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CAIS

















Era eu um barco sozinho
Quem sabe feito de papel
Largado no mar, ao léu 
Brincando com o rodamoinho... 

Eu era um barquinho sereno

Sem leme, sem velas para içar
Buscando um cais para atracar.
Ínfimo calado, um barco pequeno... 

Quis crescer, buscar meu porto

Eu...  que nem sabia velejar
Que as águas não sabia cortejar
Escolhi pra mim um rumo torto... 

Lancei-me sem bússola, sem nada

Em águas de pseudo calmaria
Buscando ilhas de amor e fantasia
Um barco infante em rota abusada... 

Lutei com marés cheias de solidão

Fazendo-me gigante ante meus medos
Confessei às ondas os meus segredos
Já perdido e sem carta de orientação...

Fiquei à deriva, meu casco doente

Fiquei sem fala, barco sem voz
Rio perdido que procura a sua foz,
sem saber onde deixou sua nascente... 

Barco sem proa, sem convés

A soluçar em lágrimas seus ais
Procurando na escuridão o seu cais
Barco tonto, navegando o seu revés... 

Nem um farol, uma luzinha 

Nem um som ameno por companhia
Noite eterna e escura, sem dia...
Avidez por remanso que não vinha... 

Eu-barco chorava em desvario

Não tinha direção, não tinha ação
Vagando em ventos sem comiseração
Eu-barco... sem casaco e com frio...  

Tempestades... correntezas

Barco furado, luta inclemente
Vendavais que entortam as forças da gente
Não levam a Vida, mas deixam tristezas...  

Quase sem calado, fiquei mudo

Palavras sumidas na baixa da maré
Barco nu, despido de esperança e de fé
Barco largado, desancorado a tudo...  

Barco que não atracou... Perdeu o cais

Barco sem movimento, barco parado
Eu-barco sobrevivente, quase afundado...
Eu-barco pra quem o futuro seria... jamais!  

Mas a lei das águas não perdoa

Barco grande, barco menor
Barco simples, barco melhor
Sendo barco não pode ficar à toa... 

Nas águas me joguei de novo, eu-barquinho

Um barquinho de papel e nada mais
Um menino-barquinho querendo ser rapaz
Pra namorar as águas com carinho... 

Eu-menino-barquinho no rumo da Paz

Hei de crescer e ficar forte pra ganhar velas...
Hei de flertar com as marolas e as procelas
E atracar meus sonhos em meu próprio cais.

Cartas de alforria

Escritos de Regina Coeli
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