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segunda-feira, 8 de março de 2010

Sacerdócio

Apartar-se do mundo em seus ruídos
Transitar por vielas no horizonte
Sentir-se apenas ponte num desponte
De exuberantes quadros escondidos.

Voar nas asas mansas dos sentidos
Beber das emoções mais que se conte
Da Vida, em sua eterna e bela fonte,
Nas letras dos poetas comovidos.

Desencaminho as rotas da razão
E faço o verso tenso soluçar
Seus choros no compasso da emoção.

Sagrada Vida, meu sublime altar,
Pra ti eu deposito, em devoção,
Versos que ao coração deixo sangrar...

Cartas de Alforria

Escritos de Regina Coeli


Quimera

À tarde, quando o sol em despedida
Beija a faceira lua, apaixonado,
Quisera estar com ela, lado a lado,
Amando-a sem chegada nem partida...

A lua, meigamente enlanguescida,
Se mostra ao sol em branco perolado,
Quisera tê-lo em céu bem estrelado
E só a ele amar por toda a vida...

Destino traiçoeiro, quem traçou?
Negar amor a amantes no infinito
Somente nega quem jamais amou...

Ardeu paixão o sol, raiando em grito
Na luz que a amada lua então gestou,
Parindo o seu luar, manso e bonito!

Cartas de Alforria (
Escritos de Regina Coeli)

Revelação

Se o tempo me guardou pra um só instante
Do qual minh´alma, sábia, se afastou,
Desato-me daquele que me atou
E faço do meu corpo o teu amante.

Passeio em ti de um jeito apaixonante,
Revelo os meus contornos no que sou;
Instigo-te a um prazer que sazonou
Na espera, e hoje me faz doce bacante.

E com meus pés, caminhas meus caminhos,
Abres clareiras pra tua luz passar,
E vens, ó meu farol, luzir meus ninhos...

No teu suor, essência a perfumar,
Eu lavo as mãos e dedos tão sozinhos
E mato em ti a sede de me amar!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

domingo, 7 de março de 2010

Entrega

Sou eu o que buscavas e não vinha?
Sou eu a te envolver no meu afago,
Sensual lua a beijar águas do lago
Em que se banha e onde se faz rainha?

Sou eu o passo em que teu ser caminha?
O vinho, teu regalo a cada trago?
Sou teu prazer até num beijo pago?
Feitiço que enfeitiça e desalinha?...

Se sou aquela que chegou agora
Toda envolta em essência de jasmim,
Cheirando a novo tempo e nova hora...

Eu fico, amor, contigo eu fico, sim...
Mas se não sou, oh! deixa-me ir embora,
Chorar num canto o que sobrar de mim!

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

sábado, 6 de março de 2010

No tempo dos Quintais

Estão lá, penduradas no varal,
Roupas a balançar alegremente
Os sonhos que corriam para a frente,
Sacudindo a poeira do quintal...

E nas risadas frouxas, sem igual,
De um tempo a beliscar a minha mente,
Eu sinto o que me falta de contente
No hoje sem folia que faz mal...

Eu visto aquelas roupas tão clarinhas,
Lavadas por mamãe com tanto amor
E dispo as encardidas nódoas minhas...

O que ficou lá atrás, seja o que for,
Esvoaçando nas cordas menininhas,
Foi a alegria que hoje veste dor...

Cartas de Alforria
Escritos de Regina Coeli

Rotas do Amor


Desgovernei meu barco em alto-mar,
Meu leme se partiu qual ilusão...
Ficou sem o convés meu coração,
Não mais apreciando o que é amar...

As águas majestosas, de um bailar,
Quedaram sobre mim em turbilhão...
E o pensamento, um dia firme e são,
Já não sabia mais o que pensar...

Há vagas e buracos entre as águas,
Perigos que a paixão não deixa ver
E, sorrateira, vem tornar em mágoas...

Se é fato que tu és meu bem-querer,
Por que, paixão de mim, em mim deságuas

A desorientação do meu viver?

Cartas de Alforria
Escritos de Regina coeli

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Barquinha do Paulinho

Imitando a invenção,
Navegando a alegria,
Ela trazia emoção
E todo mundo sorria...

O tanque cheinho d´água,
Todos juntos, bem juntinho,
Espera sem mal e mágoa,
Pra viver um momentinho...

E lá vem mano Paulinho
Conduzindo o seu tesouro
Não era dono, sozinho,
Daquele brinquedo de ouro...

A platéia, embevecida,
Feliz, tudo acompanhava,
Em cada emoção sentida,
Cada um dono se achava...

Um chumaço de algodão
Em álcool bem embebido
Fósforo aceso e a explosão
Em gritos ao som ouvido...

E, Paulinho, sorridente
Acompanha a sua nau
Aplausos de toda a gente
Que momento especial!

Nas águas, a embarcação:
Linda, bela e majestosa,
Navegando a ilusão
De uma vida cor-de-rosa...

No ronco de seu motor
A barquinha da pureza
Beijava as águas com amor
E toda a delicadeza...

Infância de quatro crianças...
... Paulinho tinha a barquinha
Que levava as esperanças
De mais três numa voltinha...

Meio século é passado
E a barquinha não morreu!
Paulinho, aqui do meu lado,
(Navegando... Relembrando...)
... Ele, a barquinha e mais eu!

Escritos de Regina Coeli Rebelo Rocha
Cartas de Alforria