Web Statistics

ENCONTRO DAS ÁGUAS














Um amor que brota
à visão de uma fotografia.
Um sentimento alinhavando a sua rota
rumo a uma viagem esperada para um dia.

Como se há de nomear
o que não tem pés no chão,
nem braços para abraçar,
mas que conquista o coração?

O que seria esse amor,
tão diferente do que comumente havia...
Era como sentir o perfume de uma flor
vindo de um jardim que não se via... 

Se a imaginação alça voo e volteia
levando o pulsar desse amante coração,
a dor matreira, aquela que finge que não dói,
e escoiceia,
crava suas garras e sangra a solidão.

Ah, esse amor que não tem rosto,
sem corpo, sem tato, sem ato...
Amor que não causa desgosto
nem briga, nem fel, nem desacato...

Esse amor que é só encanto,
sinônimo de calmaria.
Amor que serpenteia o seu pranto
como águas que atravessam pradarias...

Eis que um dia avisto de longe o meu amor!
Era todo azul, parecia um céu no chão...
O sol nele brilhando...
Não havia de ter mais linda cor
do que aquelas águas que banhavam em vastidão!

Segui o meu amor sofregamente. 
Até o calor lá do sertão eu enfrentei...
Espreitava suas sinuosidades sedentamente...
Queria bebê-lo, sorvê-lo, pelo tanto que esperei...

Meu amor se escondia e reaparecia;
sumia nas matas e surgia esverdeado, 
delas saindo... 
Estonteava-me com sua zombaria,
qual casa fechada que, de súbito, escancara suas janelas.

Ele me confundia, alterando a sua cor:
de verde a azul, passava a marrom, 
e então clareava.
Mas era ele, sempre ele, o meu amor...
Aquele que à noite refletia o luar que a lua fabricava!

Do curso da aventura cansada,
marquei com ele um encontro de amor
em sua foz, no estuário, no fim de sua caminhada.
Longe de todos, eu o encontraria sem pudor...

Fui até ele, emocionada, comovida;  
o coração aos saltos, até me doía.
Mal cheguei, já era hora da partida:
meu verde amor se jogava nos braços do mar, 
que consentia...

O Rio São Francisco, o meu amor desde criança...
Em nenhum momento disse ele que me queria...
Risonho, faceiro, doente, assustado, em sua marcha mansa,
o Velho Chico já tinha o seu namoro, mas não me dizia...

Olhei aquele encontro de águas...e chorei;
pinguei nelas minhas lágrimas sentidas...
Gravei  tudo na memória, saí de Penedo, nas Alagoas, 
e me afastei...
Amor, sublime amor, sublime Vida...

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário