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quinta-feira, 9 de junho de 2016

E POR FALAR EM SAUDADE...




Há em mim um vazio inexplicável
Um sem rumo acomodado.
Estando, sinto-me indo;
Tocando, percebo algo intocável.

Há em mim o silêncio da surpresa,
Um acerto desacertado, 
Um sorriso tristemente debochado,
A certeza de minha incerteza.

Brota em mim, sem tempo nem idade,
O sumo dos desvalidos,
A interrogação ensimesmada
Do que sempre respondeu: Saudade!

Sai de mim o choro dos aflitos,
Dos que por marolas tomaram
As ondas, pra levar meus gritos,
Que em ecos aos meus ouvidos voltaram. 

Falta em mim o aceno da partida,
A mão parada, encantada pela dor,
Congelou no ar arrependida,
Acenando, sem aceno, todo o seu amor.

Sobra em mim a tortura da espera, 
A brasa quente que devora
Os sonhos, todos eles uma quimera
Desfeita em pó hora após hora.

Cartas de alforria
Escritos de Regina Coeli
_________


quarta-feira, 1 de junho de 2016

NOSSAS MÃOS - Cleide Canton & Regina Coeli


Sensível Arte de Cleide Canton


















MINHAS MÃOS
Cleide Canton

Eu as contemplo unidas numa prece,
vincadas pelo tempo em seu furor,
vibrando mais que nunca pelo amor
oculto nos escombros que as aquece.

Eu as deixo no sono que enriquece
seus feitos sem as garras do temor,
buscando ainda a febre, com vigor,
no impulso do fazer que as enobrece.

Duas mãos, desgastadas mas benditas,
esquecidas na cena das desditas,
só plantando sementes de harmonia.

Minhas mãos, neste canto as enalteço
por valores que têm e não tem preço,
por tanto que fizeram e eu não via.

São Carlos, SP, Br, 12/07/2015
18:30 horas




MINHAS MÃOS
Regina Coeli 

Trazê-las com carinho junto ao peito,
Beijá-las, contemplá-las com amor,
Deitá-las sobre pétalas de flor
No altar da gratidão e do respeito 

Por tanto! Tanto! Tanto no tempo feito,
E muito! E sempre feito com labor,
Ainda que o fazer ignore a dor
Que cala rumo à obra sem defeito... 

Ó mãos, inestimáveis bens da vida,
Juntas, dois remos a buscar o cais
Para ancorar até a despedida,

Ergo-as aos Céus, com elas fui capaz
De sublimar a ação mais atrevida
Ou de afagar no coração meus ais.

Rio de Janeiro/RJ, 15 de julho de 2015.



A INVISÍVEL PARCERIA DAS MÃOS
Regina Coeli 

Canhota ou destra, a mão cria
tons de amor e simpatia
desde um afago envolvente
a um gesto gentil e belo
como a erigir um castelo
nas cercanias da mente. 

Muitas vezes brande a mão,
uma ou outra, pela ação
pacientemente gestada
nos minutos e nas horas
de correções e demoras
até o fim da jornada. 

Na visão entristecida
de um aceno na partida 
ou um adeus ganhando flor,
uma das duas mãos se estende,
e o resto do corpo prende
soluços sentindo dor.  

Sagradas mãos... Instrumentos
que nos permitem momentos
do mais precioso construir,
quando uma realização
enternece o coração
e faz a boca sorrir...  

No labor de cada dia
de tristeza ou de alegria,
as mãos agem silenciosas,
se entendem perfeitamente,
dão-se tão completamente
como as pétalas nas rosas! 

Essa parceria santa
é maravilha que encanta,
mas muita gente não vê...
Perceber as duas mãos,
entre acertos e desvãos,
nos ensina, e a gente crê.  

Em comunhão consentida,
cada mão dá sua partida
no seu tempo e em seu lugar;
uma vai, a outra também;
se uma volta, a outra vem,
sublime é participar!  

Não há mão mais importante,
as duas são ouro diante
da tarefa de fazer...
Se uma delas age mais,
sabe ela não ser capaz
de, sem auxílio, vencer. 

Uma faz, a outra ajuda;
de vez em quando a ordem muda
 e a que fez... passa a ajudar.
E se uma estiver à frente,
a outra planta a semente
que, em flor, as vai perfumar...   

Quando uma das mãos adoece,
a outra mão faz sua prece
para que a doente se cure.
E chora... Sim, a mão chora!
Triste e calada ela ora
para que a doença não dure...      

Esquerda... direita... Remos
são essas mãos que nós temos,
chamando-nos a remar...
No labor do dia a dia,
remam as mãos sintonia
vencendo as ondas do mar... 

Minhas mãos... compridos dedos...
parceiras dos meus segredos
em formato de poesia;
rodas que me movimentam,
pincéis que em mim sacramentam
querer pintar com magia. 

Rio de Janeiro/RJ, 31 de julho de 2015.