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domingo, 30 de maio de 2010

Opostos



















Quando eu pensava que tu vinhas... ias
Quando eu pensava que tu ias... vinhas
Quando me vi pisando em tortas linhas,
Caí em pranto e tu? Ah, tu sorrias...

Ao saborear tuas horas doces, rias;
E a me arrastar nas tristes vias minhas,
Senti amargas gotas bem sozinhas,
Queimando as minhas faces já sombrias...

Se vês o amor como algo inconsequente,
Em que teus pés me pisam, ao pisar
Meu pobre coração que é tão carente....

... Vai embora, amor, e deixa-me sangrar
O meu amor por ti completamente,
Até que eu morra em mim ao te secar!


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Resgate das Cores




















Perderam o sentido as aquarelas
Usadas pra pintar só a alegria,
Dos vigorosos traços, sombra fria,
Apenas uns rabiscos sobre as telas.

Foram fechadas portas e janelas
E do jardim florido, um certo dia,
A murchidão das flores lá jazia,
Pintando o triste fim de todas elas!

O sol brincou nas nuvens carregadas,
Perdeu sua luz nos raios que sumiram,
Mas retornou em lágrimas veladas.

E as cores desbotadas ressurgiram
Como num arco-íris, bafejadas
Por meigos pingos d´água... e até sorriram!


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vaidade



















Quão vaidosa no céu vai desfilando
A lua em sua beleza iluminada,
Cantada em tanta estrofe sincopada
No verso de quem vive poetando...

No tempo de surgir um novo quando,
Diz um poeta, em letra soletrada,
Que a luz da lua vem a ser um nada,
Porque é do sol a Luz iluminando...

A lua ficou triste e bem distante...
E ainda ouviu dizer do azul que encerra
Certo alguém de que o poeta fez-se amante...

Ao ver surgir seu brilho atrás da serra,
Eu choro ao imaginar, num raro instante,
A lua em seu chorar, olhando a Terra!


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Verbo Amar (JG de Araújo Jorge e Regina Coeli)
























Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente...
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.

Te amava: como inquieto adolescente
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.

Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Te amar: é mais que em verbo, é a minha lei
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!


Autoria: JG de Araújo Jorge


O Verbo Amar
Regina Coeli

Te amei, e muito perto te sentia,
E tu, meu sol, sequer me imaginavas...
Ainda assim, sonhei que tu amavas
Esta tua lua imersa em fantasia...

Te amei; em dia quente e em noite fria,
Fiz-me liberta de elos e de travas,
Bailei contigo as fases que valsavas
Numa ilusão de amor que entorpecia.

Te amei; e o verbo amar, de mim ausente,
Eu conjuguei nos tempos que eu bem quis,
De um jeito meu, de forma inconsequente...

Te amei; e aquele amor me fez feliz
Até que a fantasia virou gente,
E ao me dizer "amor", fez-me infeliz!


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli



quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mercado de Flores




















Uma roseira prosa tem na rosa
O seu trabalho belo e sem igual,
Que é transformar rebento angelical
Em esplendor de flor maravilhosa.

E na beleza altiva e fulgurosa,
Quem sabe, a flor sorrisse em pedestal
Agradecendo à brisa celestial
Desabrochar, na terra, linda e airosa...

Quem sabe, em cada casa haver jardim,
Ou uma flor bonita na janela...
Ah, sonho bem meu, hóspede de mim...

Se a flor comprada tem tristeza nela,
Talvez, quem sabe, amargue a dor do fim
E do valor tão frio dado a ela...


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sábado, 8 de maio de 2010

E agora, Drummond?




















Boa tarde, poeta
Prazer encontrar-te
Minh´alma se aquieta
Diante da Arte

Há tempos eu passo
Te vejo, não paro
No meu descompasso
O agora é raro

Me ponho a te olhar
Sugar tua essência
De ti aspirar
Amarga inocência

Dizer-te flutuo
Teu verso, tua voz
No frouxo que intuo
Da Vida sem nós

Poeta de Minas
Vieste pro Rio
Guardar em colinas
O sol no teu frio

A pedra que cantas
No chão do caminho
É riso das santas
Na taça com vinho

Na rima largada
Sozinha no mundo
Qual pedra chutada
De nome Raymundo

Te vejo no banco
Na serra,no mar
No pó do barranco
Nublando o meu ar

Passado e futuro
Em paz penitente
Te apartam do muro
Que encobre tua gente

Tão gauche assim
Eu sugo teu verso
E fujo de mim
Pro teu universo

Poeta, que sejas
Um ponto de ordem
Nas rubras pelejas
Da minha desordem

E possam as horas
Surfar simplesmente
Nas longas demoras
Das ondas da gente

Que as noites te sejam
Colírios pros olhos
Em cordas que harpejam
Luar nos abrolhos

Que o céu que pranteia
Chuvinha renhida
Modele na areia
Teus versos de vida

Quisera contigo
Pra sempre ficar
Ouvindo, amigo,
O mar murmurar

Tu és como um som
Que ceva minh´alma
E agora, Drummond,
Te deixo com calma...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Dádiva




















Se a água fresca cai, feliz, em correnteza...
A rosa faz-se bela, abrindo-se em sorriso...
E a sede faz-se fé, se a fé é indefesa,
E dá à flor a cor do amor frente ao impreciso.

E o pote vê chegar a água... e ri seu riso,
Pois que ele tem em si a guarda da riqueza;
Se a água fresca cai, feliz, em correnteza...
A rosa faz-se bela, abrindo-se em sorriso...

Mais que sentir a dor de um copo ausente à mesa,
É amar a água, um Bem corrente e tão preciso,
E amar a Vida em nós, cobertos de Beleza,
Mas não perder o Amor, e sim valer o siso,
Se a água fresca cai, feliz, em correnteza...


Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cartinha
























Amigo meu das noites e dos dias,
Escrevo-te estas mal traçadas linhas
Pra te levar umas notícias minhas
Colhidas num jardim de fantasias.

Vivo feliz em meio aos passarinhos
Que cantarolam meiga e ternamente
Belas canções, num afago displicente,
A flores murchas de hojes tão sozinhos.

Eu sinto as horas no bater das asas
Ágeis; e em destros bicos num profundo
Empenho de construir cada segundo,
Tecendo ninhos que serão suas casas.

Ah, meu amigo, há tanto a se aprender
Com esses seres, lindos e pequenos,
Que nos visitam em cantos tão amenos
E fazem até a dureza enternecer...

E no amanhã, libertos de senões,
Vão-se daqui para qualquer lugar.
Pra construir um novo e terno lar
Em novos e sedentos corações.

O meu olhar espicha e encontra as flores;
O flamboyant que sangra o azul do céu
Num quadro que o pintor plasmou de mel,
Para adoçar imensuráveis dores,

E o "boa noite", flor de singeleza,
Que se apresenta altivamente bela,
Ornando o parapeito da janela
De cor vivaz que vem da Natureza...

No bougainvíllea, em brácteas coloridas,
O rude espinho impõe sua presença
Pra defender a Vida; e que Ela vença
Também na rosa, em nuanças protegidas.

Meu bem-te-vi chegou, e muito bem;
Desperta, alegre, a nova passarada
Que se constrói, abrindo uma alvorada
Que se levanta e faz-me ver além...

O sabiá me toca fundo o peito
Ressoa triste em mim sua flauta doce;
Chama minh´alma como se ela fosse
A amada sabiá chamada ao leito...

Assim eu vivo, amigo, docemente,
Com tudo à minha volta, e pra que mais?
Encantos muitos, brisa, sol e paz,
E a lua branca surgindo calmamente...

Se quer saber, acaso, do meu bem,
Ele se foi, e ainda não voltou;
Quem sabe volte e veja o que deixou:
Este vazio imenso de ninguém...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

quinta-feira, 6 de maio de 2010

De Repente...



















Não importa que o sol se tenha ido.
Ele vai, mas retorna logo, em breve,
Que sem ele viver ninguém se atreve,
Longe dele o perdido é mais perdido...

E se a chuva cair num tom sofrido,
Tanto faz seja muita ou seja leve,
Molha a alma , gelada como neve,
Faz doer coração desprotegido...

Assim é, dentro em pouco não é mais,
Belas rosas abertas para o sol
Ficam feias, se a água for demais...

Mas se as mãos, orientadas por farol,
Perfumarem desejos de ter paz,
Rosas tristes rirão ao arrebol!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Saudade do Piuííí




















Lá longe, onde o passado jaz perdido
Sempre via um alegre trem passar
Deixava som saudoso ao meu ouvido
Um gostoso "piuííí" solto pelo ar...

A criançada, olhar embevecido
Aplaudia o trenzinho em seu cantar
"Piuííí, Piuííí!", um eco repetido
Até sumir sua imagem devagar...

No relembrar de dias tão distantes,
Fica-me uma tristeza acre e sem fim
Jamais verei "piuííís" como vi antes...

Um trem desliza e corre pelo chão
Circula e encanta todos, não a mim,
Porque não traz "piuííí" ao coração!...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

terça-feira, 4 de maio de 2010

Caminhos do Meu Tempo






















Se quero percorrer sábias estradas
E dar aos meus minutos rico fim
O que eu puder andar dentro de mim
Eu andarei... Por trilhas e quebradas...

Caso eu cruze com rosas maltratadas
E encontre sem olor cada jasmim,
Hei de buscar saber por que é que vim
Pousar meus pés em rotas desbotadas...

Após a tempestade vêm as cores
Dispersas no arco-íris da ilusão
E no doce perfume de mil flores...

Que das copiosas chuvas de verão
Revelem-se das matas os verdores
E os meus becos em luzes se abrirão!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Voo do Sabiá


























Um dia triste sabiá,
Sozinho no seu cantar,
Fez pouso na laranjeira
E no seu galho entoou
Um canto que emocionou
A galhada quase inteira...

Um belo canto de amor,
Tão triste e cheio de dor,
Que a laranjeira chorou
Soluços dentro de bolhas,
Entristecendo suas folhas
De tanto que soluçou...

E aquele canto sangrado,
De um amor abandonado,
Encontrou belo sorriso
Num sabiá visitante,
Peito terno e voo errante,
Que chegou com o seu riso...

E os sabiás, lado a lado,
Cantavam seu canto atado
Em solfejos preciosos,
Em carinhos tão macios
Quais chuvas beijando os rios
Em leitos maravilhosos...

Mas se em tudo há um começo,
Ainda que haja apreço,
Na outra ponta é o final...
E o sabiá seresteiro,
Que fez o pouso primeiro,
Disse adeus num madrigal...

Tomou da sua tristeza,
Fez acordes de beleza,
Com rara preciosidade,
E à laranjeira ofertou.
Pro sabiá que ficou,
Ofereceu sua saudade...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

domingo, 2 de maio de 2010

As Duas Irmãs



























Duas fadas vivas iluminam a tela
Em semitons e tons dos mais vibrantes
Numa obra-prima a projetar quem antes
Viu desbotar, no tempo, o brilho dela.

Obra guardada, mas que então revela
O reflorir das flores, dois instantes,
Duas irmãs, mimosas de semblantes,
Nuanças de azul e rosa em aquarela.

Um ar vaidoso em rendas azuladas,
Enquanto as róseas trancam um chorar,
Mas todas lindas tintas matizadas...

Duas meninas, sempre a perfumar
O jardim de fragrâncias aspiradas
Na galeria eterna de Renoir!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sábado, 1 de maio de 2010

Migalhas



















Por tanto amar, ah... quanto o ser se humilha,
E fica à espera do que não lhe vem,
Imaginando ter o que não tem,
Um náufrago buscando ansiada ilha...

A vida lhe parece uma armadilha...
Ao mendigar ter perto um certo alguém,
Não tem quem quer, e fica sem ninguém,
Subjugado a um amor ao qual se encilha...

Se amor são iguarias sobre toalhas
Que ostentam primorosa refeição,
Por que só restos vis te caem às malhas?

Somente os enjeitados saberão
O que é amar vivendo de migalhas,
Pois, como tu, já fui de alguém um cão!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Impossível Sonho




















Em criança, sonhei um sonho imenso
Nas cores que enfeitavam meu jardim;
Veio o vento e soprou, longe de mim,
O que eu sonhara em brilho tão intenso...

Sonhei só um sonhinho... bem menor,
Talvez um grande eu não pudesse ter...
O tempo desandou o meu querer,
Vedou-me o sonho, e aí eu vi melhor...

... Que o sonho é fantasia da esperança,
É vôo rente ao chão, a decolar...
É flor que dá perfume devagar...
É espera que se esforça, e não alcança...

Pra tudo há um tempo nesta Vida,
Que pode ir além do que bem vejo;
Quem sabe o maturar do meu desejo
Repouse em cada noite que é dormida?...

O sonho pode estar bem ao meu lado,
Vestindo cada dia que amanhece...
Ou mesmo quando o sol desaparece...
Na lua e em seu luar enluarado...

Sonhar é bom, afaga o coração...
Sonhar é bem possível, eu o sei...
Mas realizar meu sonho, o que sonhei,
Voa nas asas brancas da ilusão!...
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Um Homem Diferente


























Um homem sem riqueza; é o que ele é.
Sem títulos quaisquer, sem fino trato;
Que faz da não-violência a sua Fé;
É flor que emerge, linda, em meio ao mato!

Franzino corpo em gigantesca alma;
Palavra rica da garganta alçada;
Sábio silêncio, uma oração que acalma;
Pés com poeira marchando em alva estrada.

Grande desejo de unir as nações;
Busca incessante por sublime PAZ;
Afago sempre meigo aos corações;
Canção eterna a se calar jamais!

Da análise dos fatos pela história,
Emergem sua figura e o seu exemplo,
Envoltos no revés de uma memória:
Tosca veste abraçando um corpo-templo.

Do sangue que escorreu, e ainda escorre;
Do confronto brotando o ódio e o medo,
Ele tombou; um pacifista morre,
Mas deixa viva a luta sem segredo.

Unido a todos, muitos desiguais,
Sublime num Amor que Amor expande,
Repousa no Infinito e nos anais
O Pequeno Grande Homem que foi Gandhi!
Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Letras em Poesia


























Deixar-se, apenas, levar
Pelo calor da emoção
Do vento, leve, a soprar
Assovio ao coração

Deixar-se sonhar, apenas,
À visão da clara lua
E estrelas lembrando cenas
Que trazem saudade crua

Deixar-se, apenas, deixar-se
Flutuar pelo arvoredo
Usando nenhum disfarce,
Sem amarra nem segredo

Deixar-se amar e sentir
O sol dourado e macio
Bordando com seu sorrir
As ternas águas do rio

Deixar-se cair no mar
E nadar o pensamento
E quando à costa voltar
Pensar um novo momento

E o olhar... deixar pousar
Na flor linda e amanhecida
Perfumando o nosso amar
Enchendo de cor a vida

Deixar-se, com ousadia,
Fazer das letras paixão
Que da lágrima irradia
Chuva fazendo oração

Cantar e amar é preciso
Diz a letra do poeta
E da dor fazer sorriso
Na poesia que completa!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli