam de emoções,
Dos beijos, entre doces arranhões,
Que vibram frases ternas e bonitas...

Nada sei das tuas páginas escritas
E quanto de verdade nelas pões,
Talvez elas só falem dos senões
À luz de sombras idas e proscritas...

Desfeito um laço, e findo um tal enredo,
Será mais um capítulo que escreves
No teu romance em nuvens de segredo...

Se nada eu devo, e a mim tu nada deves,
Deixa este nosso caso, enquanto é cedo,
Ser só um rabisco em teus amores breves...





DESPEDIDA
Humberto Rodrigues Neto
(Humberto – Poeta)

Tu foste, sem saber, o meu castigo,
sem nem supores quanto eu te adorava;
só nos meus sonhos pude ter, contigo,
os bens secretos que eu imaginava!

Ah, quanto abraço, quantos beijos dava
nesse teu corpo que almejei comigo!
Em teus contornos, louco, rendilhava
carícias minhas, que a ninguém eu digo!

Mas vais partir, e eu me pergunto: E agora?
Já antevejo tuas mãos se aproximando
das minhas, para o adeus que me apavora!

Tu partirás... Eu ficarei chorando,
vendo aos poucos teu vulto ir se apagando
na extrema curva dos que vão-se embora!




DESPEDIDA
Regina Coeli 

Agora, Amor, que o nosso sonho é findo,
Jogados todos os disfarces fora,
Lindo é o caminho que me leva embora,
Com pés,  felizes , saltitando ... rindo!

Olha os meus passos; vê, estão partindo!
Saíram mais do chão naquela hora
Em que desabrochou, pra Vida afora,
A mulher-poeta no seu vôo infindo...

Teus versos acenderam minha luz,
Rasgaram-me a couraça da emoção,
Deixando os sentimentos todos nus...

E ao me ver revelada em tal paixão,
Plena! Toda! num verso que reluz,
Vou... largando... da tua... a minha mão!



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