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PÃO COM MANTEIGA




Quando eu era menininha
Vivia com papai, mamãe e três irmãos 
Tinha café da manhã e da tardinha 
Café com leite, manteiga e pão. 

Família de pouco dinheiro 
Rédea curta na despesa mamãe tinha. 
Pra fazer render o cruzeiro,
Só comprava por vez duas bisnagas de pão. 

Abria as bisnagas em quatro metades
Na ida passava manteiga com o facão
E raspava quase tudo na volta...
Poxa, a gente dizia, nada fica em cima do pão! 

Mamãe juntava outra vez as metades
Sob o olhar ansioso dos quatro,
Era a hora da  "repartição"...
(Humm, pensava eu, quanto eu vou ganhar de pão?...) 

Olhares gulosos seguiam o facão
Ágil e rápido na mão de mamãe
Fazendo aparecer, como por mágica, 
Quatro pedaços, quatro distintos tamanhos de pão... 

Mamãe Maria iniciava a distribuição:
De uma das bisnagas cortadas,
O maior pedaço ia para o mais velho irmão!
Mamãe dizia que ele muito estudava 
E precisava da energia do pão... 

O pedaço que sobrava, o da ponta, 
Pequeno e fininho,
Vinha para a minha mão!
Ah, reclamava eu aborrecida...
... Que miserê este pedaço de pão!  

Minha mãe dizia que tudo era certo,
Que criança pequena comia pouquinho... 
Aí eu perguntava: como vou crescer, então,
Comendo sempre um tiquinho de pão?  

A outra bisnaga ia para os dois outros irmãos
Quase meio a meio... que tantão!
E eu com duas bocadas
Acabava com meu pedaço de pão! 

Divisão desigual que acontecia
De segunda a domingo, 
duas vezes ao dia... 
Era muita humilhação!
Uma raspinha de manteiga
Em cima de quase nada de pão... 

Por algum tempo durou aquela situação...
Até que as crianças virassem adultos
Mudando seus hábitos de alimentação (menos eu)
Deixando até de comer pão... 

Tenho hoje muita saudade
Daquele tempo, daquela divisão... 
Mamãe voou pro céu, deixou o facão
Não há por perto nenhum irmão 
Cá estou eu agora, sozinha e saudosa de tudo...
... comendo uma bisnaga inteira de pão!

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
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