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SONETOS FRATERNOS IV



(IV)
























O firmamento
António Barroso (Tiago)

No céu, nasceram três novas estrelas,
Brilhantes, iluminam o Universo,
Com sua luz, modelam todo o verso,
E, à noite, abro a janela, para vê-las.

São Regina, Ilka, Cleide, conhecê-las
É, de contentamento, andar disperso
E, em suas poesias, tão submerso,
Que quero, em toda a parte, andar com elas.

Porque me deu a vida, só no fim,
Tais flores enfeitando o meu jardim,
Lançando, dia a dia, um doce cântico.

E, agora, uma agradável companhia
Me pode acompanhar na poesia,
Depois de atravessar o calmo Atlântico.

Parede / Portugal (01/04/2014)




Entre o Céu e a Terra
Regina Coeli

Viver não há de ser uma aventura
Por muitos rotulada de banal,
Que a Vida é uma canção especial
Em notas que apaixonam a partitura...

Abrir o coração ao que é ternura,
Deixar que vibre o amor exponencial,
Não permitir que vingue a flor do mal
Num chão que é desamor e terra dura...

Viver assim, o olhar aqui e além,
Sorvendo a luz que corre no infinito
E que clareia os versos de um alguém

Que é pra nós Fé... Na Fé eu acredito,
E em mãos entrelaçadas que também
Cantam pro feio se tornar bonito.

Rio de Janeiro/RJ, 26 de abril de 2014.




Do céu vieram novas
António Barroso (Tiago)

Os anjos ciciaram-me, ao ouvido:
- Chegou, chegou mensagem da Regina!
Não sei porque falavam em surdina,
Talvez, p‘lo meu olhar tão comovido.

Vi que, p'ra minha amiga, faz sentido
A fé que é luz da vida, que ilumina,
Ou um amor que brota, que germina,
Depois de, na alma pura, ter nascido.

Pois, assim, colhe o verso, a melodia
Surgida na manhã de cada dia
E que, sempre de azul, virá vestida.

Já que, entre céu e terra, anda a pairar
Algo belo p’ra, na alma, se anichar,
O vero amor que dá sentido à vida.

Parede / Portugal (27/04/2014)




O que dá sentido à Vida
Regina Coeli

Plantei o meu amor por entre as flores,
Que em pétalas sonhava-o renovado,
Na fonte dos aromas, perfumado,
Viçoso a florescer entre os verdores.

Fingi desconhecer os dissabores
Até que na canção senti o fado
Chorando, cabisbaixo e tão magoado,
Meus risos soluçando as minhas dores.

Na angústia e na dor acreditei.
Pudessem todas elas resgatar
A mim, que em fundo poço me enterrei.

Meu coração é suave hoje a pulsar,
Pois sei agora que o que mais amei
Foi o Amor, que continuo a amar.

Rio de Janeiro/RJ, 27 de abril de 2014.




Um pouco de conforto
António Barroso (Tiago)

Sentir dor, sentir mágoa ao ver sofrer,
Uma alma de amizade tão fecunda,
Vai sozinha, p’los cantos, vagabunda,
Confia nos seus versos p’ra esquecer.

E os manda p'ra um amigo, longe, ler,
Repletos dum amor que, nela, abunda,
Que o desespero atroz tanto aprofunda
Por ver um ente qu’rido padecer.

Meus braços são tão longos, como o mar,
Assim, sempre dispostos a abraçar
Tua mágoa sentida, a tua dor.

É, na calma e sossego dos abraços,
Que se amaina a revolta e nascem laços
Que vivem da esperança, com amor.

Parede / Portugal (28/04/2014)




Terno conforto
Regina Coeli

É muito bom sentir braços abertos
Voltados pra grandeza de um abraço
A cingir fitas num bonito laço,
A sublimar momentos os mais incertos.

O ser magoado sente em si despertos
Os tons de Amor pintando o seu cansaço
E a doce luz a iluminar seu passo
Por mar de areias em hostis desertos.

Imaginar-me a dor por ti abraçada
Já faz de mim um ser bem mais confiante,
Que te ouço perto em minha caminhada. 

Que seja mágico este meu instante,
Eterna fonte à sede mitigada,
Que é te abraçar, estando tu distante... 

Rio de Janeiro/RJ, 29 de abril de 2014.



Sobrevivência
António Barroso (Tiago)

Desculpa, eu não respondo, só medito.
Porque é a natureza tão cruel?
É tela colorida co’um pincel,
Mas torna a vida um acto bem restrito.

Que a vida se alimenta do aflito
Ser que não tem escape nem quartel,
Mesmo que busque a fuga num tropel,
Ou se deixe apanhar sem um só grito.

A morte vai dar vida ao predador,
A ave será colhida p’lo condor,
Gazela que o leão colhe, em desnorte.

Uma águia que coelho tira ao mato,
A cobra que abre a boca, e engole o rato,
E a vida se sustenta só da morte.

Parede / Portugal (29/04/2014)




Fome de Amor
Regina Coeli

Não ouso achar cruel a Natureza
Em que o mais forte sempre prevalece
Sobre o mais fraco, que por fim perece
E vira um bom repasto sobre a mesa...

Se a dita fera usa a ligeireza
Para viver da caça que apetece,
Compraz-se o homem à sombra da benesse,
Enquanto morrem outros na pobreza.

Houvesse apenas sobre a Terra um pão,
Quantos aos Céus fariam o seu clamor
De igualitária ser a divisão?...

E tão cruel quanto sentir o Amor
Aprisionado em celas da razão
É o ver podado ao coração da flor... 

Rio de Janeiro/RJ, 02 de maio de 2014.




A natureza
António Barroso (Tiago)

Mas amiga, para eu sobreviver,
Haverei que tirar uma outra vida,
E a natureza, assim, fica ferida,
Perde a paz que nos tenta oferecer.

Não sei se qualquer ente pode ter
O mesmo sentimento, ante a colhida
Que o ser humano tem, a dor sofrida
De roubar uma vida, p'ra viver.

Há erros que se podem resolver
Mas morte nunca irá retroceder,
Nem criar vida, com maço e cinzel.

Morte e vida... comuns à natureza,
Pese, embora, toda a sua beleza,
Continuo a pensar que é bem cruel.

Parede / Portugal (02/05/2014)




Evolução
Regina Coeli

Morte e vida... Ou será transformação
A vida que, ao nascer, já vai morrendo
Como um sol aqui à tarde se escondendo
E alhures em visível aparição?

E no desfalecer de um coração
Que aos poucos vai parando, vai batendo
Já um outro coração que vai nascendo
Para, num filme, entrar com sua ação...

E tudo aquilo a parecer cruel
Talvez não seja, quando rotulada
A vida em duas faces - mel e fel.

Se um dia fui leão, minha caçada
Matou-me a fome. Hoje, entre a Terra e o Céu,
Quero ser pão, p'la Vida devorada.

Rio de Janeiro/RJ, 28 de maio de 2014.




As três rosas
António Barroso (Tiago)

Rosa branca era o orgulho do lugar,
Crescia num canteiro bem cuidado,
Porém outra, vestida de encarnado,
Florescia também, um pouco a par.

Entre elas, a amarela foi brotar
Em pequeno recanto, abandonado,
Onde cresceu com ar envergonhado,
Com urzes e giestas a amparar.

Branca e vermelha, um dia, pobres rosas
Por serem, do lugar as mais formosas,
Morreram, p’ra enfeitar mesa de nobre.

A isolada, e feliz, rosa amarela,
Lá vai crescendo, sem se dar por ela,
E vive, inda contente, em seu lar pobre.

Parede / Portugal  (09/05/2014)




A Cor
Regina Coeli

Em um jardim de flores sepultadas
Floriu ingênua e delicada flor
Que não sabia ver na sua cor
A cor mais linda entre as mais amadas.

A maciez das pétalas tocadas,
Todo um sentir a trescalar amor,
Cetim, veludo, seja lá o que for,
Sedoso tom em ondas perfumadas...

Seria ela a rosa que assemelha
Paixão e ardor? Que ao ser domina e invade
E o escraviza à rosa em cor vermelha?

Por certo, não. Eu pinto de amizade
Esta amarela rosa, uma centelha
Que reverbera em ti minha saudade.

Rio de Janeiro/RJ, 28 de maio de 2014.




Evolução das espécies
António Barroso (Tiago)

É certo que tudo é bem natural
Pela ordem cronológica entendida,
Mas sempre existe um fim para esta vida,
Para onde, não há rumo nem sinal.

Para uns, será o mundo espiritual,
Para outros será só uma descida
Ao pó donde viemos, à partida,
Que nos irá cobrir no acto final.

Tudo isso eu compreendo, há uma razão,
Mas matar, p'ra manter a evolução?
Duvido que lhe encontre cabimento.

Manter uma existência amordaçada
Para um dia morrer, na hora marcada,
Implica sempre grande sofrimento.

Parede / Portugal (30/05/2014)




Evoluir...
Regina Coeli

O meu olhar cavalga o Infinito
Em busca da melhor explicação
Àquilo que, pra mim, é “evolução”:
Dócil sussurro dentro do meu grito.

Buscar serenidade em meio ao agito,
Cavar no mais profundo o próprio chão
Por querer ser, em vez de doente, são,
Querendo asas pra um voar bendito...

Dizes “matar”. Eu sonho com "viver".
E nem um inseto subtraio à vida
Sem que eu a sinta em mim subtraída...

Os homens matam-se. É um entardecer
De estrelas turvas rumo a um anoitecer
Que clama ao sol curar cada ferida...

Rio de Janeiro/RJ, 01 de junho de 2014.




Rosa amarela
António Barroso (Tiago)

Rosa amarela que à morte escapou,
Que inda não é enfeite duma mesa,
No seu canteiro está à terra presa,
Feliz por tanto orvalho que a molhou.

Quando a linda flor sente que ali estou,
Logo me chama, com sua beleza,
E lança, para mim, com subtileza,
O perfume que o tempo lhe deixou.

E quando me preparo p'ra o regresso,
E dela, com sorrisos, me despeço,
Parece que me diz, muito em surdina:

- Amigo, vais partir, e é meu desejo
Que leves o sabor dum terno beijo,
E mandes também outro p’ra a Regina.

Parede / Portugal (30/05/2014)




Rosas Amarelas
Regina Coeli

Rosas eu dei, em ramos colossais,
A quem não as quis, pois nada respondeu.
Tão lindas, majestosas, chorei eu...
Ignoradas por serem virtuais?

Como é que alguém consegue ser capaz
De se calar... Se nada aconteceu,
Quem sabe o coração embruteceu
E a rosa-encanto não encanta mais? 

Enquanto as rosas rubras da paixão
Jazem em completo chão do esquecimento,
Vou cultivando rosas da emoção. 

São amarelas, douram o meu momento,
Têm o sabor da doce redenção
E por tão belas, eu me reoriento.

Rio de Janeiro/RJ, 01 de junho de 2014.




A tradição
António Barroso (Tiago)

Todo o caçador mata por prazer,
Sem ter, da sua presa, piedade,
Sabendo que, para essa liberdade,
Lhe basta pagar p’ra a licença ter.

Um dia, o infeliz touro irá morrer
Em stress, pois truxeram-no da herdade
Para a grande tourada da cidade
Que p’ra turista, irá acontecer.

E se a palavra de ordem é matar,
Sem que se erga um só braço, a protestar,
Contra aquilo a que chamam tradição,

Não se pode ficar surpreendido
Porque tudo será mais consentido,
Até para matar o próprio irmão.

Parede  / Portugal (02/06/2014)




A Tradição
Regina Coeli

Há muito que se mata o próprio irmão...
Sanha infinita que projeta o eu,  
Desconhecendo o que não seja seu
E já estabelecendo tradição.

Vive-se a era da infeliz razão.
Indiferente, a dor que já sofreu
Nem vê se o sol chegou, se amanheceu,
Nem dele sente a doce combustão.

Matar... Um verbo insanamente usado
Por quem podia cultivar a flor,
Mas faz tombar um alvo desejado.

Um dia há de brotar no peito Amor
E o coração, um céu lindo e estrelado,
Faiscará sobre todos seu esplendor.

Rio de Janeiro/RJ, 17 de junho de 2014.







A oração da rosa
António Barroso (Tiago)
(Para a Regina e Ilka com um abraço muito amigo)

Hoje fui ao parque, e ao passar por ela,
Embrenhado em complexo pensamento,
Pareceu-me que havia um chamamento,
E lá estava ela, pois, rosa amarela.

Sorrindo, perguntou-me pela cadela:
- Anda por aí, num contentamento,
Que corre todo o parque, num momento,
Se a deixo, livremente, andar sem trela.

A rosa, no canteiro, protegida,
Exalou mais perfume, em despedida,
E murmurou, baixinho, em comoção:

- Se, p’ra ti houver, graça divina,
Destribui um pouquinho p’la Regina,
Que eu rezo, pela Ilka, uma oração.

Parede / Portugal (03/06/2014)




Oração
Regina Coeli

Abençoados amigos animais...
Criaturas dóceis, suaves companhias,
Um sol nascente ante nublados dias,
Farol na noite que ao escuro traz.

Tão abençoadas rosas nos rosais...
Pétalas frescas a se abrir macias
Quer sobre dores a chorar sombrias,
Quer sobre risos festejando um cais.

Que jamais falte a placidez do olhar
De um animalzinho sobre nós. Da flor
Não falte o doce aroma a inebriar,

Porque são cânticos de Paz e Amor,
Braços da Vida lírica a abraçar
A cada filho seu, seja quem for. 

Rio de Janeiro/RJ, 18 de junho de 2014.




Recordação
António Barroso (Tiago)

Um dia, me trouxeram, assustado,
Um pequeno, mui pequeno pardalinho
Que teria caído do seu ninho
E, na altura, jazia abandonado.

E foi tratado, a medo, mas cuidado,
Aos poucos, foi crescendo, com carinho,
Tornou-se, já adulto, um passarinho
Que, para nós, voava confiado.

Janela aberta. O vento, em seus furores,
O afastou. Busquei-o pelos arredores,
Cansado, até faltar a claridade.

Desolado, chorei a desilusão,
Mas nunca me saiu do coração
A verdadeira imagem da saudade.

Parede / Portugal (19-06-2014)




Saudade...
Regina Coeli

Recordações (tão minhas!) vêm brincar
Num sobe e desce feito carrossel
Com coloridas pipas de papel
E tão saudosos bichos a me olhar.

Eu vejo o meu passado a me acenar
Como as estrelas salpicando o céu
De mil risadas com sabor de mel,
Caindo alegres sobre o azul do mar...

Minha boneca, cedo eu a troquei
Por gato, cão... Até porco e galinha...
Por suas almas eu me interessei...

E uma certeza tenho, que é só minha:
Por cada bicho eu me apaixonei.
Era feliz. E nunca amei sozinha.

Rio de Janeiro, 20 de junho de 2014.      




Agradecimento
António Barroso (Tiago)
          
Que esse dia em que o amor há-de chegar,
Surja, rapidamente, bem depressa,
Que o mundo o tome a sério, não se esqueça
De terminar, de vez, com o “matar”.

Que fique, perdurando, o verbo amar,
E duma forma amiga que pareça
Que, agora, uma nova era se começa
Pelos céus da amizade, a desenhar.

E quando não se ouvir mais o canhão
Bramir, como o rugido do trovão,
Sentindo haver amor ao nosso lado,

Num longo abraço, que una todos nós,
Ouvir-se-á ecoar, numa só voz:
- Obrigado, meu Deus, muito obrigado!

Parede / Portugal (19/06/2014)



Da Terra aos Céus
Regina Coeli

Benditas mãos. Que o nosso verso seja
Uma oração fraterna e abençoada,
Capaz de cultivar na madrugada
A essência pura em aura benfazeja.

Uma canção. Que o nosso verso seja
A nota dadivosa e esmerilhada
A penetrar a senda ainda intocada
E a musicar o que se quer e almeja.

Um verso apenas, de uma tez singela,
Pra ser ouvido além do que é fugaz,
A chave certa a uma fechada cela.

Somente um verso. Um verso e nada mais.
Como uma rosa vista da janela
Em sua missão de ser Amor e Paz.

Rio de Janeiro/RJ, 20 de junho de 2014.



                                                  (Junho de 2014)






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