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SONETOS FRATERNOS I


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(I)

Arte de Cleide Canton


Por Cleide Canton

Entre tantas agruras eu me vejo
perdida aqui, num barco ainda sem rumo
que ao ver tanta beleza só desejo
usar a mesma linha no meu prumo.

Do chão um voo lento então assumo
a visão bem maior do meu ensejo
de dar a quem merece este meu beijo
e abraços nestas linhas que resumo.

São versos bem talhados, consistentes,
repletos de ternuras persistentes
vagando sob a lua, sem temor!

São versos que rubricam a amizade
levando para além da eternidade
as verdadeiras falas de um amor.

São Carlos, SP, 09 de fevereiro de 2014
22:10 horas



Assusta-me o privilégio de apresentar este trabalho.
No entanto, a ousadia é maior que o medo.

Dizer de um perfeito envolvimento entre os sonhares de dois grandes poetas é pouco.
Dizer da plena sintonia, da profundidade, das visões claras e coesas, dos recursos metafóricos, da afinidade com a perfeição que um soneto exige para ser declarado "soneto" é ainda pouco para retratar a beleza que se mostra iluminada e coroada nos versos de António Barroso (Tiago) e Regina Coeli.

Abençoado Netuno que, imitando Moisés, abriu os oceanos para este encontro de almas que hoje nos oferece este enlevo, esta demonstração de amor despretensioso, voltado apenas  para a beleza que advém da busca pela perfeição no versejar.

Conseguiram, Tiago e Regina!

É justo que sejam lidos por todos os amantes do soneto e por todos aqueles que não o apreciam, mas que conseguem dar o valor a tudo que merece ser valorizado.

Tiago escreve:

"Neptuno, deus dos mares, conseguiu
Secar todo esse mar que nos separa
E, com habilidade muito rara,
Dois vastos continentes reuniu".

Regina escreve:

"E o deus dos mares trouxe à realidade
O mar. E todo um sonho, encantador,
Adormeceu nos braços da saudade".

Versos abençoados! Que sejam imortalizados!

Cleide Canton, poeta
São Carlos/SP, 10 de março de 2014.





Mea culpa
António Barroso (Tiago)  

Amiga, há tanto tempo não te escrevo
Que nem ouso rogar o teu perdão,
Mesmo que, agora, te preste atenção,
Pedir uma desculpa não me atrevo.

Se, no campo, tivesse achado um trevo
Com quatro folhas, como é tradição,
Ia pô-lo, a correr, na tua mão,
Mostrar minha amizade, com enlevo.

Prometo, na resposta, ser mais lesto,
Aceito a minha culpa, o teu protesto,
Mas o meu tempo é curto, é tão escasso!...

Mas amiga, és p’ra mim, tão importante
Que vou arranjar tempo, doravante,
Para que se não quebre o nosso laço.

Parede - Portugal (29/01/2014)



Sem culpas
Regina Coeli

Jamais se há de quebrar o nosso laço,
Prendendo em nós as fitas da verdade,
Ainda que doa a mais cruel saudade
Nascida desse tempo tão escasso.

Não por protesto, se um muxoxo faço
É pra mudar a dura realidade
E vencer esta angústia que me invade
Por não ter o calor do teu abraço. 

Quando achares, garboso, esse teu trevo
De quatro folhas, Tiago, terno amigo,
Será sorte pra mim... sonhar me atrevo...

Amizade sincera, ó doce abrigo,
É luar lembrando a lua em branco enlevo,
Sou eu a me esquecer... se estou contigo.

Rio de Janeiro/RJ, 29 de janeiro de 2014.





O tempo é curto
António Barroso (Tiago)

Minha amiga, é tão bom saber de ti,
Que está, a minha falta, perdoada,
Assim, fico com a alma descansada,
Porque respondeste, e eu não te perdi.

Se, muito mais cedo, eu não te escrevi,
Foi porque a minha vida atribulada
Não me permite ter tempo para nada
E sempre a correr, daqui para ali.

São netos que precisam de assistência,
Uma mãe centenária, em permanência,
E ainda os filhos, num vai vem constante.

Apesar de tudo isto acontecer,
Jamais eu me poderia esquecer
Dos amigos que lembro a cada instante.

Parede - Portugal  (30/01/2014) 



Vai-se o tempo...
Regina Coeli

O tempo escorre, vai ele passando
Por entre os dedos de aturdida mão
Que o quer pegar, mas pega a solidão
Que um dia parte... Não se sabe quando.

O tempo é teia que se vai enredando
Nas vias desgastadas da emoção;
Muitos já sentem, outros sentirão
No tempo um início que se vai findando... 

Etérea nuvem que no céu dispersa
Floridos sonhos, lindas fantasias,
Será o tempo uma ilusão perversa?

Eu nada sei, apenas que aos meus dias
Dás-me teu tempo na gentil conversa
E nos amigos versos que me envias.

Rio de Janeiro/RJ, 04 de fevereiro de 2014. 




Abraços de além mar
António Barroso (Tiago)

Tu não calculas quanto grato eu estou
P'las palavras amigas que me mandas,
São só flores, lançadas de varandas,
Que me acompanham para aonde vou.

O verso que, de ti, partiu, chegou
Transpondo o oceano, da outra banda,
Com um poema lindo que comanda
O rastro do perfume que deixou.

Eu fico olhando os céus, na noite calma,
Com um prazer tão grande dentro da alma,
Que me perco, no tempo, p'ra sonhar.

E sei que essas palavras feitas verso,
São estrelas percorrendo o universo,
Transportando fiapos de luar.

Parede / Portugal (05/02/2014)





Celestiais
Regina Coeli

Serenamente lindas elas vêm
Se dar em poemas ao azul do mar
E, perfumadas, jogam notas no ar
Num canto a estrelas próximas e além...

Encantam a lua e os astros todos, sem
Deixar de, ao sol, dar loas por brilhar
E refulgir a Vida em seu passar
Na luz e cor que a augusta Vida tem.

Deitam nas nuvens a declamar um verso
De alma tão pura e de raiz brejeira
À magnitude excelsa do Universo.

Sobre minh'alma, triste e carpideira,
Caem tuas letras, bênção ao adverso
Do meu poema de uma vida inteira.

Rio de Janeiro/RJ, 05 de fevereiro de 2014.




Na volta do correio
António Barroso (Tiago)

Chegou, agora mesmo, senti chegar,
E perplexo fiquei, não sei que diga,
São palavras amigas duma amiga,
Em versos tão lindos que não têm par.

Quedei-me, então, sozinho, p'ra escutar
O vento que me diz, numa cantiga,
Com música dum pobre que mendiga,
Um pouco de sossego a meditar.

E um obrigado surge, de rompante,
Neste mesmo momento, neste instante,
Preciso que lá chegue, e bem depressa.

Pois, tendo a minha amiga outros amigos,
Uns perto dela, e outros já antigos,
Não quero que, por isso, ela me esqueça.

Parede / Portugal  (06/02/2014)





Escolhas
Regina Coeli

Tal qual um bom sapato para o pé
Fazendo belo o tom de uma passada,
Àquele amigo leal de caminhada
Oferto a minha flor e um beijo até.

Santa lealdade... nela eu boto fé!
Embora a sinta hoje apequenada,
Insisto em crê-la um sol na madrugada
Clareando em raios pra mostrar "que é"...

Creio no amigo que do verso vem,
Faz da metáfora a mais linda flor
Para enfeitar o meu jardim também...

E a esse amigo, seja de onde for,
Estendo os braços, porque ele é um Bem
Que eu prezo muito e por quem tenho Amor.

Rio de Janeiro/RJ, 06 de fevereiro de 2014.





No meu jardim
António Barroso (Tiago)

Essa flor que mandaste, para mim,
Com perfumes de sensibildade,
Embrulhada em palavras de amizade,
Coloquei-a no meio do meu jardim.

Tratei-a com cuidado e, por fim,
Quando a pude observar, mais à vontade,
Sorriu-me, com brandura e com bondade,
Entre uma rosa branca e um jasmim.

Quando ora, devagar, abro a janela,
O meu olhar se alonga e pousa nela
E fico, assim, o tempo que preciso.

Se vejo a flor sorrir de encantamento,
Uma imagem se cola ao pensamento,
Já tenho, em meu jardim, o paraíso.

Parede / Portugal (07/02/2014)





Metáfora
Regina Coeli

Rosa vermelha... sangue derramado
Por sobre pétalas de então brancura
Fez essa flor sangrar na desventura
De a torpes cravos seu amor ter dado.

Se a rosa branca e um jasmim ao lado
Formam um par de olor e de candura,
Nenhum jardim verá sua terra impura
Se sorve à rubra rosa algum pecado.

Se entrega toda ao sol a rubra flor
E o ama quanto mais completamente
Ele a cobrir de enlevo e de calor...

Sempre fragrante a rosa, etereamente
Há de se dar (sem pejo e sem pudor)
Também ao luar, porque ela é o que sente.

Rio de Janeiro/RJ, 08 de fevereiro de 2014.



Varinha de condão
António Barroso (Tiago)

Regada, com carinho, a rosa abriu,
De repente, subtil, vinda do nada,
Eis que ficou pairando, linda fada
Que lhe deu forma humana, e ela sorriu.

E o cetro de Regina lhe surgiu,
Brilhando, sob o sol, na madrugada,
Coeli, Coeli, assim era chamada
P'la fada que, de pronto, se sumiu.

Quando ela se esfumou, pelos espaços,
Quis acolher a rosa nos meus braços
Mas o mar se interpôs, perdendo a calma.

Agora, espreito a rosa, tão discreto,
Que a vejo construindo o seu soneto
Com palavras amigas que entram na alma.

Parede / Portugal (09/02/2014)





Redenção
Regina Coeli

Celebro o verso como uma oração
A aquietar os meus sutis desejos,
Meus ternos sonhos, ávidos dos beijos
Que ousei sonhar  em noite de verão.

Depois o inverno foi uma estação
A silenciar a lira em seus arpejos,
Caiu no outono aquele rol de ensejos,
Morreu de fome uma infeliz paixão.

Meu verso então sonhou a primavera,
Correu no espaço, foi além do mar
E sussurrou sua última quimera:

" -  Teu verso, Tiago, é meu sagrado altar."
Assim, ajoelho toda a minha espera
E em teu jardim serei rosa a rezar.

Rio de Janeiro/RJ, 10 de fevereiro de 2014.





Despertar
António Barroso (Tiago)

Como acordar dum sonho tão bonito
E entrar no mundo rude, costumeiro?
Talvez, se a correr, for ver primeiro
Se recebi, de longe, algum escrito?

Então, ouço as palavras, e acredito,
São rosas a chegar desse canteiro,
Num soneto tão puro e verdadeiro
Que, para responder, me deixa aflito.

Quando findo a leitura, dou por mim
Beijando as rosas todas do jardim,
Sob os raios de sol vindos dos céus.

Mil versos leio, em livros e folhetos,
Costumo receber muitos sonetos,
Porém nenhuns tão lindos como os teus.

Parede / Portugal (11/02/2014)



Oásis
Regina Coeli

Meus olhos fecho e vou ao Infinito,
Que é lá que mora a Vida dadivosa,
Um chão perene a cultuar a rosa,
Meu doce sonho, meu sonhar bonito.

E lá vou eu, vou sussurrando o grito,
Lá minha lida é toda cor-de-rosa,
Sem feias guerras ou atitude prosa
A macular a tez do que é bendito.

Meu verso chora... carpe... Então sorri
Quando retiro o véu de uma tristeza
E reabro em mim o sol, pensando em ti.

E sob um céu, azul de sutileza,
Floresce a rosa rubra (que eu senti
Não mais em mim florir...) ao verso presa.

Rio de Janeiro/RJ, 12 de fevereiro de 2014.





Barco à vela
António Barroso (Tiago) 

E lá vai ele, vai, sulcando o espaço
Soneto feito nau de era moderna,
Se o leme, comanda uma mão fraterna,
O verso empurra as velas, sem cansaço.

A musa sobe ao mastro, passo a passo,
E fica-se em vigília quase eterna,
O comandante, enquanto a nau governa,
Transporta, com cuidado, o meu abraço.

No porão seguem todos meus desejos
Envoltos em papel da cor dos beijos,
Em caixa almofadada de conforto.

E as musas vão soprando, com afã,
P'ra ver se a nau chega, inda de manhã
E sua âncora lança num bom porto.

    Parede / Portugal (12/02/2014)





Cais
Regina Coeli 

Largas no espaço a voz do teu soneto,
A nau moderna na mansão dos ares,
Fazendo doces todos os pesares
Cada quarteto e cada teu terceto.

Tão simples, vestes rico teu poemeto
Um barco azul na imensidão dos mares
E multicor no teu abraço aos lares
Que o guardam ao peito como um amuleto.

Ao imaginá-la, sinto a nau valente,
Vibrando as velas no vencer dos dias,
E suaves musas a soprar pra frente.

Se a nau adentra as minhas cercanias,
Pensar que sou seu cais me faz contente...
E nela ancoro as minhas fantasias.

Rio de Janeiro/RJ, 13 de fevereiro de 2014.




Na praia
António Barroso (Tiago)

Fui à praia e deitei-me sobre a areia
Com a espuma do mar, meus pés beijando,
E, com ele, vinha orquestra acompanhando
Maravilhosos cantos de sereia.

E, neste quadro lindo, que me enleia,
Medito na mensagem que, sonhando,
Lá de longe, bem longe, estou esperando
Num soneto que trace uma epopeia.

Mas eis que já chegou, montando o vento,
E, nele, debrucei meu pensamento
Para o ler, com sossego e muita paz.

Então, vontade grande se extravasa,
Correr, muito depressa, a minha casa,
Só para responder... se for capaz.

Parede / Portugal (14/02/2014)





Pedido ao mar
Regina Coeli

Sobre tuas águas, mar, eu já chorei
Timidamente pelo teu mistério
De vagas tantas, doce refrigério
A tantas lágrimas que em ti deixei.  

Busquei sentir-te e compreender a lei
Que além de Vida faz-te cemitério
Ao que é banal e ao que parece sério,
E as tuas águas muito mais amei.

Na placidez com que tu vens à praia
Ou açoitando em fúria os teus rochedos,
Ah... dubiedade que em mim bate e espraia...

Mar, encapela em ondas os meus medos
E bem longe, entre espumas, sobressaia
Um terno beijo em meio aos meus segredos...  

Rio de Janeiro/RJ, 15 de fevereiro de 2014.




O fado e o samba
António Barroso (Tiago)

Fui, ontem, minha amiga, ouvir o fado
Em letra de canção, que nos amarra,
Sai, rouca, nos acordes da guitarra,
Num som cálido, triste, amargurado.

Então, lá bem detrás, do outro lado,
Surge um outro fadista que se agarra
Às cordas da viola tão bizarra,
Num canto, em desafio, continuado.

Isto fez-me lembrar nosso dueto
Que, singrando, soneto após soneto,
Viaja entre o Brasil e Portugal.

Aqui, ouve-se o fado em noite fria,
Aí, na tarde quente, há a alegria
De quem prepara, em samba, o carnaval.

Parede / Portugal (16/02/2014)



Aí e aqui
Regina Coeli

O fado, caro amigo, eleva a alma
Que, triste, sangra as cordas da viola,
Bebe das notas que a guitarra evola
E nelas purga a santa dor que acalma.

Alegre, o samba puxa sempre a palma,
Se sapateia com seus pés de mola
E ao rosto pinta o riso que consola
Tudo que dói, e o coração espalma.

Se no Brasil o surdo na avenida
Me bate fundo, eu lembro Portugal
Vibrando em cordas pra escorar a Vida.

Mas a cuíca, em lúgubre ritual,
Geme o Brasil da gente tão esquecida
Que apenas é feliz no carnaval...

Rio de Janeiro/RJ, 16 de fevereiro de 2014.






Um dia...
António Barroso (Tiago)

Neptuno, deus dos mares, conseguiu
Secar todo esse mar que nos separa
E, com habilidade muito rara,
Dois vastos continentes reuniu.

Então, olhando em volta, ele sorriu,
Pôs Regina e Tiago cara a cara,
Satisfeito p'lo feito que alcançara,
Foi ler nossos sonetos e sumiu.

Feliz, eu nem queria acreditar
Que os deuses conseguissem nos juntar
Com a vontade férrea, que faz lei.

Trocámos frases, versos, tão bonitos...
Poemas, lado a lado, foram ditos...
Depois, tudo acabou, porque acordei.

Parede / Portugal (17/02/2104)


No mesmo dia...
Regina Coeli

Tu te acordaste, o sonho continuou.
Teve um final diverso para mim;
Neptuno trouxe rosas de um jardim
E em sua mão a mais bela murchou...

Leu os sonetos, tudo o encantou,
Era feliz por ter juntado, enfim,
Tiago e Regina pra fazer o fim
Apoteótico que o deus sonhou...

" - Tiago se foi... pranteou a murcha flor,
Sufoco em mim a mais linda ansiedade:
O verso que ele não cantou pro amor..."

E o deus dos mares trouxe à realidade
O mar. E todo um sonho, encantador,
Adormeceu nos braços da saudade.

Rio de Janeiro/RJ, 18 de fevereiro de 2014. 



A magia do sonho
António Barroso (Tiago)

Foi apenas um sonho... de encantar...
Mas o homem, sem o sonho, não é nada,
Vive uma vida triste, amargurada,
Com a lágrima sempre em seu olhar.

O sonho deixa marca, ao acordar,
É cena que perdura, e é relembrada
Quando, longe, clareia a madrugada,
E meigo raio de sol nos vem beijar.

O sonho é um embrulho com um laço
Que aperta, para dar um grande abraço,
Que inventa situações, e que sorri.

O sonho! Ah! O sonho é o maior bem
Que corre pela terra de ninguém,
Que faz, de longe, estar perto de ti.

Parede / Portugal (18/02/2014)





Por que sonho?
Regina Coeli

O sonho são estrelas que eu não vejo,
Mas tocam em mim quais raios de luar,
É a minha boca pronta pra beijar
Sem mesmo haver uma intenção de beijo.

O sonho é muito mais do que um desejo,
É a onipotência em insistir andar
Por via que em nenhum lugar vai dar,
Pois menos vale o ganho do que o ensejo.

O sonho não é chão, habita o espaço
Das mentes que se entregam ao seu destino
E se comprazem na impressão do abraço.

Meu sonho é todo meu, um suave hino,
É a minha fita soando em ti, meu laço,
És tu a me apertar, sonho e imagino.

Rio de Janeiro/RJ, 19 de fevereiro de 2014.



Varinha de condão
António Barroso (Tiago)

Se houvesse, como disse, uma varinha
De condão, de fada milagreira,
O sonho acabaria de maneira
Que era relidade, muito minha.

Metia as personagens na salinha
Onde sempre sonhei, a vida inteira,
E dava-lhes vida, sem canseira,
Para, depois, falarmos ao que vinha.

Se abraços eu sonhei, abraçaria,
Mas se pensei em beijos, beijaria,
E, se andasse, no sonho, de mão dada,

Colava a minha mão à tua mão
E diria à varinha de condão,
"Podes ir, não preciso de mais nada".

Parede / Portugal (19/02/2014)





Sonhar...
Regina Coeli

"Colava a minha mão à tua mão",
Mavioso som vibrando ao meu ouvido
Como um estribilho suave e repetido
Enchendo o ar de uma feliz canção...

Sonhar... Sonhar... Deixar a emoção
Me dominar a cada poema lido
Num sussurrar angélico e sentido
Ao meu vibrante e etéreo coração...

Num sonho livre - como passarinhos
Que voam cedo, ainda em madrugada,
Pra construir os seus sagrados ninhos -,

Meu verso treme e sente emocionada
A mão que colo à tua em mil carinhos,
Sonhando em nós a própria Vida, amada.

Rio de Janeiro/RJ, 20 de fevereiro de 2014.




Outro dia...
Regina Coeli

No infinito uma fada eu encontrei,
Guardadora de rosas perfumadas
Por aleias compridas como estradas
Por onde andei, andei, voei, voei... 

Era tanto perfume, que eu pensei
Fossem ondas de amor espiraladas,
Fossem notas de lira harmonizadas
Com as forças do cosmos e a sua lei.

Não vi mar, não vi terra, só o espaço
Embriagado em divinal frescor,
E eu me abracei, sentindo o teu abraço...

Chegaste, então, em nuvem de vapor
Com teu soneto, num etéreo laço,
Pra rubra rosa inda a sonhar o amor.

Rio de Janeiro/RJ, 20 de fevereiro de 2014.
(originalmente escrito em 17-02-2014)





Ciclos
Regina Coeli

Os olhos reabro, volto ao cotidiano,
Vazias mãos e o peito em emoção,
Acendo a luz que vem do coração
Pra alumiar-me as horas neste plano.

A cada aurora se renova o ano.
Cada meu dia é pura construção,
Vinda do verso toda a minha ação
Em que o abstrato cuida o que é humano.

Meu verso é fiel e verdadeira escora,
É afetuoso amigo que me diz:
"Escreve, e manda a tua dor embora!"

Mandei. E amei no verso como eu quis.
E encheu de amor o verso mundo afora.
E amar em verso é ser também feliz

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2014.
(originalmente escrito em 12-02-2014)




                                      (Março de 2014)





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